Venezuela chama presidente da Guiana de ‘Zelensky do Caribe’ após ‘provocações’ sobre Essequibo
Irfaan Ali declarou que navios venezuelanos estariam violando território guianês, mas Caracas defendeu que zona marítima está ‘pendente de delimitação’; países disputam território rico em petróleo
O governo da Venezuela denunciou, no último sábado (01/03), as mais recentes declarações do presidente da Guiana, Irfaan Ali, sobre o território disputado de Essequibo como “provocações perigosas” e “declarações infundadas”, chamando o mandatário vizinho como “o Zelensky do Caribe”.
“Irfaan Ali pretende se apresentar como o Zelensky do Caribe para gerar um conflito em nossa região por meio de provocações perigosas. A Venezuela repudia categoricamente as declarações infundadas de Ali”, disse um comunicado de Caracas, divulgado pela vice-presidente do país, Delcy Rodríguez.
Ver essa foto no Instagram
As autoridades venezuelanas denunciaram que o mandatário guianês “mente descaradamente ao afirmar que unidades da Marinha venezuelana estão violando o território marítimo” de seu país.
“As declarações de Irfaan Ali, o Zelensky do Caribe, estão cheias de imprecisões, falsidades e contradições, em seu desejo de perturbar a paz e a tranquilidade de nossa região, semeando um perigoso conflito”, declarou o documento, referindo-se ao interesse do presidente ucraniano na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), um dos principais motivos que gerou a guerra contra a Rússia.
Segundo o comunicado, a região que os navios venezuelanos ocupam não faz parte do território guianês, mas sim “uma zona marítima pendente de delimitação segundo o Direito Internacional”.
“É inadmissível e constitui uma grave violação do Direito Internacional que a Guiana disponha de um território sobre o qual existe uma controvérsia e, pior ainda, conceda concessões ilegais para a exploração de recursos energéticos em um mar pendente de delimitação”.

Presidencia Venezuela/Fotos Públicas
Aprovação de referendo na Venezuela para a incorporação de Essequibo, em dezembro de 2023
O governo do presidente Nicolás Maduro também afirmou que as declarações de Ali “respondem aos interesses bélicos” da empresa petrolífera norte-americana ExxonMobil e figuras “patéticas” da direita e do neoliberalismo latino-americano como Luis Almagro, secretário-geral das Organização dos Estados Americanos (OEA), e o ex-presidente da Colômbia Iván Duque (2018-2022).
O documento exigiu que a Guiana “deixe de esquivar-se” de um acordo diplomático sobre a região e “cumpra com seus compromissos de buscar uma solução negociada, pacífica, prática e satisfatória para ambas as partes”.
“Diante das ameaças de conflito lançadas pelo Zelensky do Caribe, em cumplicidade com sua rede internacional de guerra do Norte global, a Venezuela denuncia essa agressão e ratifica que implantará sua diplomacia com firmeza em defesa da paz, da soberania e da dignidade de seu povo”, conclui o governo Maduro, ao anunciar a convocação imediata do Mecanismo de Argyle, acordo alcançado em dezembro de 2023 entre Guiana e Venezuela, para resolver a situação por meios diplomáticos.
Disputa territorial
Alvo de uma controvérsia que remonta ao século 19, o território de Essequibo voltou a ser reclamado pelo governo da Venezuela em 2023. Em dezembro daquele ano, os eleitores venezuelanos aprovaram, em referendo, a incorporação de Essequibo, que soma 75% da atual Guiana.
O território de 160 mil km² com uma população de 120 mil pessoas é alvo de disputa pelo menos desde 1899, quando esse espaço foi entregue à Grã-Bretanha, que controlava a Guiana na época. A Venezuela, no entanto, não reconhece essa decisão e sempre considerou a região “em disputa”.
Em 1966, as Nações Unidas intermediaram o Acordo de Genebra – logo após a independência da Guiana –, segundo o qual a região ainda está “por negociar”. Existem estimativas que a região dispõe de bilhões de barris de petróleo.
Em 15 de dezembro de 2023, os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e da Guiana, Irfaan Ali, se comprometeram a não usar a força um contra o outro para resolver a controvérsia.
(*) Com Agência Brasil























