Sexta-feira, 12 de dezembro de 2025
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Em 26 de agosto de 1966, o presidente, ou “rais”, egípcio Gamal Abdel Nasser decide mandar enforcar Sayyid Qutb, o ideólogo da Irmandade Muçulmana, que viria a ser executado três dias depois.

Era a ruptura entre os jovens oficiais que haviam destronado a monarquia em 1952 e a confraria integrista que lhes havia dado seu apoio. A Irmandade Muçulmana desde então não cessaria de se opor ao Exército e aos dirigentes que se colocaram à frente do Egito.

Precursora dos movimentos islamitas do final do século 20, a confraria da Irmandade Muçulmana foi fundada em março de 1928 em Ismália, por um professor primário de nome Hassan Al-Banna, 26 anos. Ele ambicionava instaurar nos Estados árabes um regime teocrático alicerçado sobre o Corão e a ‘sharia’ — a lei islâmica.

Atribuiu-se como missão essencial converter as massas muçulmanas ao modo de vida e aos princípios morais dos primeiros crentes, tal como ele os imaginava.

Esses ancestrais — “salaf” em árabe — eram os discípulos de Maomé e os crentes de duas gerações subsequentes. Nos anos 1980, iriam emprestar seu nome aos movimentos terroristas ‘salafitas’ nascidos no seio da Irmandade Muçulmana.

Ao assumir o poder no Egito, Gamal Abdel Nasser havia tentado se aproximar do grupo islamita; Qutb chegou a ficar dez anos preso antes de ser enforcado

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Sayyid Qutb, ideólogo radical da Irmandade, foi executado aos 60 anos, tendo passado dez anos preso

Após a Segunda Guerra Mundial, a confraria já reunia mais de dois milhões de partidários no Egito. Ela está também presente nos países árabes vizinhos, como a Palestina e a Síria.

Transgredindo as consignas de moderação do Guia Supremo Hassan Al-Banna, certos militantes entram na ação clandestina. A violência culmina com o assassinato do primeiro-ministro, Mahmoud an-Nukrashi Pash, em dezembro de 1948. 

Segue-se uma violenta repressão e Hassan Al-Banna é por seu turno também assassinado em 12 de fevereiro de 1949 pela polícia secreta do regime. Pouco depois, o governo corrupto do rei Faruk (1936-1952) decreta a proibição da confraria.

Governo Nasser

A Irmandade passaria desde então a apoiar sem reserva os “oficiais livres” que se apressavam em derrocar a monarquia. Uma vez no poder, Nasser restabelece os direitos da Irmandade Muçulmana e tenta atrai-la para o seu partido e o seu governo. 

Todavia, a lua de mel dura pouco. A confraria islamita entra em choque com o regime nacionalista, laico, pan-árabe e socialista de Nasser, quem, por sua vez, em 4 de janeiro de 1954 decide proibi-la.

Segue-se uma onda de repressão com milhares de prisões e dezenas de execuções. Os bens da confraria são sequestrados. A repressão culmina com a execução, em 1966, de Sayyid Qutb, 60 anos, ideólogo radical da Irmandade, quem já havia passado dez anos em prisão.

O sucessor de Nasser, Anwar el Sadat, quem, ele mesmo, havia pertencido em sua juventude à Irmandade Muçulmana, é assassinado em 6 de outubro de 1981 por dissidentes salafitas do movimento que queriam punir o ‘rais’ por ter feito a paz com Israel.

Hosni Mubarak, quem substituiu Sadat na chefia do Egito, autoriza o funcionamento da confraria, apenas na condição de associação civil, não partidária.

Os Irmãos Muçulmanos ganham em parte a simpatia das massas graças as suas ações beneficentes financiadas por generosas doações dos países petroleiros do Golfo Pérsico. A Irmandade Muçulmana ganha de resto terreno no Oriente Médio e na Tunísia, onde suscitaram a criação do partido Ennahda.

Também nesta data:

1723 – Morre o microbiologista Anton van Leeuwenhoek
1907 – Houdini se livra de algemas dentro de tanque d'água
1978 – Começa o breve papado de João Paulo I

(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.