Se São Paulo tivesse praia
Jornalistas criam crônica divertida imaginando um balneário paulistano

Praia de paulistano teria área VIP, consumação mínima, e cambista vendendo a entrada de R$ 80 por R$ 620
Saiba o que mais foi publicado no Dossiê #04: Comissão da Verdade
Leia as outras matérias da edição nº 4 da Revista Samuel
São Paulo é assim ó: se tivesse praia, botava cerca, exigia carteirinha e fechava a 1h da manhã por causa do Psiu. Se tivesse praia, concretava pra fazer Rodoanel. Vagabundo de sunga ia ser expulso pela Tropa de Choque. E carrinho de vendedor de picolé precisaria de Controlar. Se a praia fosse em Itaquera, teria uma ciclovia ligando ao Ibirapuera e à Moema.
Haveria protestos no Itaim contra a criação de um piscinão em Guarapiranga. Seria proibido soltar pipa para não atrapalhar o tráfego aéreo em Congonhas.
Todas as casas ao redor seriam desapropriadas pra fazer um complexo com shopping, três torres de prédio com área gourmet e um estacionamento de sete andares. Esse shopping teria uma Torre Eiffel patrocinada pela Vivo.
Apoie a imprensa independente e alternativa. Assine a Revista Samuel.
A praia estaria sempre vazia, porque as pessoas trabalhariam até 21h e levariam mais uma hora pra chegar até lá. Mas ia ter coxinha do Veloso ao invés de “bishcoito Globo”. Água de coco seria da Nestlé, teria área VIP e consumação. Custaria R$ 80 pra entrar, com venda na Ticketmaster e o site ia cair toda quinta-feira. Galera ia reclamar, mas iria, o que geraria inflação para até R$ 620 no verão até que elas fossem privatizadas para a Time4Fun.
Graças à pressão dos paulistanos, o governo cancelaria a execução da Linha 6-Diamante do monotrilho, que chegaria até a orla. O projeto teria previsão de 48 anos para ficar pronto e agora vai ter que esperar um pouco mais, já que em janeiro choveu o mês inteiro e a obra atrasou. Haveria programa de desassoreamento da areia da praia.
Nosso Chico Buarque a correr na praia seria o Lobão, se ainda não fosse proibido praticar esportes. Nosso Jorge Amado seria o Chalita. Nossa “Garota de Ipanema” seria a Viviane Senna e seria a “Executiva dos Jardins”. As mulheres iriam para a praia de salto alto.
Teria banana boat de 10 em 10 minutos, mas o intervalo, na verdade, chegaria a quase 40, e não circularia aos domingos. Sem esquecer o grande aviso: “cuidado com o espaço entre a banana e a plataforma. Você pode se afogar”.
Não haveria salva-vidas, apenas unidades móveis da Guarda Civil Metropolitana. Se São Paulo tivesse praia, não chamaria “praia”, mas “beach pub”, e a prefeitura faria o máximo para tornar a visita impossível. Se tivesse praia em São Paulo, não escreveríamos este artigo. E o Criolo não seria famoso porque existiria amor em SP.
* Texto publicado originalmente no blog Goteira Mental, do jornalista Gustavo Angimahtz
[Os autores são jornalistas e/ou artistas e trabalham em São Paulo. Artigo extraído de um bate-papo informal a partir de um comentário de Juliana Elias nas redes sociais]
NULL
NULL























