Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O governo Noboa enviou mais 5.000 militares para conter os protestos em meio à greve geral no Equador há mais de três semanas. Segundo a Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) o Executivo transformou a cidade de Otavalo — região histórica da resistência indígena no norte do país — em uma “zona de guerra”, após violentos confrontos entre forças de segurança e manifestantes nesta terça-feira (14/10).

Soldados e policiais dispararam munição real contra a população, lançaram bombas de gás e granadas de efeito moral dentro de casas e agrediram mulheres, crianças e idosos. O governo equatoriano alega a medida como necessária para “restabelecer a ordem e liberar as estradas bloqueadas”.

Segundo o balanço oficial, 43 pessoas foram detidas e seis agentes feridos no confronto; as organizações indígenas relatam mais de 50 feridos, alguns em estado crítico, e denunciam que o acesso aos hospitais está sendo impedido. Uma morte também foi registrada durante a repressão nesta terça (14/10).

A crise começou em 22 de setembro, quando o presidente equatoriano, Daniel Noboa, eliminou o subsídio ao diesel. O descontentamento generalizado contra a medida se soma a denúncias de violência estatal, expansão de concessões petrolíferas e de mineração e aumento da criminalidade, com registros de mais de 6.000 homicídios entre janeiro e agosto deste ano, informa El País.

‘Zona de guerra’

O conflito nesta terça-feira (14/10) começou pela madrugada, quando centenas de camponeses desceram das montanhas de Imbabura para reforçar os bloqueios na rodovia Panamericana. O objetivo era impedir a passagem de um suposto “comboio humanitário” anunciado pelo governo. A Conaie exige que apenas a Cruz Vermelha coordene corredores humanitários, sem a presença dos militares equatorianos.

Governo Noboa envia 5 mil militares para reprimir protestos no Equador
Marcelo Camargo / Agência Brasil

As Forças Armadas afirmaram que o comboio contava com observadores da Cruz Vermelha, o que a entidade nega. Durante o confronto, as forças de segurança voltaram a empregar gás lacrimogêneo e disparos ao ar contra manifestantes armados apenas com paus e pedras. O confronto durou mais de oito horas e incluiu agressões a jornalistas.

Segundo a TeleSur, dirigentes indígenas confirmaram a morte de Rosa Paqui Seraquive, idosa do povo Kichwa Saraguro, possivelmente asfixiada pelo uso excessivo de gás lacrimogêneo em território indígena. Horas antes, líderes da comunidade de Chachibiro, na província de Imbabura, haviam informado a morte do agricultor José Guamán, de 30 anos, baleado durante a incursão militar em Otavalo.

Posteriormente, a Fundação Regional de Assessoria em Direitos Humanos (Inredh) informou que Guamán sobreviveu, embora permaneça em estado crítico na UTI do Hospital San Vicente de Paúl, em Ibarra. Segundo familiares, ele chegou a ser declarado morto por alguns minutos antes de recuperar os sinais vitais.

A Conaie responsabiliza diretamente o governo pela escalada da violência. “Otavalo pede justiça e dignidade, e o mau governo responde com comboios cheios de morte e destruição”, afirmou a entidade ao denunciar o uso de agentes infiltrados entre os manifestantes e prisões arbitrárias de participantes pacíficos.