Charge considerada ofensiva ao Islã gera protestos em Istambul
Funcionários da revista satírica LeMan foram presos; editor nega que imagem represente o profeta Maomé e denuncia má interpretação
Istambul viveu momentos de tensão nesta segunda-feira (01/07), após a publicação de uma charge pela revista satírica LeMan, acusada de retratar o profeta Maomé. A imagem gerou protestos violentos no centro da cidade e uma operação policial que resultou na prisão de pelo menos quatro pessoas.
O ministro do Interior, Ali Yerlikaya, anunciou na rede social X a detenção do autor da charge, identificado apenas como “DP”, e do designer gráfico da revista. “Esses indivíduos sem vergonha prestarão contas à justiça”, afirmou.
Os protestos começaram após o promotor-chefe de Istambul emitir mandados de prisão contra os editores da LeMan, alegando que a charge publicada “insultava publicamente valores religiosos”. Na sequência, manifestantes ofendidos com a publicação atacaram um bar frequentado por funcionários da revista. A polícia interviu para contê-los.
O governador de Istambul, Davut Gul, condenou a publicação. “Não permaneceremos em silêncio diante de qualquer ato vil contra a fé da nossa nação”, afirmou nas redes sociais.
“Todos os quatro indivíduos com mandados de prisão foram capturados por nossas forças de segurança. Foi determinado que algumas pessoas entre os manifestantes estavam praticando atos provocativos. É importante que os grupos em manifestação sejam dispersos para evitar que nossos cidadãos sejam prejudicados e para manter a ordem pública. Ninguém tem o direito ou a liberdade de cometer um crime, independentemente do motivo”, acrescentou o governador.

Funcionários da revista satírica LeMan foram presos após publicação de charge considerada ofensiva ao Islã
Reprodução vídeo / @AliYerlikaya
LeMan nega
O editor-chefe da LeMan, Tuncay Akgun, negou que a charge representasse o profeta Maomé. Em declaração à Agence France-Press, ele disse que a imagem foi mal interpretada e que não retrata Maomé de forma alguma.
Em postagens nas redes, a revista defendeu a intenção da charge e acusou uma campanha de má-fé. “O cartunista quis retratar a justiça do povo muçulmano oprimido, ao mostrar um muçulmano morto por Israel. Nunca foi intenção desrespeitar os valores religiosos”, declarou.
“Não aceitamos o estigma que nos impõem, porque não há representação do profeta. É preciso ser muito mal-intencionado para interpretar a imagem dessa forma. Pedimos desculpas aos leitores de boa-fé que foram alvo dessa provocação”, complementou.
Reação
O ministro da Justiça, Yilmaz Tunc, informou a abertura de uma investigação por “insulto público aos valores religiosos”. Na plataforma X, ele acrescentou que “o desrespeito demonstrado ao nosso Profeta Muhammad por algumas pessoas imorais que não têm os valores desta nação e não conhecem boas maneiras ou decência é completamente inaceitável. Aqueles que são insolentes com o nosso Profeta Muhammad e outros profetas serão responsabilizados por isso perante a lei”.
Fundada em 1991, a LeMan é conhecida por sua sátira política e já enfrentou controvérsias no passado, especialmente após demonstrar apoio à revista francesa Charlie Hebdo, que sofreu um atentado em 2015 após publicar caricaturas do profeta Maomé.
Com The Guardian.























