Correspondente de Opera Mundi é ameaçada por extremista português
Homem oferece 300 mil euros por extermínio de brasileiros e bônus de 100 mil pela morte da jornalista residente em Lisboa; crimes de ódio aumentaram em 200% nos últimos cinco anos
Texto atualizado às 13h34
Um militante de extrema direita de Portugal fez uma nova oferta de dinheiro pelo “extermínio” de brasileiros e incluiu um pedido específico pela cabeça da correspondente de Opera Mundi, Stefani Costa, que reside em Lisboa: “darei um bônus adicional de 100 mil euros”, escreveu Bruno Silva em uma publicação no X nesta quinta-feira (11/09).
“Não é a primeira vez que recebo ameaças de morte; já aconteceu várias vezes. Inclusive, já fui agredida na rua por um eleitor do Chega [partido político de direita radical], apenas por ser brasileira”, declarou a jornalista a Opera Mundi.
“Estou oferecendo um dos meus apartamentos no centro de Lisboa, avaliado em média em 300 mil euros, a quem realizar um massacre e exterminar pelo menos 100 brasileiros em Portugal, e darei um bônus adicional de 100 mil euros a quem me trouxer a cabeça da @sttefanicosta”, publicou Silva de forma xenófoba.
Stefani também explicou que o fato de ser jornalista e escrever sobre temas sensíveis e direitos humanos a torna alvo. “Em 2024, o líder do Chega, André Ventura, chegou a publicar um vídeo nas redes sociais segurando uma tesoura e uma reportagem que escrevi sobre ele, feita para uma revista”.
A correspondente em Portugal relembrou outro episódio de violência: “já fui intimidada dentro do Parlamento português por uma deputada do partido e por pessoas ligadas a movimentos neonazistas”. E acrescentou que “essas atitudes acabam legitimando o comportamento violento de alguns apoiadores da extrema direita”.
Os crimes de ódio e a violência têm crescido de forma alarmante em Portugal. Em cinco anos, aumentaram mais de 200%. Somente em 2024, foram registradas 421 ocorrências desse tipo. Infelizmente, isso demonstra o quanto esse tipo de discurso vem sendo “normalizado” no país.

Militante de extrema direita de Portugal faz nova oferta de dinheiro por “extermínio” de brasileiros e acrescenta especificamente pedido pela cabeça da correspondente de Opera Mundi, Stefani Costa
X / arquivo pessoal de Stefani Costa
A jornalista de Opera Mundi afirmou também que não se sente totalmente segura. “Mas essa sensação não é exclusiva minha. A verdade é que, hoje, poucos brasileiros se sentem seguros em Portugal. E isso vale não só para nós, mas para os imigrantes em geral”.
Atualmente, a justiça portuguesa ainda apresenta certa morosidade no tratamento dos crimes de ódio. Por conta disso, existe uma petição em curso que propõe a alteração do artigo 240 do Código Penal, com o objetivo de criminalizar, de forma efetiva, todas as formas de racismo e xenofobia.
“A Casa do Brasil e os movimentos Vida Justa e Solidariedade Imigrante, por exemplo, denunciam esses crimes e oferecem apoio aos imigrantes afetados. O GAC (Grupo de Ação Conjunta Contra o Racismo e a Xenofobia) também tem desempenhado um papel importante na mobilização para que o racismo seja devidamente criminalizado em Portugal. Além disso, o Consulado do Brasil em Lisboa tem prestado suporte jurídico em alguns casos, reforçando o apoio institucional aos cidadãos brasileiros em situação de vulnerabilidade”, explicou a brasileira que atualmente vive em Portugal.
A petição do GAC alega que práticas discriminatórias e racistas, por atentarem contra a dignidade e a honra e por constituírem violação de direitos constitucionalmente protegidos, merecem não apenas a censura social, ética e política, mas também uma condenação penal firme e inequívoca. A atual qualificação jurídica dessas práticas e discursos como meros ilícitos de natureza administrativa é insuficiente e afronta os valores fundamentais que sustentam uma sociedade justa e democrática.
“Diante da última ameaça, vamos tentar acionar o Ministério da Justiça do Brasil, assim como as autoridades diplomáticas do Brasil em Lisboa, solicitando o engajamento e acompanhamento do caso”, explicou o advogado responsável pelo caso, Camillo Júnior.
O defensor aponta discursos de ódio e desinformação promovidos pelo Chega como algumas das razões responsáveis pelo aumento da violência contra os imigrantes. “Desta forma, sendo a comunidade brasileira a maior em Portugal, acaba que também é atingida, mas acho que menos que os asiáticos. Sem dúvida alguma a islamofobia é a maior das chagas”.
Nova unidade policial em Portugal
Em Portugal, a criação da Unidade Nacional de Estrangeiros e Fronteiras (UNEF), subordinada à Polícia de Segurança Pública (PSP), tem causado apreensão entre imigrantes que vivem no país e despertado alerta entre representantes da comunidade brasileira.
A UNEF foi anunciada pelo governo português em setembro de 2024 e entrou em funcionamento no dia 21 de agosto. A nova força herdou cerca de 100 mil processos pendentes de afastamento de imigrantes em situação irregular, alguns parados há 50 anos. Somente em Lisboa, estima-se que existam 20 mil processos ativos.
O governo português argumenta que a nova unidade vai aumentar a eficiência do sistema migratório. Já para associações de imigrantes, a aposta em uma estrutura policial, em vez de resolver os atrasos nos processos de residência, pode acabar apenas por ampliar o medo e a insegurança entre estrangeiros que vivem no país.
Nota de repúdio
Durante a tarde, a Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal (AIEP) divulgou uma nota de repúdio, condenando as ameaças direcionadas a Stefani Costa.
Segue abaixo o texto na íntegra publicado pela AIEP:
NOTA DE REPÚDIO
A Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal (AIEP) repudia, veementemente, as ameaças de morte feitas, por meio das redes sociais, à correspondente em Portugal do Opera Mundi, Stefani Costa, da plataforma UOL. Ela vem sendo reiteradamente atacada por extremistas de direita.
Em post nas redes sociais, o extremista que se intitula Bruno Silva, escreve: “estou a oferecer um dos meus apartamentos no centro de Lisboa, avaliado em média em 300 mil euros, a quem realizar um massacre e exterminar pelo menos 100 brasileiros em Portugal, e darei um bônus adicional de 100 mil euros a quem me trouxer a cabeça de Stefani Costa”.
Stefani já denunciou as ameaças ao Ministério Público há um ano. Um inquérito foi aberto, mas ainda está em fase de investigação, pois as plataformas se recusam a revelar a verdadeira identidade de Bruno Silva e de outros extremistas que disseminam o ódio em Portugal.
A AIEP cobrará das autoridades portuguesas que ajam com rigor no sentido de coibir esses ataques a jornalistas e a quaisquer cidadãos, independentemente de sua origem, raça ou credo. Em uma nação democrática, que preza pelos valores humanistas, não pode haver espaço para a intolerância.
A Associação dará todo suporte à jornalista Stefani Costa para que não se intimide diante dos intolerantes.
O jornalismo sério é ferramenta fundamental para enfrentar a onda de desinformação. Portugal, segundo estudo do Observatório Europeu dos Meios de Comunicação Digitais (EDMO), que faz o monitoramento mensal dos temas usados pelos disseminadores de conteúdos falsos, tornou-se o epicentro de fake news da Europa quando o tema é a imigração.























