Sábado, 6 de dezembro de 2025
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No dia 16 de outubro de 1978, uma fumaça branca sai pela chaminé Vaticano. Após dois dias de reclusão e oito rodadas de votação, os cardeais reunidos em conclave na Capela Sistina elegem o 264º sucessor de São Pedro à frente da Igreja Católica. 

Um cardeal proclama “Habemus papam” e anuncia o nome do novo papa à multidão concentrada na Praça São Pedro. Após instantes de silêncio, o grito ecoa pelos ares: “È il Polacco!”.

A surpresa é enorme. O eleito tinha apenas 58 anos e não era italiano. O último não-italiano havia sido o holandês Adrian Florisce, papa Adriano VI, em 1522. O novo papa era o arcebispo da Cracóvia, Karol Wojtyla.

Nasceu em 18 de maio de 1920, em uma modesta família. Seu pai era capitão, sua mãe, beata e seu irmão uma aspirante a médico. Vocacionado para estudos literários, passa a escrever e se dedicar ao teatro. 

Quando, em 1939, seu país é invadido pelos alemães, vai trabalhar em uma indústria química e, depois, em uma pedreira. Ingressa no seminário clandestino do cardeal Adam Sapieha em outubro de 1942. Recebe as ordens sacerdotais e em 14 de junho de 1948 obtém o título de doutor em Teologia.

Em 1958, torna-se bispo auxiliar de Cracóvia. Participa ativamente do Concílio Vaticano II e é nomeado, em 1964, arcebispo de Cracóvia. Em 26 de junho de 1967 é ungido cardeal pelo papa Paulo VI. 

Desconhecido fora da Polônia, Karol Wojtyla é apreciado em seu país pela sensibilidade nas relações humanas, por sua coragem e também por seu vigor físico. Era grande esportista, praticante de caminhadas, de alpinismo e de esqui.

João Paulo II foi o primeiro não-italiano a comandar a igreja católica desde o século XVI

Paola Orlovas

No dia 16 de outubro de 1978, uma fumaça branca sai pela chaminé Vaticano

Wojtyla adota o nome de João Paulo II em homenagem aos seus dois predecessores, que concretizaram o Concílio Vaticano II – João XXIII e Paulo VI. Dono de alta popularidade, o novo papa conduziu os poloneses e outros povos da Europa Oriental a se sublevar contra o comunismo por meio de lemas como “Não tenham medo”.

Em 13 de maio de 1981, o soberano pontífice é vítima de um atentado na Praça de São Pedro, em Roma – obra de um jovem fanático turco, Ali Agca. João Paulo II sobrevive ao atentado, mas fica debilitado. Percorre o mundo como nenhum papa antes dele, pregando a insubmissão e a justiça. Cumpriu 104 viagens e visitou 129 países no curso de seus 27 anos de pontificado.

Após a implosão do sistema socialista europeu, o papa se colocou como guardião dos dogmas eclesiásticos ao mesmo tempo em que demonstrava o arrependimento pelos erros cometidos no passado. 

Na sinagoga de Roma e em Jerusalém, diante do Muro das Lamentações, dá início a uma espetacular reconciliação com os representantes do judaismo. Reabilita Galileu Galilei, uma das vítimas da Santa Inquisição, e se aproxima das Igrejas Ortodoxas Russa e Grega.

Isto não impede que a Igreja Católica veja sua influência diminuir em todo o mundo. Passa a receber uma severa concorrência na América Latina e na África, principalmente, das igrejas evangélicas de inspiração norte-americana. É percebida também como rival pelo clero ortodoxo eslavo.

Na década de 1990, mesmo diante dos primeiros sinais de Parkinson, suscita o entusiasmo da juventude católica ocidental por meio das Jornadas Mundiais da Juventude. A principal desilusão do papa estava no lento suicídio da cristandade europeia. A Europa representa cerca de um quinto do bilhão de pessoas de tradição católica e um quarto dos 1,8 bilhão de cristãos.

Muitos europeus, ateus, protestantes ou de tradição católica avaliam positivamente os apelos do papa a uma moral sexual fundada no amor e na fidelidade, mas não hesitam em atribuir-lhe responsabilidade pela propagação da aids entre os fieis que, obedecendo à orientação papal, se recusavam a usar o preservativo.

Sua morte em 2 de julho de 2005, e seus funerais, em 8 de abril, foram seguidos ao vivo pelos meios de comunicação do mundo inteiro e levaram à comoção milhões de fieis. Até em sua morte, João Paulo II juntou multidões e suscitou o fervor religioso como nenhum papa antes dele.

Desta vez, sem qualquer surpresa, seu mais próximo colaborador foi eleito pelo colégio de cardeais. Tratou-se ainda uma vez de um não-italiano, o alemão Josef Ratzinger,de 78 anos, que subiu ao trono de São Pedro com o nome de Bento XVI.