Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O Porto de Pecém, no Ceará, recebeu o pedido para desembarcar e armazenar os componentes de uma fábrica de cimento importada da China. A solicitação criou um problema difícil de se resolver: o carregamento ocuparia 40 mil metros quadrados, quase metade da área de armazenagem do terminal.
 
O diretor de Implantação e Expansão de Pecém, Hernani de Carvalho Junior, depois de um mês estudando o pedido,
acabou encontrando uma solução prática. Sugeriu receber os equipamentos em “pulmão”, isto é, divido em duas partes, de maneira que a segunda entre no porto depois da retirada da primeira, reduzindo desta forma a metade do setor ocupado.
 
Mas este pedido incomum é emblemático do processo de industrialização que vive hoje o Nordeste. Boa parte dos investimentos tem sido pela instalação de portos projetados também como complexos manufatureiros e de energia, como é o caso de Pecém e também de Suape, em Pernambuco. O mais velho é o porto de Suape, concebido nos anos 1970, mas que só amadureceu efetivamente na década passada. Conta atualmente com mais de cem empresas instaladas e 130 projetos em andamento, com investimentos estimados em US$ 25 bilhões e cerca de 50 mil empregados na construção.
 
E é neste espelho que Pecém se mira: foi concebido como “um instrumento” de atração de indústrias, contando com dois grandes projetos de arranque: uma usina siderúrgica e uma refinaria de petróleo. Inaugurado em 2002, a 60 quilômetros de Fortaleza, capital do Ceará, hoje, ele compreende um polo industrial e energético em fase de instalação, numa área de 330 quilômetros quadrados em torno do porto, no Atlântico.
 
As indústrias vão chegando. O complexo, coordenado pelo governo do Ceará, já conta com cerca de vinte empresas em pleno funcionamento – de fábricas a empresas de serviços. A construção da siderúrgica está em andamento, com inauguração prevista para 2015, quando poderá produzir até três milhões de placas de aço ao ano, enquanto a Petrobras construirá uma refinaria com capacidade para processar 300 mil barris diários de combustível a partir de 2017.
 
Erosão das praias
 
João Alfredo Melo, vereador em Fortaleza pelo PartidoSocialismo e Liberdade (PSOL), afi rmou que não foi feita uma medição adequada das correntes marítimas e dos ventos, que “são muito fortes em agosto e setembro”. Como exemplo, Melo recordou que apenas iniciadas as operações do porto, um navio chinês não conseguiu atracar por causa dos ventos, “uma vergonha” que se tratou de corrigir com a construção de um quebra-mar em forma de L. O vereador acrescentou que, após a instalação do terminal, começou a erosão das praias a oeste de Pecém, fenômeno semelhante ao observado na capital cearense após a construção de outro porto, há 60 anos.
 
Melo também questiona os efeitos sociais causados pela abrupta queda dos empregos quando as empresas começarem a operar, depois da grande demanda gerada para construir os prédios que formam o polo. “Sem cadeias produtivas” – como será o desenvolvimento da siderurgia com um polo metal-mecânico –, “os empreendimentos anunciados gerarão uma limitada quantidade de postos de trabalho”, afi rmou.
 
Carvalho responde a essa preocupação dizendo que atrás da siderúrgica virá a indústria de laminados e, talvez, uma fábrica de veículos, enquanto a refinaria da Petrobras atrairá o setor petroquímico. Tampouco concorda que o porto cause problemas ambientais. Pecém está a “sete dias da costa da Espanha e a seis de Nova Jersey, nos Estados Unidos”, e sua profundidade de 18 metros no recém-inaugurado Terminal de Múltiplo Uso permite a atracação dos maiores navios “sem necessidade de dragagem”, tudo contribuindo para os baixos custos que atraem as empresas de transporte, afi rmou Carvalho, entusiasmado.
 
Condições atraentes 
 
O porto de Pecém é “offshore”, como são chamados os que possuem atracadouros distantes da costa, neste caso protegidos por um quebra-mar de 1.768 metros de comprimento, unido aos armazéns em terra por pontes ferroviárias e dutos. Agora está em fase de ampliação, com a meta de receber 5,6 milhões de toneladas de carga em 2012, quase o dobro das operações em 2010.
 
Sua grande vantagem logística é se localizar três mil quilômetros mais perto da Europa e dos Estados Unidos do que o Porto de Santos, no Estado de São Paulo, o principal porto brasileiro. Entretanto, seu objetivo principal é impulsionar o desenvolvimento do Ceará, para que também se replique em toda a região Nordeste, ao integrar o polo industrial e atividades portuárias.
 
As indústrias instaladas e projetadas estão separadas do porto por seis quilômetros, espaço destinado a preservar dunas, fauna e flora naturais, em um sistema de reserva ambiental. Os projetos de estradas, uma ferrovia e os dutos, além das isenções de impostos para empresas exportadoras, asseguram as condições atraentes para os investimentos. A isso, somam-se outrosfatores a favor da industrialização do Nordeste, como um mercado em expansão, carente de produção local em muitas áreas, como nos casos do aço e dos derivados de petróleo, e com mão de obra mais barata do que no Centro e Sul desenvolvidos do Brasil, embora com escassa capacitação.
 
A economia do Ceará cresceu 7,9% no ano passado, ficando em terceiro lugar entre os Estados do Nordeste, superado por Pernambuco e Bahia. Essa região registramédias superiores ao crescimento nacional nos últimos anos. Já Pernambuco foi o campeão nacional em 2010, com seu produto crescendo 9,3%, em grande parte devido à contribuição do complexo portuário e industrial de Suape, na região metropolitana de Recife.
 
Texto originalmente publicado no IBAS
 
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PORTOS DE SUAPE E DE PECÉM ATRAEM NOVOS INVESTIMENTOS NO NORDESTE

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