Acordo EUA-UE: 'dia sombrio para Europa', sintetiza premiê francês
François Bayrou e diversas autoridades europeias, além de bancos e empresas, criticaram medidas acordadas neste domingo (27/07); confira repercussão
O acordo firmado neste domingo (27/07) entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a comissária-geral da União Europeia (UE), Ursula von der Leyen, provocou fortes reações contrárias de autoridades europeias e representantes do setor industrial e financeiro.
O pacto estabelece uma tarifa de 15% sobre quase todas as exportações europeias para os EUA — incluindo automóveis —, substituindo a ameaça anterior de uma taxação de 30% pelos Estados Unidos. No entanto, a nova alíquota é mais que o triplo da média atual de 4,8%, o que gerou críticas severas.
A União Europeia também concordou em comprar US$ 750 bilhões do setor energético norte-americano e investir US$ 600 bilhões na economia dos EUA. O acordo também prevê a compra de “grandes quantidades” de equipamentos militares dos EUA.
“Quinze por cento não deve ser subestimado, mas é o melhor que poderíamos obter”, afirmou Von der Leyen, enfatizando que a taxa de 30% que Trump ameaçou impor foi evitada. Ela também afirmou que haverá cortes nas tarifas do aço e aplicação de cotas, embora Trump tenha dito que o setor “ficará como está”. Além disso, os produtos farmacêuticos estarão sujeitos à tarifa de 15%, sem isenções.
França: ‘dia sombrio’
“É um dia sombrio quando uma aliança de povos livres, reunidos para afirmar seus valores e defender seus interesses, resolve se submeter”, publicou o primeiro-ministro da França, François Bayrou, na plataforma X.
O ministro francês de Assuntos Europeus, Benjamin Haddad, também postou críticas sobre o acordo no X. “Este estado de coisas não é satisfatório e não pode ser sustentado”, afirmou ao instar a UE a ativar seu “instrumento anticoerção”, que permitiria retaliações não tarifárias.
Já o ministro do Comércio francês, Laurent Saint-Martin, criticou a forma como a UE lidou com as negociações. “Donald Trump só entende a força”, afirmou à rádio France Inter. “Teria sido melhor responder mostrando nossa capacidade de retaliar mais cedo. E o negócio provavelmente poderia ter sido diferente.”
A posição das autoridades do governo francês foi reforçada pelo ex-comissário europeu para o Mercado Interno, Thierry Breton. “Não sei se podemos chamar isso de acordo”, disse em entrevista à BFM TV. Ele salientou que as negociações refletem “o desejo do Presidente dos Estados Unidos de impor ao mundo inteiro (…) sua visão sobre o comércio internacional, agora direcionada principalmente aos interesses dos Estados Unidos”.
Breton explicou que em 20 de janeiro as empresas europeias pagavam em média 1,7% em direitos aduaneiros para entrar no mercado norte-americano, com um dólar próximo do euro. Agora, elas terão de lidar com a queda do dólar em 12,7% e somar os 15% das sobretaxas alfandegárias, o que representa “no total, 25% a mais do que em 20 de janeiro para exportar para os Estados Unidos”.
Já a líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen, classificou o acordo como um “fiasco político, econômico e moral”. Em nota nas redes sociais, ela disse que o pacto representa uma “rendição aberta para a indústria francesa e para sua soberania energética e militar”, ao prever “centenas de bilhões de euros em gás e armamento dos EUA”.
Le Pen também comentou a situação dos agricultores franceses, “mais uma vez, sacrificados no altar da indústria fora do Reno com condições que nos obrigam a abrir mais amplamente o mercado único para os produtos agrícolas americanos, em troca de cortes de impostos para exportações de carros alemães”.

Autoridades europeias criticam medidas acordadas neste domingo
Official White House / Shealah Craighead
Alemanha
The Guardian destaca que, na Alemanha, apesar do chanceler Friedrich Merz avaliar positivamente o desfecho, afirmando que o acordo evitou uma “escalada desnecessária nas relações comerciais transatlânticas”, o setor industrial do país criticou os impactos financeiros e estruturais do novo pacto.
