Organização africana denuncia 'manobras coloniais' em tentativa de conter levante no Níger
Organização dos Povos da África Ocidental acusa participação ocidental em ameaças de intervenção militar externa após rebelião que tomou o poder no país
A Organização dos Povos da África Ocidental (Wapo) divulgou nesta quarta-feira (02/08) um comunicado denunciando “manobras coloniais” da França e do Reino Unido nas decisões da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) e da União Econômica e Monetária da África Ocidental (Uemoa) sobre a situação no Níger, país que recentemente passou por um processo de levante anti-Ocidente.
Países da Cedeao e da Uemoa ameaçaram enviar forças militares para Niamei caso a junta militar responsável pelo levante não reestabeleça o governo do presidente deposto, Mohammed Bazoum, e a Constituição do país, até a próxima sexta-feira (04/08).
Por sua vez, a Wapo, que se identifica como uma “plataforma anti-imperialista de organizações populares progressistas de toda a África Ocidental” se opôs “veemente a este ultimato”.
“Esta decisão nada mais é do que uma manobra da França colonial e da Grã-Bretanha, sob a hegemonia do imperialismo norte-americano, para recorrer à intervenção armada com o pretexto de restaurar a democracia e os direitos humanos no Níger”, denuncia.
A organização acredita que além do Reino Unido e da França, os Estados Unidos e Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) “serão os atuais beneficiários de qualquer guerra no Níger” e que, caso isso aconteça, a dignidade do povo nigerino e a soberania de seu país “sairão perdendo”.
A organização anti-colonial também informa que a ameaça é “um pretexto para levar a cabo os planos imperialistas de manter o Níger (rico em recursos minerais, sobretudo urânio e hidrocarbonetos) continuamente no redil imperialista”, ressaltando o passado da França como principal saqueador das riquezas nigerinas, durante as décadas em que colonizou o país.
A Wapo se referiou ao deposto presidente Bazoum como “subserviente às potências imperialistas”, destacando seu governo como “personalista e autocrático, resultando na negação do direito à liberdade de expressão, na suspensão das liberdades civis e no enfraquecimento desenfreado da oposição nacional”.

Twitter/Asamblea Internacional de los Pueblos
Níger passou recentemente por um processo de levante anti-Ocidente, em especial contra a França
O grupo também expressa preocupação com o aumento da insegurança no país, aspecto que uma possível intervenção militar externa poderia agravar, em uma região já dominada por milícias jihadistas e outros grupos armados.
Por fim, a Wapo exorta a Cedeao a “atuar com cautela, recorrer à diplomacia e a utilizar fundos destinados a intervenções fúteis, para apoiar o desenvolvimento nacional e a integração harmoniosa da África Ocidental”. Ao mesmo tempo, exigiu que as bases militares “imperialistas e neoconservadoras” que estão na África Ocidental sejam retiradas.
O que aconteceu no Níger?
Na última semana, um grupo de militares sequestrou o agora ex-presidente do Níger, Mohamed Bazoum. Pela parte da noite, realizou uma transmissão em rede nacional, de dentro do palácio presidencial, para anunciar que estava tomando o poder no país.
A transmissão durou pouco mais de quatro minutos e mostrou dez membros do grupo militar insurgente, liderados pelo coronel major Amadou Abdramane, que leu o comunicado para a nação. Segundo a imprensa local, também foi ele quem comandou a operação que resultou no sequestro de Bazoum.
Segundo Abdramane, o grupo agiu em função da “necessidade de colocar fim ao regime que vem deteriorando a segurança e as instituições do país”, denunciando assim as influências imperialistas no país.
Durante o comunicado, o líder insurgente admitiu que seu grupo não contava com o apoio do alto comando das Forças Armadas, mas sim do general Omar Tchiani, que era chefe da guarda presidencial do Níger e foi demitido por Bazoum antes do levante.
Contudo, Abdramane assegurou que as Forças Armadas nigerinas acabaram entregando seu apoio ao grupo pouco antes de ele decidir fazer a transmissão, e que tal medida teria sido o elemento que consolidou o fim do governo de Bazoum.























