Sábado, 6 de dezembro de 2025
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A Batalha Naval de Trafalgar de 21 de outubro de 1805 opôs a frota franco-espanhola, sob o comando do almirante Pierre de Villeneuve, à frota britânica, comandada pelo vice-almirante Horatio Nelson. O comandante inglês iria ali encontrar a morte, porém a tática genial que pôs em ação valeu aos britânicos uma vitória total, apesar de sua inferioridade numérica. Dois terços dos navios franco-espanhóis foram destruídos e Napoleão, sem uma esquadra suficiente, teve de renunciar a qualquer esperança de conquistar o Reino Unido.

Esta vitória marcou igualmente a supremacia britânica sobre os mares, o que iria se manter incontestável até a eclosão da Primeira Guerra Mundial.

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O dia 21 de outubro é comemorado em todo o Reino Unido sob o lema de “Trafalgar Day“, nome que também foi dado a uma importante praça londrina.

[Horatio Nelson se tornou um dos heróis de guerra do Reino Unido]

Em seguida à retomada das hostilidades entre a França e o Reino Unido, em 18 de maio de 1803, após a efêmera paz de Amiens, Napoleão começa a reunir um Exército, no campo de Boulogne, com o objetivo de invadir as Ilhas Britânicas e acabar com seu mais tenaz inimigo.

Todavia, para permitir à flotilha de transporte atravessar o Canal da Mancha, tinha de obter uma superioridade pelo menos temporária sobre a Royal Navy. A fim de levar a cabo a ação, foi necessário juntar suas duas frotas principais, aquela do Atlântico, baseada em Brest, e a do Mediterrâneo, então baseada em Toulon. Ocorre que essas duas esquadras estavam sob a constante vigilância da Royal Navy, o que tornava difícil sua junção. De resto, outras frotas poderiam ser mobilizadas para a operação, ou seja, a frota espanhola, à ocasião aliada da França, e outras esquadras, presentes na costa atlântica, como a de Rochefort.

A frota de Brest, comandada pelo vice-almirante Ganteaume, composta de 21 barcos de guerra, estava sendo estreitamente vigiada pelo almirante William Cornwallis e sua esquadra, e não poderia zarpar sem combate. Entrementes, o vice-almirante Nelson, que chefiava sua Frota do Mediterrâneo e fazia face à esquadra de Toulon, decidiu aplicar um bloqueio frouxo o suficiente, esperando incitar o almirante francês Villeneuve a assomar ao mar alto e, deste modo, poder travar a batalha.

Malgrado as reticências de Villeneuve, que já havia conhecido a derrota contra Nelson em Abukir em 1798, Napoleão pressionou-o a zarpar em direção das Antilhas, onde a frota espanhola e a de Ganteaume, forçando também o bloqueio, se juntariam. Graças às tempestades que impediram os navios britânicos de manterem suas posições de espreita, Villeneuve içou velas em 29 de março de 1805, escapou do cerco de Nelson e passou pelo estreito de Gibraltar, chegando às Antilhas, em 12 de maio, com onze barcos. Uma frota espanhola, composta de 9 navios, junta-se ali a ele. 

Sentindo-se seguro com seus 20 navios de guerra, Villeneuve, apesar de pressionado pelos oficiais do Exército francês para participar na retomada das ilhas conquistadas pelos britânicos, permaneceu inativo durante um mês, à espera de Ganteaume, que nem mesmo havia deixado seu porto. Em 7 de junho, em seguida à captura de um navio mercante britânico, toma conhecimento de que Nelson e sua frota, apesar dos ventos contrários que os retiveram, tinham por fim chegado às Caraibas. Villeneuve decide então retornar à Europa, o que faz em 11 de junho.

Em 9 de julho, chega ao Cabo Finisterre, porém os ventos contrários o impedem de entrar no golfo de Gascogne antes de 22. Entrementes, o vice-almirante Robert Calder, que montava guarda diante de Rochefort e Ferrol, notou o retorno dos franceses e, no mesmo 22 de julho, juntou sua esquadra de 15 navios para esperá-lo no Cabo Finisterre.

Segue-se uma batalha, em 23, em que Villeneuve perde dois navios espanhóis e o dissuade de prosseguir rumo norte. Apesar da vantagem do vento, faz meia-volta e chega a La Corogne em 1º de agosto. As ordens de Napoleão que o esperam são claras: singrar ao norte em direção a Brest. Contudo, nervoso diante das demonstrações da Marinha Real britânica, Villeneuve decide buscar o porto de Cádiz.

