Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O livro póstumo de Virginia Giuffre, principal acusadora do falecido empresário acusado de crimes sexuais Jeffrey Epstein, traz detalhes da rede de pessoas da alta sociedade que abusavam de mulheres jovens. Em Nobody’s Girl, ela conta que foi violentada sexualmente e agredida aos 18 anos pelo ex-primeiro-ministro israelense Ehud Barak.

“Ele me estrangulou repetidamente até eu perder a consciência e se deleitou ao me ver temer pela minha vida”, diz em um trecho do livro. Em outro momento, descreveu como “terrivelmente”, o então primeiro-ministro “riu quando me machucou e ficou ainda mais excitado quando implorei para que parasse. Saí da cabana sangrando pela boca, vagina e ânus”.

No livro lançado recentemente, Virginia Giuffre afirma ter sido escravizada sexualmente por Epstein e revela que manteve relações sexuais com o príncipe Andrew em três ocasiões. Um desses encontros ocorreu quando ela tinha apenas 17 anos. Outro, segundo ela, foi uma orgia que incluiu Epstein, o príncipe e “outros oito jovens”.

O lançamento do livro póstumo de Giuffre, que cometeu suicídio na Austrália em abril aos 41 anos, ocorre após Andrew renunciar a seus títulos reais. Excluído de eventos públicos com a família real desde 2019 devido ao escândalo, sua saída aconteceu depois que trechos da publicação foram divulgados pela imprensa.

No centro dos abusos, ficavam Epstein e sua namorada e confidente Ghislaine Maxwell, que, atualmente, cumpre pena de 20 anos por tráfico sexual. A ligação da família Maxwell com Epstein vem de antes do seu relacionamento com Ghislaine, que é filha do proprietário da mídia britânica, Robert Maxwell.

Ainda não está claro quando Epstein conheceu os Maxwell, alguns alegam que ele foi recrutado para o Mossad, inteligência israelense, por Robert. Outros afirmam que o relacionamento só se estreitou após a morte do patriarca da família.

Relações de Robert Maxwell com o Mossad

Os autores da biografia de Robert Maxwell, Gordon Thomas e Martin Dillon afirmam que o pai da companheira de Epstein, um magnata da mídia, foi recrutado pela inteligência israelense na década de 1960, quando começou a adquirir empresas de tecnologia israelenses. Israel utilizava essas companhias e seus softwares para realizar espionagem e outras operações clandestinas globalmente.

Segundo investigação do jornal independente MintPress News, enquanto expandia suas capacidades de espionagem, Israel desenvolvia um programa secreto de armas nucleares. O projeto foi exposto pelo ativista pacifista israelense Mordechai Vanunu, que, em 1986, vazou provas para a imprensa britânica. Maxwell espionou Vanunu, repassando fotografias e outras informações para a Embaixada de Israel — dados que levaram ao sequestro internacional de Vanunu pelo Mossad e sua posterior prisão.

Maxwell era proprietário de uma série de jornais, incluindo The New York Daily News, o britânico Daily Mirror e o israelense Maariv, além de algumas das editoras literárias e científicas mais influentes do mundo. Em 1964, foi eleito para o Parlamento do Reino Unido.

O MintPress afirma que ele usou sua influência para promover os interesses israelenses, vendendo software de coleta de inteligência para EUA, Reino Unido e diversos outros países. Esse programa incluía um backdoor secreto israelense que permitia ao Mossad acessar informações confidenciais coletadas por governos e agências de inteligência ao redor do mundo.

Novas memórias de Giuffre revelam estupro por Barak e orgias com príncipe Andrew, enquanto arquivos expõem ligação de Maxwell com espionagem nuclear

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Tony Webster/Flickr

O sepultamento de Robert Maxwell no Monte das Oliveiras, em Jerusalém, confirmou sua atuação como espião israelense. A investigação do jornal independente recorda que toda a elite de Israel, tanto governista quanto oposicionista, compareceu ao evento, incluindo seis chefes vivos de agências de inteligência israelenses. Na ocasião, o então presidente Chaim Herzog proferiu o discurso, assim como o ex-primeiro-ministro Yitzhak Shamir, que declarou: “Robert Maxwell fez mais por Israel do que se pode dizer hoje”.

