Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O governo da Venezuela emitiu neste domingo (26/10) um comunicado de forte teor diplomático denunciando uma “provocação militar” organizada pelos Estados Unidos em coordenação com o governo de Trinidad e Tobago. “A operação militar programada para 26 a 30 de outubro constitui uma provocação hostil que ameaça a paz em toda a região do Caribe”, diz o texto.

Segundo Caracas, os exercícios navais representam uma “ameaça direta à estabilidade regional”, e têm como objetivo criar “um conflito armado no Caribe sob o financiamento e controle do Comando Sul dos EUA”. O alerta foi divulgado poucas horas após a chegada do navio de guerra norte-americano USS Gravely ao porto de Port of Spain, capital de Trinidad e Tobago.

O governo venezuelano qualificou o gesto como “uma expressão das intenções dos EUA de causar uma guerra pelo petróleo venezuelano” e anunciou ter capturado “um grupo de mercenários com informações diretas da agência de inteligência dos EUA”.

Segundo Caracas, “um ataque de bandeira falsa está em andamento a partir das águas que fazem fronteira com Trinidad e Tobago, ou do território de Trinidad ou Venezuela, projetado para gerar um confronto militar completo contra a nação sul-americana”.

Comparações históricas e riscos de guerra regional

No comunicado, a Venezuela traçou paralelos entre os atuais exercícios navais e episódios históricos que precederam guerras promovidas pelos Estados Unidos. O governo venezuelano comparou o cenário às provocações do Encouraçado Maine, em 1898, e do Golfo de Tonkin, em 1964 — incidentes que serviram de pretexto para as guerras contra a Espanha e no Vietnã, respectivamente.

Caracas também acusou os Estados Unidos de tentar reeditar a lógica intervencionista das décadas de 1980 e 1990, “agora sob a fachada da luta contra o narcotráfico e da segurança regional”, mas com o verdadeiro propósito de “controlar os recursos energéticos e desestabilizar governos soberanos”.

A nota oficial da Venezuela mencionou diretamente a primeira-ministra Kamla Persad-Bissessar, acusando-a de “renunciar à soberania nacional para transformar o território caribenho em uma base militar subordinada aos interesses hegemônicos dos EUA”.

Para Caracas, essa postura “busca transformar Trinidad e Tobago em um porta-aviões para operações militares contra a Venezuela, a Colômbia e toda a América do Sul”.

“Ao se curvar à agenda militarista de Washington, Persad-Bissessar pretende atacar a Venezuela, um país que sempre manteve uma política de cooperação energética, respeito mútuo e integração caribenha”, destacou o documento.

O governo bolivariano também alertou que as manobras representam uma “violação direta dos tratados de boa vizinhança e integração regional”, colocando em risco os mecanismos multilaterais de paz estabelecidos pela CELAC e pela CARICOM.

 

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Ameaças à paz caribenha

A Venezuela sustentou que os exercícios militares em curso violam diversos instrumentos jurídicos internacionais, incluindo a Carta das Nações Unidas e a proclamação da América Latina e do Caribe como Zona de Paz, aprovada pela CELAC.

“Não se trata de exercícios defensivos: trata-se de uma operação colonial de agressão militar que busca transformar o Caribe em um espaço de violência letal e dominação imperial dos EUA”, advertiu o comunicado.

O documento também faz acusações severas contra as autoridades de Trinidad e Tobago, alegando que o atual governo “executa pescadores inocentes no Mar do Caribe por meio de ações extrajudiciais”, e que promove o chamado “matar todos”, enquanto “abre as portas para tropas estrangeiras assassinas”.

Segundo o governo venezuelano, essas ações “revelam o caráter repressivo e criminoso do atual governo” e rompem “os laços históricos de irmandade entre os povos caribenhos”.

Defesa nacional e mobilização popular

O governo venezuelano encerra o comunicado reafirmando sua disposição de resistir a qualquer tentativa de agressão externa. “A Venezuela rejeita categoricamente as ameaças de qualquer governo que se considere vassalo dos Estados Unidos”, declarou.

As Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB), segundo o texto, permanecerão em alerta máximo e “mobilizadas em perfeita união popular-militar-policial diante dessa gravíssima provocação”.

Para Caracas, o episódio confirma uma escalada planejada para “testar os limites da paciência venezuelana” e criar um incidente que justifique “intervenções políticas e militares no Caribe”.

O governo concluiu reafirmando que “a paz e a soberania são princípios inegociáveis da Revolução Bolivariana” e que qualquer agressão será respondida “com firmeza, legitimidade e o apoio do povo venezuelano e das nações solidárias do mundo”.

*Com TeleSur