Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Há 30 dias está em vigor o acordo de cessar-fogo assinado entre Israel e Líbano, mas a tensão está longe de ter se dissipado: calcula-se que, desde 26 de novembro, o regime sionista tenha violado a trégua entre as partes mais de 800 vezes, com incursões militares por terra e ar.

Como em tantas outras oportunidades nas últimas semanas, na última quinta-feira (26/12), o governo libanês voltou a denunciar agressões israelenses em diversos pontos ao sul do país. O jornal libanês L’orient Le Jour confirmou que dezenas de soldados e veículos blindados penetraram na reserva de Wadi al-Hujair.

Esse local ganhou notoriedade, em 2006, por sediar um duro confronto entre o Hezbollah e tropas israelenses, com a milícia xiita impedindo o avanço de modernos tanques Merkava e frustrando a tentativa de seus inimigos em ocupar a região.

Nikolas Kosmatopoulos, professor de antropologia e política da Universidade Americana de Beirute (AUB), relatou a Opera Mundi que essa conduta de Israel não é inédita. “Israel violou o cessar-fogo várias vezes”, disse. “Mas é isso que Israel faz, e o que fez também em 2006. Tentam alcançar, sob a proteção do cessar-fogo, o que não conseguiram alcançar através da guerra aberta. Avançam ao sul para tentar roubar mais território.”

Moradores de Beirute comemoram cessar-fogo na Corniche, na capital, no final de novembro

Nos termos do acordo em vigor, as tropas israelenses deveriam gradualmente se retirar do Líbano, nos 60 dias seguintes à assinatura do pacto com Beirute, enquanto o Hezbollah deveria se deslocar para o norte do rio Litani, abrindo uma faixa de segurança, desse rio até a fronteira com Israel, que deveria ser controlada pelo Exército libanês.

Para Kosmatopoulos, no entanto, os termos do acordo não são factíveis. “O Exército libanês, infelizmente, não tem condições de defender o Líbano porque foi subfinanciado e sabotado”, afirmou. “Muito se fala sobre a influência iraniana no país, mas quase nada sobre o fato de que grande parte de seu financiamento militar vem dos Estados Unidos, afetando sua soberania e estabilidade.”

O professor Nikolas Kosmatopoulos apontou que as violações de Israel são constantes, mesmo com cessar-fogo

O professor explicou à reportagem de Opera Mundi que é também virtualmente impossível uma retirada completa do Hezbollah pelos laços do grupo com a população daquela região. “O Hezbollah é parte do povo do sul, o povo do sul é o Hezbollah”, explica.

Além dos avanços na zona meridional, as forças israelenses voltaram a realizar, no último dia 25, ataques aéreos contra o Vale do Beca, situado a apenas 30 quilômetros de Beirute, que também vive sob frequentes sobrevoos de drones.

Questionado sobre o futuro do cessar-fogo, Kosmatopoulos se mostrou cético. “Não estou nada otimista”, declarou a Opera Mundi. “Essa guerra confirmou a descrição de Israel feita pelos movimentos de resistência: um Estado que não respeita o direito internacional e ataca organizações humanitárias. A única maneira da região se libertar, encontrar a paz e ter desenvolvimento é se livrando do sionismo.”

Regiões destruídas após bombardeios israelenses no Vale do Bekaa durante a guerra