Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) exigiu, nesta quinta-feira (07/08), “acesso desimpedido” para combater o surto de cólera no Sudão, país que está em guerra desde 2023 e sob a maior crise humanitária do mundo.

Segundo a ONU, é necessário administrar 1,4 milhão de doses de vacina oral contra a cólera. Desde 21 de junho, quando foi detectado o primeiro caso, mais de 2.140 pessoas foram infectadas, incluindo 300 crianças, e pelo menos 80 pessoas nos cinco estados da região sudanesa de Darfur morreram.

“Para evitar mais mortes, o Unicef apela ao governo [do Sudão] e às partes interessadas a facilitarem, em caráter de urgência, o acesso sustentado, desimpedido e seguro às crianças na localidade de Tawila e em todos os estados do Darfur”, afirmou as Nações Unidas.

O Unicef ainda detalhou que necessidade dos “esforços de urgência” incluem a educação em saúde para o tratamento precoce da doença, gestão local de casos, vigilância, prevenção e formação de voluntários de saúde comunitária, além de fornecimento de kits de higiene básica.

De acordo com o representante da Unicef no país, Sheldon Yett, a cólera é “prevenível e facilmente tratável” mas está “devastando Tawila e outras partes do Darfur, ameaçando a vida das crianças, especialmente as menores e mais vulneráveis”.

Além dos desafios já mencionados, Yett explica que enquanto os agentes humanitários “trabalham incansavelmente” para conter a propagação da bactéria, “a violência implacável aumenta as necessidades mais rapidamente do que possam ser satisfeitas”.

Os esforços são dificultados pelo bloqueio do acesso humanitário, saques e ataques aos comboios de ajuda e os impedimentos burocráticos à entrega de fornecimentos e serviços.

Segundo a Unicef, desde abril mais de 500 mil deslocados internos refugiaram-se em Tawila, a cerca de 70 km da capital do estado de Al Fasher, onde os combates continuam. Na região, o bombardeamento de hospitais forçou unidades de saúde próximas ao palco dos combates e arredores a fecharem as portas.

Os civis também enfrentam situações de escassez de alimentos, água e abrigo. O acesso limitado para suprir as necessidades básicas aumentam o risco de propagação de doenças mortais.

De acordo com as Nações Unidas, estudos apontam que o número de crianças com subnutrição aguda grave no Darfur do Norte duplicou no último ano, elevando suas probabilidades de contraírem e morrerem por cólera.

Civis no Sudão enfrentam situações de escassez de alimentos, água e abrigo
United Nations Sudan/X

Massacre em campo de refugiados

Em meio à crescente violência no país africano, uma investigação do jornal britânico The Guardian afirmou que mais de 1.500 civis podem ter sido massacrados no mês de abril em um ataque contra o maior campo de refugiados do Sudão, o campo de Zamzam, em Darfur do Norte.

De acordo com o periódico, o ataque das do grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF), que teve a duração de 72 horas, pode ser “o segundo maior crime de guerra do conflito catastrófico do país”.

A investigação apontou para “repetidos testemunhos de execuções em massa e sequestros em larga escala” e que “centenas de civis continuam desaparecidos” meses após os crimes, cometidos entre 11 e 14 de abril – na véspera de uma conferência do Reino Unido sobre o conflito no país.

Enquanto a ONU fala que “centenas” morreram, a análise indica que até 400 civis não árabes foram mortos durante o ataque de três dias. Outro comitê criado para investigar a quantidade de vítimas “já contabilizou mais de 1.500 mortos”.

De acordo com Mohammed Sharif, parte do comitê da antiga administração de Zamzam, o número pode ser significativamente maior porque muitos corpos não foram recuperados do campo, agora administrado pelas RSF.

“A magnitude das prováveis baixas significa que o ataque da RSF fica atrás apenas de um massacre étnico semelhante em Darfur Ocidental, dois anos atrás”, pontua o Guardian.

Abdallah Abugarda, da Associação da Diáspora de Darfur do Reino Unido, classificou o massacre de Zamzam como “um dos crimes mais hediondos da história global recente”, mas que não atraiu “indignação global”.

Já Claire Nicolet, chefe adjunta de emergências da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), afirmou que o ataque teve como alvo “um dos povos mais vulneráveis do planeta” e que os que não morreram, são consecutivamente saqueados, violentados sexualmente, e enfrentam condições de vida precárias em deslocamento.

O Tribunal Penal Internacional (TPI) já reconheceu a existência de “motivos razoáveis” para concluir que crimes de guerra e crimes contra a humanidade estão sendo cometidos em Darfur.

(*) Com UN News