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Obra de John Francis Sartorius sobre os acontecimentos na Batalha de Trafalgar

Horatio Nelson, de volta à Inglaterra após dois anos no mar, é encarregado de comandar uma nova frota. Retardado pelas reparações no HMS Victory, lança-se ao mar somente em 15 de setembro, juntando-se à sua esquadra apenas em 29 de setembro. Coloca diante de Cádiz somente uma flotilha de fragatas sob as ordens do capitão Blackwood. Seus navios de guerra aguardavam, sem serem percebidos, a cerca de 80 quilômetros distantes. Teve de destacar 6 barcos de 2 a 15 de outubro, a fim de buscar provisões em Gibraltar. Além do mais, o HMS Prince of Wales deixou a esquadra para levar Calder à Inglaterra, onde teve de responder por sua falta de audácia nos episódios de 23 de julho.


O almirante Villeneuve, de seu lado, parecia pouco inclinado a deixar Cádiz: seus capitães se opunham e ele temia Nelson. Recebeu ordens do almirante Decrès, comandante da marinha francesa, de retornar ao Mediterrâneo. No entanto, somente o anúncio da chegada de seu substituto, o vice-almirante François Rosily, a Madri, em 18 de outubro, combinado com o relatório de inteligência assinalando a presença de 6 navios britânicos em Gibraltar, o faz tomar a decisão. Em 20 de outubro, repentinamente defensor da ideia de sair de Cádiz, deixa o porto após uma rápida preparação de seus navios. Numa formação de três colunas, dirige-se rumo ao Estreito de Gibraltar. Naquela mesma noite, são assinalados 18 barcos britânicos  em sua perseguição a nordeste. Durante a noite, Villeneuve dispõe a sua frota em linha e se prepara para o combate.

Mesmo em inferioridade numérica, vice-almirante Horatio Nelson derrotou França e Espanha, fazendo Napoleão Bonaparte concentrar esforços na Europa continental

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Horatio Nelson elaborou uma mensagem destinada a galvanizar seus homens, justo antes da batalha. Mandou içar em mastro uma bandeira com a mensagem: “England expects that every man will do his duty” (A Inglaterra espera que cada qual cumpra o seu dever, em tradução livre). Dado o resultado vitorioso da batalha, esta frase permaneceria célebre no vocabulário anglo-saxão, até os nossos dias.

A vitória do almirante Nelson decorreu de uma manobra genial que consistiu numa reviravolta da tática habitual de combate no mar. No século 18, quando duas frotas se enfrentavam, elas se dispunham em duas longas filas perpendiculares ao vento e navegavam uma contra a outra. Singravam lentamente levadas pelo vento e, ao se cruzarem, davam início ao canhoneio. As duas esquadras davam geralmente meia-volta para uma segunda passagem face-a-face. A vitória dependia sobretudo do número de canhões disponíveis, à rapidez de manobra das equipagens e a coordenação entre as diferentes unidades da frota.

Em Trafalgar, Nelson se encontrava diante de duas frotas heterogêneas e que jamais haviam navegado ou combatido juntas. Nelson decide então, ao se encontrar em inferioridade numérica, revolucionar as normas tradicionais da guerra naval. Em vez de orientar sua esquadra perpendicularmente ao vento, ele a orientou com o vento a popa, o que lhe conferia maior velocidade e tornava-a um alvo mais difícil ao canhoneio inimigo. 

Dispôs ainda seus navios em duas filas, lado a lado. Essas duas filas formavam uma seta que transpassava a frota franco-espanhola em ângulo reto justo em seu meio. Com o fragor do combate, viu-se a esquadra franco-espanhola cortada em dois e incapaz de reagir. Após ter duramente atingido o inimigo, a frota de Nelson faz meia-volta e retorna para uma segunda saraivada à linha desorganizada dos franco-espanhóis.

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Vitória em batalha naval fez praça londrina ser batizada de Trafalgar

A vitória inglesa foi arrasadora. Os franceses e espanhóis perderam 22 navios, 4.400 marinheiros mortos ou afogados, 2.500 feridos e mais de 7 mil prisioneiros.

Esta derrota marítima levaria Napoleão Bonaparte a reconcentrar seus esforços na Europa continental.

Em 2005, uma série de cerimônias oficiais comemoraram o bicentenário da Batalha de Trafalgar. Seis dias de celebrações tiveram lugar na catedral de Saint-Paul, onde  Nelson está enterrado. A rainha da Inglaterra assistiu em 28 de junho de 2005  ao maior desfile de frota dos tempos modernos. Uma esquadra, reunindo navios britânicos, espanhóis e franceses, levou a cabo manobras navais em 21 de outubro na baía de Trafalgar, perto de Cádiz, na presença de numerosos descendentes dos combatentes da batalha.