Trump diz que abraçou Lula na ONU e cita reunião na próxima semana
Presidente dos EUA falou que líder brasileiro 'gostou' dele; discurso atacou Nações Unidas, China, Rússia e União Europeia
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, revelou ter marcado uma conversa com o homólogo brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva para a próxima semana, explicando que durante o breve encontro que teve com o chefe de Estado sul-americano na 80ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), nesta terça-feira (23/09), “pareceu um homem muito agradável”.
“Tive uma química ótima com o presidente do Brasil (…) Ele parece ser um cavalheiro, muito gentil. Na verdade, ele gostou de mim”, disse o republicano. “Eu estava entrando e o líder do Brasil estava saindo. Nós nos vimos, eu o vi, ele me viu, e nos abraçamos. (…) Nós realmente combinamos de nos encontrar na próxima semana. Não tivemos muito tempo para conversar, uns 20 segundos. (…) Mas nós conversamos, tivemos uma boa conversa e combinamos de nos encontrar na próxima semana, se isso for de interesse”.
O republicano foi o segundo chefe de Estado a se manifestar no evento internacional, em uma longa exposição de 55 minutos, logo depois de Lula que, por sua vez, adotou em seu discurso um tom crítico à governança intervencionista do norte-americano.
Ataque à ONU e questão migratória
Trump iniciou a sua exposição global atacando a própria ONU. O mandatário questionou a competência da entidade internacional ao alegar que foi ele o responsável pelo fim de sete conflitos, incluindo a recente guerra de 12 dias entre Israel e Irã.
“É uma pena que eu tenha que fazer essas coisas em vez de as Nações Unidas fazê-las”, disse. “Qual é o propósito das Nações Unidas? A ONU tem um tremendo potencial. Eu sempre disse isso. Tem um potencial tremendo, tremendo. Mas não está nem perto de viver de acordo com esse potencial. Na maioria das vezes, pelo menos por enquanto, tudo o que eles parecem fazer é escrever uma carta com palavras realmente fortes e nunca seguir essa carta”.
De acordo com o republicano, os países devem seguir a abordagem norte-americana de governança para um “futuro dramaticamente melhor”. “Eu teria que ganhar o Prêmio Nobel da Paz”, acrescentou.
Ainda dando continuidade aos ataques à ONU, Trump acusou o órgão pelo suposto financiamento de pessoas que chegam “ilegalmente” aos EUA, descrevendo o ingresso de imigrantes como “invasões”.
“A ONU apoia as pessoas que chegam ilegalmente aos Estados Unidos e depois temos que expulsá-las (…) As Nações Unidas devem acabar com as invasões, não criá-las”, disse.
Na avaliação do republicano, os EUA estão atualmente em sua “era de ouro”. Trump investiu boa parte de seu discurso elogiando a repressão norte-americana aos imigrantes, instruindo as outras nações a seguirem a sua política.
Nessa linha, o mandatário chegou a congratular o governo de El Salvador “pelo trabalho bem-sucedido e profissional que fizeram ao receber e prender tantos criminosos que entraram em nosso país”. Vale lembrar que Washington tem deportado centenas de imigrantes – a maioria venezuelanos – sob acusação de integrarem grupos criminosos, encaminhando-as forçadamente para a megaprisão de segurança máxima salvadorenha.
“Oriento o resto dos países a fazerem o mesmo, a defenderem suas fronteiras. A Europa está em apuros, foram invadidos por uma força de estrangeiros ilegais e ninguém faz nada para expulsá-los. Não é sustentável, pois escolheram ser politicamente corretos, não fizeram nada a respeito”, enfatizou. “Chegou a hora de acabar com as fronteiras abertas”.

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas
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Reconhecer Palestina é ‘recompensa’ para Hamas
Maior aliado de Israel, o presidente norte-americano continuou seu discurso dizendo estar “profundamente engajado” na busca de um cessar-fogo na Faixa de Gaza. A fala, entretanto, contrapôs o veto apresentado pelos próprios EUA dias atrás no Conselho de Segurança da ONU, decisão que novamente barrou a resolução que previa o fim permanente e imediato dos ataques do regime sionista no enclave.
