Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O governo da Espanha ampliou o alerta vermelho para inundações nesta quinta-feira (31/10), para incluir também a comunidade de  Castellón de la Mancha, enquanto equipes de resgate ainda buscam desaparecidos e tentam liberar estradas, fortes chuvas continuam caindo em Valência.

Meteorologistas disseram que a chuva equivalente a um ano caiu em oito horas em algumas regiões de Valência nesta terça-feira (29/10). Desde então, a tormenta se expandiu para nordeste e na manhã desta quinta-feira (31/10), a comunidade de Castellón já estava em alerta vermelho, sob forte aguaceiro.

Também se esperam mais tormentas no leste de Valência, exatamente a região que foi a mais atingida pelas inundações. Em 36 horas, as enchentes deixaram 95 mortos e um número desconhecido de desaparecidos.

As equipes de resgate começaram a trabalhar nesta quinta, vasculhando a lama com cães farejadores e a expectativa é que o número de mortos aumente. Resgates aéreos estão restritos pela força das chuvas.  Aos 92 mortos de Valência, somam-se dois da região de Castilla-La Mancha.

Atraso no alerta

A agência meteorológica espanhola AEMET notificou o governo da Comunidade Autônoma de Valência que a região estava sob alerta vermelho para inundações, na terça-feira pela manhã. Entretanto, as autoridades locais valencianas só ativaram os serviços de emergência e notificaram a população depois das 20hs.

Muitas das vítimas dizem ter recebido o alerta em seus celulares momentos antes da água invadir suas casas ou, em alguns municípios, quando já estava pelo tornozelo ou pela cintura.

Este é o maior desastre do gênero vivido pela Espanha desde 1973. Centenas de casas foram destruídas, algumas literalmente arrastadas pelas águas, que transformaram as ruas de dezenas de municípios em rios caudalosos com até dois metros de profundidade.

Afogados dentro de casa

A maioria das vítimas foram idosos e pessoas com dificuldade de locomoção que moravam em andares térreos. Muitas morreram afogadas dentro de suas próprias casas. Em uma residência para idosos, foram registradas ao menos seis mortes.

Algumas pessoas contam que não conseguiam abrir as portas de suas casas ou de seus carros para escapar, devido à força da correnteza. Um homem, que vive numa casa no andar de cima da casa da mãe, de 84 anos, afirma ter visto por uma clarabóia como ela se afogava.

“Quando recebi os avisos, liguei para os meus pais subirem, mas eles, que já viram muitas tempestades, não deram importância e pouco depois foram emboscados pela água”, lembra o morador que, no dia seguinte ainda podia ver pela clarabóia,os móveis flutuando na sala da mãe.

Uma mulher com um bebê nos braços subiu no teto do seu carro para pedir socorro, após um rio formado pela água das chuvas a deixar em um local separado de onde estava o marido. Os corpos de mãe e filho foram resgatados no dia seguinte.

Flicker
As equipes de resgate trabalham em Valência

Automóveis empilhados

Centenas de automóveis foram arrastados e, quando as águas baixaram, viam-se amontoados, interditando ruas, estradas e as linhas de trem que conectam Valência com o resto da Espanha.

Acredita-se que cerca de 1,2 mil pessoas ficaram presas nas rodovias. Na manhã desta quinta-feira ainda estavam sendo resgatadas entre os cerca de 5 mil carros abandonados. As fortes chuvas estão limitando os resgates aéreos.

Mais de 100 mil pessoas continuam sem luz esta manhã, milhares sem telefone e vários municípios estão sem água potável O número total de desaparecidos ainda é desconhecido, já que muitas áreas ficaram incomunicáveis.

Algumas torres de telecomunicações caíram mas, onde os celulares funcionam, as pessoas usam as redes sociais para pedir por notícias de parentes e amigos.

Isolados sem luz, telefone ou estradas

Algumas das 100 estradas afetadas foram liberadas esta manhã, mas a defesa civil pede que as pessoas permaneçam em casa e as deixem apenas para os serviços de emergência.

Em algumas das cidades inundadas não caiu nem uma gota de chuva, mas as localidades acabaram recebendo as torrentes que vinham de zonas mais altas.

Hugo Morán, secretário de Meio Ambiente da Espanha, frisou que as previsões e análises funcionaram, mas que os “mecanismos de resposta” do governo valenciano não reagiram de maneira adequada.

Ele relacionou o problema aos partidos políticos que questionam as mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global, em referência ao direitista Partido Popular, que governa Valência.

Negacionismo climático

“Aqueles que negam as consequências da mudança climática não podem ser os que estão à frente da gestão dos interesses públicos. O grande problema a que nos enfrentamos é que estão emergindo respostas políticas que questionam a verdade científica”, frisou Morán em entrevista à agência EFE realizada em Cali, na Colômbia, onde ele participa da COP16 de Biodiversidade.

Cientistas ouvidos pela imprensa dizem que não é possível estabelecer relação direta entre os desastres de Valência e as mudanças climáticas, mas que é possível afirmar inequivocamente que fenômenos climáticos extremos ocorrerão cada vez com mais frequência.

“As pessoas precisam entender que as respostas convencionais que dávamos a esses fenômenos já não servem, que temos que restringir, modificar os protocolos da vida do dia a dia”, disse Morán.

Ele lembrou que os maiores estragos em Valência ocorreram em áreas “inundáveis”, mas que cada vez que se tenta classificar uma área como inundável existem fortes resistências por conta das limitações que isso impõe ao crescimento urbano. “As estruturas econômicas locais sempre questionam a proposta”.