Vigília marca 20 anos do assassinato de Jean Charles pela polícia de Londres
Familiares e amigos homenageiam imigrante brasileiro, executado ao ser confundido com o autor dos ataques de 7 de julho de 2005 no Reino Unido
Nesta terça-feira (22/07), às 10h06 da manhã, foi observado um minuto de silêncio na entrada do metrô Stockwell, região sul de Londres. Foi uma vigília que reuniu familiares e amigos do brasileiro Jean Charles de Menezes, executado há 20 anos pela Polícia Metropolitana de Londres.
Simpatizantes trouxeram flores. Uma banda de música andina tocou flautas e violões em homenagem ao imigrante latino. Há exatos vinte anos, o eletricista foi executado pela Polícia Metropolitana com sete tiros na cabeça, quando ia para o trabalho. A cidade estava em alerta após os ataques de 7 de julho de 2005, o maior sofrido pelo Reino Unido desde a Segunda Guerra Mundial.
Jean foi confundido com um dos suspeitos de planejar novos ataques no transporte público de Londres. A polícia tentou encobrir o erro e afirmou que o brasileiro, que vinha sendo seguido por dois agentes, pulou a catraca do metrô e correu. Uma história que foi desmentida graças à luta de uma família de imigrantes do interior de Minas Gerais, que se uniu contra uma das mais poderosas corporações do Reino Unido para provar a inocência de Jean. Nas palavras do primo Alex Alves Pereira, foram “anos de guerra contra a Polícia Metropolitana”.
“O caso está fechado, mas nós provamos que ele era 100% inocente. Só de provar que ele não teve nenhum comportamento errado, já alegra a gente bastante”, disse Alex, que veio do Brasil apenas para participar das homenagens ao primo.
Duas décadas depois, o movimento pela memória do brasileiro se mantém ativo. Na camiseta preta usada na vigília, lia-se, em inglês: “20 anos: Justiça negada.” A família recorreu a todas as instâncias na Inglaterra e até à Corte Europeia de Direitos Humanos. Nenhum agente da Polícia Metropolitana foi processado — apenas uma advertência foi dada à corporação por violação da lei de saúde e segurança, seguida de um pedido formal de desculpas.

Familiares e simpatizantes homenageiam, em Londres, Jean Charles de Menezes, brasileiro que foi morto pela polícia de Londres
X/Harriet Wistrich
Indignação de familiares
“Perder um ente querido é muito difícil, mas ter que lidar com todas as mentiras, com a intenção de sujar o nome dele para proteger uma instituição, é inadmissível”, disse a prima Vivian Menezes Figueiredo, que havia chegado a Londres há apenas três meses quando tudo aconteceu.
Mesmo após a produção de filmes, minisséries e livros sobre o caso, a família considera importante continuar a luta para honrar a memória de um inocente, inicialmente taxado de terrorista, e combater o racismo e o preconceito contra imigrantes. No último dia 7 de julho, o primeiro-ministro Keir Starmer e o prefeito de Londres, Sadiq Khan, depositaram flores no monumento em memória das 52 vítimas dos ataques terroristas. O nome de Jean Charles Menezes não foi sequer mencionado.
“Mencionar Jean é uma vergonha para o Estado, porque ele foi morto por aqueles que deveriam estar protegendo-o. Hoje, todos sabemos que ele foi uma vítima inocente do Estado”, concluiu a prima Vivian.























