EUA proíbem 'Cem Anos de Solidão' por conteúdo sexual em meio à campanha ideológica
Além da obra de Gabriel García Márquez, outros quase 4.000 livros foram removidos das escolas durante ano letivo de 2024-2025, segundo PEN America
Os Estados Unidos proibiram o livro Cem Anos de Solidão, obra prima do Nobel colombiano Gabriel García Márquez, nas escolas públicas em um movimento massivo de censura documentado pelo novo relatório da PEN America, uma organização sem fins lucrativos dedicada aos direitos humanos e à literatura. A obra é apenas uma entre as milhares que têm sido banidas das instituições educacionais do país sob o argumento da necessidade de proteger os menores de “temas não apropriados”.
A PEN America revelou no início de outubro que quase 4.000 títulos exclusivos foram removidos de escolas durante o ano letivo de 2024-2025. O estudo, intitulado “A normalização da proibição do livro”, alerta que a censura no sistema educacional se tornou uma prática “sistemática e coordenada” em todo o país.
De acordo com a organização, 6.870 casos de censura em livros foram registrados em 23 estados e 87 distritos de escolas públicas em um ano. Já desde 2021, foram mais de 22.800 restrições em 45 estados. Essas proibições incluem desde vetos totais até limitações por série escolar e a exigência de autorizações especiais para acessar determinados textos.
“Uma perturbadora ‘proibição diária’ e normalização da censura piorou e se espalhou nos últimos quatro anos. O resultado é sem precedentes”, disse Kasey Meehan, diretora do programa Freedom to Read da PEN America.
Além de García Márquez, a lista de autores censurados inclui grandes nomes da literatura. Foram alvo de proibições títulos de Isabel Allende (A Casa dos Espíritos), Stephen King, Sara J. Maas e Ray Bradbury (Fahrenheit 451), assim como a adaptação gráfica do Diário de Anne Frank, retirada das escolas do Tennessee.

Gabriel García Márquez, Nobel colombiano, teve sua obra Cem Anos de Solidão censurada nos Estados Unidos
Reprodução/Biografias y vidas
A organização destaca que essas decisões não são baseadas em critérios pedagógicos, mas sim em uma “campanha ideológica” que busca limitar o acesso a obras que abordem temas como diversidade racial, identidade de gênero, migração, sexualidade e direitos da comunidade LGBTQI+.
“Nunca antes tantos estados aprovaram leis ou regulamentos para facilitar a proibição de livros, incluindo proibições de títulos específicos em todo o estado”, disse o relatório. “Nunca antes tantos políticos procuraram intimidar os líderes escolares para que censurassem de acordo com suas preferências ideológicas, até mesmo ameaçando o financiamento público para exigir o cumprimento. Nunca antes o acesso a tantas histórias foi roubado de tantas crianças.”
De acordo com a PEN America, sob a administração do presidente de extrema direita Donald Trump em 2025, o governo federal emergiu como um novo “vetor” para campanhas de proibição de livros em todo o país por meio das ordens executivas. Embora as medidas não visem especificamente os livros, elas ameaçam reter o financiamento federal das escolas que “[imprimem] ideologias antiamericanas, subversivas, prejudiciais e falsas nas crianças de nossa nação”.
Os estados norte-americanos com o maior número de casos são a Flórida, com 2.304 livros removidos, seguida pelo Texas, Tennessee e Pensilvânia. A PEN America alerta que outros estados, como Michigan e Minnesota, podem seguir o exemplo nos próximos meses. Com essa crescente onda de censura, o relatório conclui que os Estados Unidos estão enfrentando uma crise sem precedentes em seu sistema educacional.