Israel detém muitas das ferramentas de spyware e hacking mais controversas do mundo, utilizadas por governos repressivos para vigiar, assediar e até assassinar opositores políticos. Isso inclui o notório software Pegasus, usado pelo governo da Arábia Saudita para rastrear o jornalista do Washington Post Jamal Khashoggi antes de seu assassinato na Turquia.

Além de grande parte do clã Maxwell ser influente na política norte-americana e israelense, os irmãos Ian e Kevin, filhos de Robert, também exercem influência sobre os negócios na Grã-Bretanha. Em 2018,  eles lançaram o Combate ao Terrorismo e Extremismo Jihadista (CoJiT), um think tank controverso que pressiona por uma abordagem governamental muito mais invasiva e severa contra o islamismo radical.

No Reino Unido, o CoJiT era uma organização altamente influente. Seu conselho editorial e colaboradores eram referência entre altos funcionários do Estado. Entre os participantes de sua conferência inaugural em Londres, em 2018, estavam Sara Khan, Comissária-Chefe do Governo para o Combate ao Extremismo, e Jonathan Evans, ex-diretor-geral do MI5, a agência de inteligência interna britânica.

Epstein e serviços de inteligência

Ao longo da década de 1990, a biógrafa de Epstein, Julie K. Brown, observou que ele se gabava abertamente de trabalhar para a CIA e o Mossad, embora a veracidade de suas alegações permaneça em dúvida. O jornal britânico Sunday Times escreveu em 2000: “ele é o Sr. Enigmático. Ninguém sabe se ele é um pianista de concerto, um incorporador imobiliário, um agente da CIA, um professor de matemática ou um membro do Mossad”.

Epstein também se encontrou com o vice-secretário de Estado dos EUA, William Burns, três vezes em 2014, que posteriormente se foi nomeado diretor da CIA.

Já sua relação com o ex-primeiro-ministro israelense, ministro das Relações Exteriores e ministro da Defesa, Ehud Barak, era mais próxima. Entre 2013 e 2017, os jornais Times Of Israel, YNetNews e The Jerusalem Post revelaram que Barak viajou para Nova York e se encontrou com o criminoso condenado pelo menos 30 vezes, às vezes chegando à sua mansão em Manhattan de forma incógnito ou usando uma máscara para esconder sua identidade.

Ari Ben-Menashe, ex-alto funcionário da Diretoria de Inteligência Militar de Israel, alegou que Epstein era um espião e que ele e Ghislaine Maxwell estavam conduzindo uma operação para enganar Israel. Quatro fontes (anônimas) disseram à Rolling Stone que Epstein havia trabalhado diretamente com o governo israelense.

Ghislaine Maxwell e Epstein

Ghislaine Maxwell e Jeffrey Epstein comandaram uma rede de tráfico sexual que explorou centenas de jovens. Ambos estavam conectados a vastas redes da elite global, incluindo empresários bilionários, membros da realeza, acadêmicos renomados e líderes estrangeiros. Entre seus conhecidos mais próximos, o que gerou intensa especulação sobre a extensão de seu envolvimento em inúmeros crimes.

Condenada em 2021, dois anos após a misteriosa morte de Epstein numa prisão de Manhattan, Maxwell foi considerada culpada pelos crimes de tráfico sexual infantil e posteriormente sentenciada a 20 anos de prisão.

Em meio a especulações sobre sua possível soltura, a filha de Robert prometeu divulgar os Arquivos Epstein. Em junho, Donald Trump, um dos amigos próximos de Epstein e que havia considerado perdoar a traficante sexual durante seu primeiro mandato, afirmou novamente aos jornalistas que ainda tem “permissão para fazê-lo”.

Maxwell foi transferida para uma unidade de segurança mínima em Bryan, Texas. A decisão de realocação ocorreu após a divulgação pública de evidências que ligavam Trump a Epstein, como o cartão de aniversário que Trump enviou a Epstein, com uma mulher nua desenhada à mão, acompanhado do texto: “Feliz Aniversário — e que cada dia seja mais um segredo maravilhoso”.