Domingo, 7 de dezembro de 2025
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No bairro mais pobre de Atlantis, as casas têm painéis de geração de energia e aquecedores solares

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Uma cidade na província do Cabo Ocidental, África do Sul, carrega o peso de ter sido destinada à população mestiça expulsa da Cidade do Cabo pelo apartheid, o regime de segregação racial que governou o país até o começo da década de 1990. Trata-se de Atlantis, criada para abrigar os chamados coloured, o grupo étnico sul-africano formado por pessoas miscigenadas (africanos, asiáticos e europeus), que não são consideradas nem negras nem brancas. Agora, a cidade pode mudar sua imagem. A construção de casas ecológicas e de baixo custo para setores pobres é o caminho escolhido para a mudança.

Lançado pela municipalidade da Cidade do Cabo, o projeto tem o objetivo de levantar casas ecológicas para 2.400 famílias de Witsands, o bairro mais pobre de Atlantis, onde reside a minoria de língua xhosa da cidade. As autoridades esperam que a iniciativa seja uma referência para a construção de casas sustentáveis de baixo custo. Dentro do PDR (Programa de Desenvolvimento e Reconstrução), que promete uma casa para cada sul-africano, foram entregues 800 residências ecológicas desde o começo de 2005. A iniciativa é uma colaboração entre a empresa Peer Africa, as universidades da Cidade do Cabo e de Johannesburgo, a companhia nacional de eletricidade Eskom e várias organizações não governamentais.

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Modelo eficiente

As casas de baixo consumo usam o modelo de desenvolvimento de assentamentos humanos com um custo energético e ambiental otimizado, criado pela Peer Africa. O projeto prevê que todas as unidades tenham janelas voltadas para o norte — o que permite concentrar o escasso sol do inverno —, um telhado projetado para proteger as casas das altas temperaturas no verão, e isolamento, especialmente no telhado, que mantém as temperaturas mais quentes e mais amenas.

O pacote inclui também árvores, arbustos e cobertura vegetal, que exigem manutenção contínua. “Temos que devolver o que tiramos”, disse Beth Basset, da Comunidades Verdes, uma organização que oferece jardins para as casas, além de hortas e outros espaços, como parques e áreas de recreação.

Como muitas áreas da província do Cabo Ocidental, Witsands foi construída sobre dunas. São comuns ventos fortes e temperaturas extremas, exacerbadas por um ambiente despojado. “Levaram todo um ecossistema, colocaram as casas e partiram. Não havia caminhos em volta das casas. O vento levava toda a areia e deixava até um metro de fundações descoberto”, afirmou Basset referindo-se a outros projetos do PDR. Com déficit superior a dois milhões de moradias, o impacto de um modelo eficiente que promova uma vida sustentável pode ser enorme.

“A Cidade do Cabo está em uma área de muito vento, com areia solta, o que torna instáveis as estruturas. O verde ao redor das casas é um mecanismo para manter o terreno e prevenir a erosão. Também é uma oportunidade para experimentar e ver como se pode criar um estilo de vida sustentável”, afirmou Ernest Sonnenberg, conselheiro do comitê sobre Assentamentos Humanos da prefeitura local. “Somos os mais pobres dos pobres. Entretanto, usamos a natureza para amenizar o clima em nossa casa. Temos painéis e aquecedores de água solares e economizamos energia. Cada unidade não gasta mais do que 50 rands (US$ 6) por mês com eletricidade”, destacou Makeleni.

Mais segurança

A segunda etapa do projeto, que começou em 2010 com o propósito de construir 1.835 unidades, das quais já entregou 350, acrescentou aquecedores de água com energia solar, módulos fotovoltaicos para iluminar e carregar telefones celulares e, por fim, sistemas de recuperação de águas pluviais. Makeleni pertence a um grupo de mulheres que economiza dinheiro graças ao menor consumo de energia e combustível. “Todos os meses nos reunimos para juntar nossas economias e guardar no banco. Anualmente, dividimos o dinheiro e podemos comprar coisas que precisamos”, contou.

As vantagens econômicas da casa ecológica são óbvias, e também proporcionam benefícios em outras esferas da vida. Várias mães destacaram a segurança dessas moradias. Por não precisarem de aquecedores que utilizam querosene, lâmpadas de óleo e dispensar as fogueiras dentro de casa, são evitados acidentes, como choques por ligações elétricas ilegais e intoxicação por fumaça.

Uma casa “normal” do PDR custa cerca de US$ 12 mil. Deixá-la ecológica agregando painéis solares custa US$ 3 mil a mais, o que não é uma quantia insignificante quando, só no Cabo Ocidental, faltam 400 mil moradias. Contudo, agora a estatal Eskom assume o gasto. “Naturalmente, gostaríamos, como cidade, de reduzir nossa pegada de carbono. Necessitamos buscar formas inovadoras para construir casas mais baratas e de baixo consumo”, acrescentou Sonnenberg.

Segundo o conselheiro da prefeitura, “ainda há lições a aprender com a fase dois de Witsands, que servirão para nossos futuros projetos, mas estamos encantados com os resultados. Só o que podemos dizer é que a cidade deve investir em iniciativas desta natureza”, concluiu.

Tradução Equipe Envolverde

* Texto publicado originalmente na agência internacional IPS

Casas sustentáveis projetam novo futuro para a cidade sul-africana

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