O banco alemão Berenberg apontou que “as tarifas extras dos EUA prejudicarão tanto os EUA quanto a UE”, classificando o acordo como “assimétrico” e favorável a Trump. “Em sua aparente mentalidade de soma zero, Trump pode reivindicar isso como uma ‘vitória’ para ele”, avaliou Holger Schmieding, economista-chefe da instituição.
A crítica mais contundente, aponta o veículo britânico, chegou das montadoras alemãs VW, Mercedes e BMW, duramente afetadas pela tarifa americana de 27,5% sobre a importação de carros e peças, atualmente em vigor. Entidades como a poderosa federação BDI e a associação química VCI advertiram sobre os “efeitos negativos consideráveis” e consideraram as novas tarifas “muito altas”.
“Mesmo uma tarifa de 15% terá imensos efeitos negativos sobre a indústria alemã voltada para a exportação”, disse Wolfgang Niedermark, liderança da BDI. A VCI, associação comercial de produtos químicos do país também criticou as tarifas “muito altas”. Já a presidente da federação automobilística alemã VDA, Hildegard Müller, alertou para os “enormes custos” que virão.
Espanha
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez também se manifestou. Em coletiva de imprensa, Sánchez destacou “de qualquer modo, apoio este acordo comercial, mas faço-o sem entusiasmo”. Ele afirmou que a Europa precisa tirar lições da situação e buscar autonomia estratégica, estabelecendo melhores laços comerciais com outros países, incluindo o Mercosul. Ele também avaliou positivamente os acordos da UE com a Indonésia e a Índia.
Itália
Em comunicado, a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, alinhada com as políticas de Donald Trump saudou o acordo, mas disse que buscaria mais detalhes. Ela afirmou que a negociação “garante a estabilidade”, acrescentando que os 15% “são sustentáveis, especialmente se essa porcentagem não for adicionada às taxas anteriores, como foi originalmente planejado”. Mas ponderou, que “faltam vários elementos”, fazendo referência a detalhes importantes sobre “setores particularmente sensíveis”, como o farmacêutico e o automotivo.
Enquanto isso, o banco italiano UniCredit foi direto: “este é um bom negócio para a UE? Provavelmente não. O resultado é fortemente assimétrico”, aponta o jornal britânico.
Hungria
No podcast ‘Hora dos Guerreiros’, transmitido nesta segunda-feira (28/07) no Facebook, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, afirmou que “isto não é um acordo… Donald Trump comeu Von der Leyen no café da manhã, foi isso que aconteceu e suspeitávamos que isso aconteceria, pois o presidente dos EUA é um peso pesado quando se trata de negociações, enquanto a presidente é um peso-pena”.
Bélgica
Na plataforma X, o primeiro-ministro da Bélgica, Bart de Wever, foi mais contido do que seu homólogo húngaro. Ele disse esperar, “sinceramente, que os Estados Unidos, no devido tempo, abandonem a ilusão do protecionismo e abracem novamente o valor do livre comércio – um pilar fundamental da prosperidade compartilhada”.
“Enquanto isso, a Europa deve continuar a aprofundar seu mercado interno, eliminar regulamentações desnecessárias e forjar novas parcerias para diversificar nossa rede comercial global. Que a Europa se torne o farol do comércio aberto, justo e confiável de que o mundo tanto necessita”, escreveu.
Rússia
Da Rússia, informa a RT, o chanceler Serguei Lavrov apontou que o acordo causará graves danos à indústria europeia. “Está claro que este acordo levará à desindustrialização da Europa, à fuga de capitais para os Estados Unidos e será um golpe muito forte para a indústria e a agricultura europeias”, alertou.
Lavror também alfinetou: “os políticos europeus, com Ursula von der Leyen à frente, alardeiam as condições acordadas com os EUA, preferindo gastar mais dinheiro em sua cruzada contra a Rússia do que enfrentar os problemas sociais internos”.























