Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Um escândalo sexual envolvendo monges respeitados abalou um templo budista em Bangkok, na Tailândia. O caso começou com o desaparecimento de um dos monges sênior do templo, Phra Thep Wachirapamok e revelou, além dos encontros sexuais, alegações de chantagem, presentes luxuosos e uma série de demissões no centro religioso.

Segundo a história resgatada pelo The Guardian, a partir das investigações pelo desaparecimento de Wachirapamok, a polícia chegou até Wilawan Emsawat, uma mulher suspeita de ter mantido relações íntimas com diversos monges do templo budista e os chantageado para manter as relações em segredo.

Segundo as autoridades tailandesas, a revista feita na casa de Emsawat revelou celulares que teriam “dezenas de milhares de fotos e vídeos comprometedores do monge desaparecido e de várias outras figuras budistas importantes”. Além dos registros íntimos, a polícia rastreou suas finanças e encontrou ligações com templos budistas.

“Depois de apreendermos seu celular, descobrimos que há vários monges envolvidos, além de vários videoclipes e conversas no Line [aplicativo de mensagens]”, revelou Jaroonkiat Pankaew, do departamento central de investigação da polícia tailandesa, em coletiva de imprensa na última terça-feira (15/07).

Já na quarta-feira (16/07), Emsawat admitiu ter mantido relacionamentos com dois monges e um professor religiosos. Também reconheceu ter recebido presentes luxuosos como uma Mercedes-Benz SLK200 e “milhões” de bahts [moeda tailandesa]. Segundo a polícia local, ela recebeu cerca de 385 milhões de bahts (R$53,9 milhões) nos últimos três anos.

Emsawat, que justificou as relações por “paixão”, foi presa sob as acusações de extorsão, lavagem de dinheiro e receptação. No entanto, não recebeu nenhuma acusação pelo desaparecimento de Wachirapamok, que segue com o paradeiro desconhecido.

 Escândalo abalou forma que monges tailandeses têm se “desviado de suas crenças”, segundo o Guardian
JJ Harrison/Flickr

Já nos templos budistas, o escândalo levou à destituição ou demissão de pelo menos nove abades (chefes de mosteiros) e monges seniores. No âmbito jurídico, um deles, que admitiu transferir dinheiro para um “empreendimento comercial” de Emsawat, enfrenta acusações por “apropriação indébita de fundos do templo” e “má conduta oficial”.

Além das questões jurídicas e legais, o escândalo abalou a forma que os monges tailandeses têm se “desviado de suas crenças”, que orientam “as tradições celibatárias do budismo Theravada e a abstenção dos desejos terrenos”, afirma o Guardian.

A comentarista Sanitsuda Ekachai, do jornal Bangkok Post, afirmou que o caso direcionou os julgamentos para Emsawat, enquanto os monges foram “retratados como vítimas”, tendência que classificou como “decadência moral do clero”, no qual os religiosos “vivem em privilégio, cercados de riqueza e deferência”.

Em meio à denúncia da comentarista, o periódico inglês explica que na Tailândia os monges recebem ajudas de custo mensais para se dedicar ao budismo. Dependendo da posição social, podem ser valores entre 2.500 e 34.200 bahts (R$350 e R$4.700), além das doações “que podem ser especialmente lucrativas”.

Escândalos financeiros não são incomuns na Tailândia, o que levou o primeiro-ministro interino, Phumtham Wechayachai, ordenar na semana passada o endurecimento das leis relacionadas às finanças dos templos.

Por sua vez, o Escritório Nacional do Budismo afirmou que os monges serão investigados independente de sua importância dos templos, e sugeriu penalidades criminais “para aqueles que prejudicam a reputação do budismo, inclusive por meio de má conduta sexual”.