Trump retira os Estados Unidos da Unesco
Agência 'se preparou para isso' com reformas estruturais e reduziu sua dependência de Washington, afirma diretora-geral do órgão
Os Estados Unidos anunciaram nesta terça-feira (22/07) que deixarão novamente a Unesco, a agência das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. A medida é mais um movimento do presidente Donald Trump para reduzir a participação do país em organismos multilaterais.
“A Unesco trabalha para promover causas sociais e culturais divisivas e mantém um foco descomunal nos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, uma agenda ideológica globalista para o desenvolvimento internacional em desacordo com nossa política externa America First”, afirmou Tammy Bruce, porta-voz do Departamento de Estado norte-americano.
Esta é terceira vez que Washington abandona a agência, destaca The Guardian. Os EUA saíram pela primeira vez, em 1983, durante o governo Ronald Reagan, alegando viés antiocidental. Retornaram em 2003 com George W. Bush e voltaram a se retirar em 2017, no primeiro mandato de Trump, citando “atrasos crescentes e viés anti-Israel.
O jornal britânico também destacou a posição dos EUA e de Israel contra a admissão da Palestina como membro pleno da Unesco, em 2011. Na época, o governo Barack Obama suspendeu as contribuições, o que gerou forte endividamento americano com a agência. Sob Joe Biden, em 2023, o país voltou à Unesco, quitando cerca de US$ 619 milhões em dívidas atrasadas e retomando programas de educação, memória do Holocausto e segurança de jornalistas.
Agora, Trump reverte a decisão afirmando que a agência “falhou em se reformar”. A Unesco rebateu as justificativas de Washington: “razões são as mesmas de sete anos atrás”.
Resposta da Unesco
Em comunicado à imprensa, Audrey Azoulay, diretora-geral da UNESCO, lamentou ‘profundamente’ a decisão de Trump. Ela “contradiz os princípios fundamentais do multilateralismo” e afetará não apenas a organização, mas comunidades norte-americanas que buscam reconhecimento de Patrimônio Mundial, status de Cidade Criativa e programas acadêmicos vinculados às Cátedras Universitárias da Unesco, afirmou.

Agência ‘se preparou para isso’ e reduziu sua dependência de Washington, afirma Audrey Azoulay, diretora-geral da Unesco
Élisa Haberer / Ministério da Cultura e Comunicação da França
Azoulay garantiu que a agência está preparada para esse cenário e que a possibilidade de uma nova retirada vem sendo considerada desde o retorno dos EUA em 2023. “Por mais lamentável que seja, este anúncio foi antecipado e a UNESCO se preparou para isso”, afirmou Azoulay.
Nos últimos anos, afirma a nota, Unesco passou por reformas estruturais e diversificou suas fontes de financiamento, reduzindo a dependência de Washington. A parcela americana no orçamento total caiu para 8%, em comparação com os 40% destinados pelo país a outras agências da ONU.
O orçamento geral da Unesco, inclusive, tem aumentado. “Hoje, a Organização está mais bem protegida em termos financeiros, com o apoio constante de um grande número de Estados-Membros e contribuintes privados. Essas contribuições voluntárias dobraram desde 2018”, afirmou.
Azoulay disse não haver plano de demissões e garantiu que as atividades seguem em expansão. Entre as iniciativas recentes, ela destacou a reconstrução da cidade velha de Mossul, no Iraque, o desenvolvimento do primeiro instrumento global sobre ética da Inteligência Artificial (IA), e projetos de apoio cultural e educacional em zonas de conflito como Ucrânia, Líbano e Iêmen.























