Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O brasileiro Guilherme Lemes Cardoso e Silva, 35 anos, preso no início deste mês nos Estados Unidos sob alegação de “suposta situação irregular no país”, foi levado para uma prisão estadual em Washington mesmo após ter sua liberdade decretada por um juiz em audiência, na terça-feira (29/07).

A esposa Rachel Leidig, que é norte-americano e está grávida de sete meses, disse a Opera Mundi que pagou de forma integral a fiança de oito mil dólares (R$ 44.624,80), mas não conseguiu se encontrar com o marido. Natural de Goiânia, Guilherme vive nos Estados Unidos desde 2017.

“Minha mãe e eu fomos ao Tribunal de Tacoma às 7h30 para encontrar o nosso advogado, que veio de avião da Califórnia. Fiz o pagamento às 11h30 e tanto o ICE (Serviço de Imigração e Controle de Imigração dos Estados Unidos) quanto o GEO (Centro de Detenção Privada) disseram que deveríamos aguardar que ele seria liberado em breve. Mas às 19h30, recebemos a notícia de que ele não estava mais lá e que não sabiam para onde tinha sido levado”, explicou.

Sem orientação do ICE e do GEO, Rachel voltou ao hotel, onde, às 21h00, recebeu uma ligação do marido, dizendo que o serviço de imigração o tirou do centro de detenção privada e o transferiu para outros agentes no estacionamento do Costco. Segundo Guilherme, os agentes afirmaram que ele estaria sendo transferido para uma prisão estadual por ter feito alegações falsas.

“Guilherme pediu para ver o mandado de prisão, mas seu pedido foi negado novamente. Agora, ele está detido na prisão estadual de Whatcom, com uma audiência marcada para quinta-feira (31/07). No entanto, precisaremos encontrar um advogado no Estado de Washington até lá, já que o nosso não pode atuar fora de sua jurisdição. Este tem sido um pesadelo que só piora”, desabafou.

A família do goiano criou um Gofundme para cobrir os crescentes honorários advocatícios do Guilherme e oferecer suporte financeiro a Rachel durante a gravidez. Como prestadora de serviços independente com status 1099, ela não tem direito a licença maternidade financiada pelo estado, e, enquanto Guilherme estiver detido, ela não poderá trabalhar.

Esposa de Guilherme pagou infância, mas ele segue preso
Arquivo pessoal

Prisão arbitrária

Guilherme foi detido em 11 de julho em Friday Harbor, Washington, após abordagem surpresa de agentes do Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA. Segundo Rachel, que trabalha como maquiadora em Nova York, a prisão foi realizada de forma truculenta enquanto o brasileiro buscava sua outra filha.

Segundo a família, ele estava sendo mantido na prisão em condições desumanas, dormindo no chão e recebendo comida estragada. Rachel também contou à reportagem que Guilherme convivia com outras pessoas na mesma situação e citou um rapaz que teve o dedo amputado por não receber tratamento adequado após contrair uma infecção.

Lara Carvalho, irmã de Guilherme, disse a Opera Mundi que todos estão muito aflitos com a situação atual, especialmente com a saúde de Rachel, que tem tomado as medidas legais necessárias para regularizar o status migratório do marido. Logo após o casamento, eles solicitaram o green card de Guilherme. Além disso, ele não possui antecedentes criminais e estava renovando seu número de Segurança Social, que já tinha desde sua chegada aos EUA.

A irmã informou que o consulado brasileiro já foi notificado, mas que sua atuação é limitada, garantindo apenas proteção física ao cidadão, sem poder de intervenção jurídica. “Rachel tem dado várias entrevistas em veículos de comunicação nos EUA, compartilhando sua história e destacando que a detenção não deveria ter ocorrido, pois meu irmão estava em processo de regularização migratória”, desabafou.

A família garante que o casal mantém contato diário por telefone. Na semana passada, Rachel visitou o marido pessoalmente. Mesmo grávida, ela alegou ter sofrido maus-tratos por parte dos agentes durante a vistoria, incluindo assédio e pressão psicológica.

“Desde que Guilherme foi sequestrado, em 11 de julho, tenho mantido um diário nas redes sociais contando nossa história e denunciando o caso. Minha vida virou uma loucura. Além disso, não falo muito bem português e preciso sempre usar tradutor. Meu coração está partido, pois disseram que estaria com meu marido ontem à noite. Não sei quanto mais posso aguentar”, declarou.

Em nota, o Itamaraty afirmou que “a deportação é ato soberano do Estado estrangeiro, não cabendo ao Brasil se imiscuir nesse tema, conforme a Convenção de Viena sobre Relações Consulares”.