Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Trabalhadores humanitários denunciam que apesar das permissões para a entrada de alimentos na Faixa de Gaza, Israel cria “novos obstáculos burocráticos” para impedir que ajuda humanitária chegue aos palestinos.

Segundo relatos de bastidores obtidos pelo jornal britânico The Guardian, as dificuldades criadas por Israel incluem o novo processo de registros para ONGs internacionais que desejam atuar no enclave palestino.

As organizações não pertencentes à Organização das Nações Unidas (ONU) devem se registrar no recém-criado Ministério Israelense para Assuntos da Diáspora e Combate ao Antissemitismo.

De acordo com o periódico, o processo do registro envolve que as ONGs enviem detalhes de identificação de seus funcionários palestinos, “o que a maioria se recusa a fazer por temer que isso tenha implicações para a segurança dos funcionários em Gaza e na Cisjordânia”.

Por medo, as organizações que não enviam os detalhes de identificação também não são registradas, e portanto, têm suas importações de ajuda humanitária “adiadas indefinidamente” pela alfândega de Israel.

As entidades que realizaram pedidos de esclarecimento à alfândega israelense, sobre quais produtos eram permitidos, por exemplo, não obtiveram nenhuma resposta, levando os funcionários humanitários a denunciar “uma política deliberada para tornar o envio de ajuda para Gaza o mais complicado possível”.

Em contato conjunto, as organizações descobriram alguns itens que Israel proibia: tâmaras e azeitonas eram “constantemente jogadas fora” sem nenhuma explicação. Frutas e vegetais com caroços ou sementes que poderiam ser plantadas também eram rejeitadas pelo bloqueio.

“As violações claras em Gaza têm um grande impacto na opinião pública, mas as violações de acesso via burocracia não têm o mesmo impacto nas pessoas, porque são tediosas e complicadas. Mas é isso que está impedindo a chegada da ajuda”, denuncia um agente humanitária em anonimato ao Guardian.

Além de denunciar bloqueio burocrático de Israel, agentes humanitários afirmaram que recentes permissões “estão muito aquém” do necessário
UNRWA/X

Medidas estão “muito aquém” do necessário

Além de denunciar o bloqueio burocrático de Israel, os agentes humanitários afirmaram que as recentes permissões “estão muito aquém” do necessário.

As permissões, que entraram em vigor no último domingo (27/07) em meio à intensa pressão internacional, envolvem pausas humanitárias diárias, lançamentos aéreos de ajuda e abertura de alguns corredores para que caminhões da ONU carregados de suprimentos entrem no enclave paletino.

“Esses são gestos simbólicos e teatrais, projetados para desviar o escrutínio. Estamos sendo bloqueados e atrasados a cada passo”, disse Bushra Khalidi, líder de políticas da Oxfam, citada pelo jornal The Guardian.

Segundo Khalidi, as necessidades dos palestinos “são exponencialmente maiores do que antes da guerra”, enquanto o acesso “é pior”.

“A fome não pode ser resolvida com 10 ou mesmo 300 caminhões. O que é necessário não são soluções fragmentadas, mas mudanças sistêmicas reais”, exigiu o trabalhador humanitário.

Já Nouraldin Alamassi, da equipe médica da ONG Projeto Esperança em Gaza, relatou que as notícias sobre a chegada de mais ajuda são apenas “na mídia”. “ A situação no local não mudou desde domingo. O suprimento de alimentos não chegou à população-alvo”, declarou ao periódico britânico.

O médico, que entregava aos seus pacientes “biscoitos de alto valor energético” para tratar a desnutrição, informou que não tem mais alimentos disponíveis e que crianças famintas continuam indo à sua clínica pedindo alimentos.