“Temos que parar a guerra em Gaza imediatamente. Temos que parar com isso. Temos que fazer isso. Temos que negociar a paz. Temos que recuperar os reféns. Queremos todos os 20 [israelenses] de volta”, sustentou. “Temos que recuperá-los agora. Na verdade, queremos os 38 cadáveres de volta também”.
Contudo, o republicano voltou a acusar o Hamas de “rejeitar repetidamente ofertas razoáveis para fazer a paz” – uma alegação já desmentida pelo grupo palestino, que atribui a Israel os sucessivos bloqueios para um acordo de cessar-fogo. Enquanto isso, o governo de Benjamin Netanyahu segue pondo em prática o seu plano de ocupação total do território palestino, bombardeando a região e promovendo um deslocamento massivo e forçado na Cidade de Gaza, principal centro urbano do enclave.
Nos últimos dias, diversos países, incluindo aqueles que integram o G7, afirmaram o reconhecimento de um Estado palestino, sendo a França um dos que mais recentemente se posicionaram. Para Trump, isso foi nada mais do que uma “recompensa” para o Hamas.
Ameaça a sanções contra Rússia
Sobre a guerra na Ucrânia, Trump acusou a China de ser o principal financiador do conflito por seguir comprando petróleo russo.
“No caso da Rússia não estar pronta para fazer um acordo para acabar com a guerra, os Estados Unidos estão totalmente preparados para impor uma rodada muito forte de tarifas poderosas”, voltou a ameaçar. Para isso, sustentou que os aliados europeus deveriam “se juntar” aos EUA “adotando as mesmas medidas”.
Vale lembrar que o presidente norte-americano garantiu que seria capaz de dar fim ao conflito nos primeiros dias de seu mandato presidencial, o que na prática, não aconteceu. Trump admitiu que achava que seria mais fácil acabar com a guerra porque seu relacionamento com Putin, em sua avaliação, “sempre foi bom”.
‘Vamos destruir os terroristas venezuelanos’
Em relação às suas atividades militares na costa da Venezuela sob pretexto de combate ao narcotráfico – as quais foram condenadas pelos países latino-americanos e caribenhos, incluindo pelo presidente Lula no discurso que antecedeu – Trump declarou que se prontificará a eliminar o que chamou de “terroristas” e chegou a mencionar líder bolivariano Nicolás Maduro.
“O M13 e o Tren de Aragua são organizações que torturam, mutilam, assassinam impunemente. Começamos a usar o poder supremo do Exército para destruir os terroristas venezuelanos e as redes de narcotráfico lideradas por Nicolás Maduro. Todos aqueles que transportam drogas da América Latina sabem que vamos bombardeá-los, não temos escolha. (…) Cada navio que afundamos carregava drogas que matariam 25.000 americanos”, alegou o norte-americano.
Agenda verde é ‘golpe’
No encerramento de seu discurso, Trump, que iniciou sua gestão retirando seu país do Acordo de Paris, criticou a agenda verde dos países europeus. Segundo ele, muitas previsões sobre as mudanças climáticas “estavam erradas, foram feitas por gente burra”.
“A energia verde é um golpe e seu país vai falir”, disse. “Para encerrar, só quero repetir que a imigração e o alto custo da chamada energia renovável verde estão destruindo grande parte do mundo livre e grande parte do nosso planeta”.
Na avaliação do norte-americano, as medidas políticas que envolvem especificamente os assuntos migratórios e climáticos são responsáveis pela falência dos “países que prezam a liberdade”. “Você precisa de fronteiras fortes e fontes de energia tradicionais se quiser ser grande novamente, quer tenha vindo do norte ou do sul, do leste ou do oeste, de perto ou de longe”, acrescentou.























