Com exceção dos EUA, conselho de Segurança condena 'ação humana' na fome em Gaza
Países reiteram conclusões do relatório da IPC negadas por Israel e afirmam: 'uso da fome como arma de guerra é claramente proibido pelo Direito Internacional Humanitário'
Os países-membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas, com exceção dos Estados Unidos, pediram nesta quarta-feira (27/08) o cessar-fogo “imediato, incondicional e permanente” na Faixa de Gaza.
Em declaração conjunta, 14 dos 15 países-membros do Conselho afirmaram que a fome em Gaza é uma “crise provocada pelo homem” e alertaram que “o uso da fome como arma de guerra é claramente proibido pelo Direito Internacional Humanitário. A fome em Gaza deve ser imediatamente interrompida”.
Eles expressaram um “profundo alarme e angústia” com os dados do relatório mais recente da Classificação Integrada da Fase da Segurança Alimentar (IPC), que confirma de forma “clara e inequívoca” a existência de fome na Faixa de Gaza e aponta que mais de 500 mil pessoas estão em ‘condições catastróficas’ de fome no território.
Em pronunciamento conjunto, as representantes de Guiana e Eslovênia, que atuam como pontos focais informais sobre conflito e fome no Conselho, deram voz às preocupações de outros doze países-membros: Argélia, China, Dinamarca, França, Grécia, Paquistão, Panamá, Coreia do Sul, Rússia, Serra Leoa, Somália e Reino Unido.
Relatório IPC
“Confiamos no trabalho e na metodologia do IPC. Todos os dias, mais pessoas estão morrendo em decorrência da desnutrição, muitas delas crianças”, afirmou Trishala Simantini Persaud, vice-representante permanente de Guiana. Ela alertou ainda que a fome pode se expandir para as regiões de Deir al Balah e Khan Yunis até o fim de setembro, afetando um total de 1,5 milhão de pessoas em níveis de emergência e crise de insegurança alimentar.
A diplomata destacou que ao menos 41 mil crianças correm risco elevado de morte por desnutrição até 2026, enquanto outros 132 mil menores devem sofrer de desnutrição aguda no mesmo período. Idosos e pessoas com doenças crônicas também estão entre os mais vulneráveis.
A declaração do Conselho de Segurança pede um cessar-fogo ‘imediato, incondicional e permanente’; a libertação de todos os reféns mantidos pelo Hamas e outros grupos; a suspensão imediata e incondicional do bloqueio de Israel à entrega de ajuda humanitária e o seu aumento para atender as necessidades urgentes da população palestina.

Conselho de Segurança da ONU, com exceção dos EUA, condena ‘ação humana’ na fome em Gaza
Reprodução / vídeo Conselho de Segurança da ONU
Crime de Guerra
“Esta é uma crise fabricada pelo homem. O uso da fome como arma de guerra é claramente proibido pelo direito humanitário internacional. A fome em Gaza deve ser interrompida imediatamente”, afirmou Persaud, exigindo a implementação da Resolução 2417 de 2018, que condena o uso da fome como estratégia de conflito.
Já a embaixadora Ondina Blokar Drobic, representante da Eslovênia, pediu um aumento substancial da ajuda humanitária e a suspensão das restrições impostas por Israel à entrada de suprimentos. “É preciso abrir todas as rotas terrestres e permitir que as Nações Unidas e seus parceiros atuem em segurança e em grande escala”, disse.
Drobic rejeitou ainda a decisão israelense de expandir a ofensiva em Gaza, alertando que a medida agravará a crise humanitária e colocará em risco a vida de civis e reféns. “O tempo é essencial. A emergência humanitária deve ser enfrentada sem demora, e Israel precisa mudar de rumo”, concluiu.
Condições catastróficas
A declaração chancela as conclusões do relatório da IPC, órgão das Nações Unidas com sede em Roma. O documento, chamado pelo premiê de Israel, Benjamin Netanyahu de “mentira descarada” denuncia que a fase 5 de sua classificação de fome, a pior na escala que indica ‘condições catastróficas de fome’, está em curso na Cidade de Gaza.
Segundo o documento, mais de 500 mil palestinos estão na Fase 5 e vivem em “situação catastrófica”, marcada por inanição, miséria e risco de morte; a previsão é de que o número chegue a 640 mil até o final de setembro. Outros 1,07 milhões de pessoas, ou 54% da população de Gaza, são classificadas como estando na Fase 4, o que significa em condições de “emergência”; enquanto 396.000 pessoas (20%) estão na Fase 3, ou condições de “crise”.
A IPC alerta que as áreas de Deir al-Balah e Khan Yunis em Gaza, atualmente na fase 4, chegarão na fase 5 até setembro.























