Trump autoriza operações da CIA na Venezuela; Maduro responde: 'não queremos guerra'
Em comunicado, Caracas convoca apoio da comunidade internacional e aponta que objetivo de Washington é 'se apropriar dos recursos petrolíferos venezuelanos'
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou na noite desta quarta-feira (15/10) ter autorizado a Agência Central de Inteligência (CIA) a realizar ações secretas e letais dentro da Venezuela visando, declaradamente, a queda do governo de Nicolás Maduro.
A informação, inicialmente revelada pelo The New York Times, foi confirmada pelo próprio Trump em entrevista na Casa Branca. “A Venezuela está sentindo a pressão”, afirmou o republicano, sem descartar a possibilidade de ações em terra: “certamente estamos olhando para a terra agora, porque temos o mar muito bem controlado”.
A autorização, informa o jornal, concede à CIA poder de atuar com autonomia em território venezuelano, inclusive em coordenação com operações militares de larga escala. O poder de declarar guerra, no entanto, é exclusivo do Congresso, o que requer apoio do Partido Democrata.
“A estratégia do governo Trump para a Venezuela, desenvolvida pelo Secretário de Estado Marco Rubio, com a ajuda de John Ratcliffe, o diretor da CIA, visa tirar o Sr. Maduro do poder”, afirma a reportagem.
Em resposta às declarações de Washington, o presidente venezuelano Nicolás Maduro repudiou a decisão, classificando-a como uma tentativa de “golpe de Estado patrocinado pela CIA”. Ele também mandou uma mensagem aos norte-americanos: “digo ao povo dos Estados Unidos: não à guerra. Não queremos uma guerra no Caribe e na América do Sul”; e frisou em inglês: “not war, please, listen to me”. [Não à guerra, por favor, me escutem]”.
‘Chega de golpe da CIA’
“Chega de golpes da CIA. Não à mudança de regime, que tanto nos lembra das guerras eternas e fracassadas no Afeganistão, no Iraque, na Líbia e assim por diante”, afirmou Maduro durante o ato pelo Dia da Resistência Indígena.
“Não aos golpes de Estado realizados pela CIA, que tanto nos lembram os 30.000 desaparecidos por esta organização, os golpes de Estado contra a Argentina, o golpe de Estado de Pinochet no Chile e os cinco mil assassinados e desaparecidos”, frisou, ao afirmar que “a América Latina não os quer, não precisa deles e os repudia”.
Maduro também criticou os que estão fora do país e convocam os Estados Unidos a atacarem a Venezuela. “É uma covardia não dar a cara, se esconder em Miami e pedir para bombardear ou atacar militarmente uma pátria de gente nobre, que só trabalha e vive em paz, como a Venezuela”, disse.

Trump autoriza ações secretas da CIA na Venezuela
Daniel Torok / White House Flicker
Resposta de Caracas
Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela afirmou que “tais manobras buscam legitimar uma operação de ‘mudança de regime’ com o objetivo final de se apropriar dos recursos petrolíferos venezuelanos“. Leia a íntegra do comunicado:
A República Bolivariana da Venezuela rejeita as declarações belicistas e extravagantes do presidente dos Estados Unidos, nas quais ele admite publicamente ter autorizado operações destinadas a agir contra a paz e a estabilidade da Venezuela. Essa afirmação sem precedentes constitui uma gravíssima violação do Direito Internacional e da Carta das Nações Unidas, e obriga a comunidade internacional a denunciar tais declarações claramente desmedidas e inconcebíveis.
Observamos com extrema preocupação o uso da CIA, assim como os desdobramentos militares anunciados no Caribe, que configuram uma política de agressão, ameaça e assédio contra a Venezuela.
É evidente que tais manobras buscam legitimar uma operação de ‘mudança de regime’ com o objetivo final de se apropriar dos recursos petrolíferos venezuelanos. Da mesma forma, as declarações do mandatário norte-americano buscam estigmatizar a migração venezuelana e latino-americana, alimentando discursos xenófobos e perigosos.
Na reunião extraordinária de chanceleres da CELAC, convocada pela Presidência Pro Témpore da Colômbia, a Venezuela apresentou formalmente essa denúncia e exigiu uma resposta regional imediata. Amanhã, nossa Missão Permanente junto à ONU levará essa denúncia ao Conselho de Segurança e ao Secretário-Geral, exigindo que o Governo dos Estados Unidos preste contas e que sejam adotadas medidas urgentes para impedir uma escalada militar no Caribe, zona declarada de paz pela CELAC em 2014. A comunidade internacional deve compreender que a impunidade diante desses atos terá consequências políticas perigosas que precisam ser detidas imediatamente.
Presença militar
Em agosto deste ano, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos ofereceu uma recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à prisão de Maduro. Na sequência, foram enviados oito navios de guerra, um submarino e aeronaves militares para o Caribe, além de uma força militar com 10 mil soldados, em uma área próxima à costa venezuelana.
Washington alega se tratar de uma operação contra o tráfico internacional de drogas, e acusa o país de ser um Estado narcoterrorista. Segundo relatório das Nações Unidas, apenas 5% da produção de narcóticos na América Latina passam pelo país.























