Sábado, 6 de dezembro de 2025
APOIE
Menu

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma intervenção inédita em Washington DC nesta segunda-feira (11/08). Após descrever a capital do país como uma “cidade sem lei”, ele ordenou o envio de 800 soldados da Guarda Nacional para a região e assumiu o controle de sua Polícia Metropolitana. A decisão, com base na Lei de Autogoverno do Distrito de Columbia, terá duração de 30 dias e somente poderá ser prorrogada com autorização do Congresso.

Alegando o “Dia da Libertação em DC”, em suas redes sociais, Trump descreveu Washington como “uma das cidades mais perigosas do mundo” e justificou a medida como resposta a um suposto cenário de “crime, derramamento de sangue, caos e miséria”. No entanto, os dados oficiais do próprio Departamento da Polícia Metropolitana de Washington contradizem este cenário e evidenciam que o nível de crimes violentos na cidade está em seu patamar mais baixo nos últimos 30 anos.

A tendência, inclusive, é de queda: em 2025, o número de crimes violentos caiu 26% em comparação com o ano anterior; o mesmo vem ocorrendo em relação aos roubos que diminuíram 29% no mesmo intervalo. Contra todas as evidências, no entanto, o secretário de Defesa, Pete Hegseth, afirmou que as tropas federais “serão fortes, duras e trabalharão lado a lado com as forças da lei”.

A prefeita de Washington, Muriel Bowser, considerou a intervenção de Trump “desconcertante e inédita”, destaca The Guardian. “Acredito que todos os americanos entendam que não é legal usar o Exército contra cidadãos americanos em solo americano”, afirmou. Ela solicitou uma reunião com a procuradora-geral Pam Bondi, agora responsável pelo comando da polícia local. Para o reverendo Al Sharpton, com a medida, Trump busca “distrair” a atenção da opinião pública e desviá-la da pressão pela abertura dos arquivos de Jeffrey Epstein.

Militarização

Neste ano, destaca o NYT, Trump intensificou o uso de forças militares em ações no território americano. Quase todos os soldados da Guarda Nacional foram mobilizados: 10 mil enviados à fronteira com o México; 4.700 integrantes deslocados para reprimir os protestos em Los Angeles. Em julho, também foi autorizado o uso de força militar contra cartéis latino-americanos, classificados pelo governo como organizações terroristas.

Segundo o Pentágono, os militares atuarão em logística, transporte e como “presença física” na capital federal, mas eles terão autorização para deter as pessoas temporariamente, até a chegada da polícia federal. “Vocês os verão invadindo as ruas de Washington na próxima semana”, comemorou Hegseth.

Após descrever Washington como “cidade sem lei”, Trump ordena o envio de 800 soldados da Guarda Nacional e assume controle sobre as forças policiais
Daniel Torok / White House

Carrie A. Lee, ex-chefe do Departamento de Segurança Nacional e Estratégia da Escola de Guerra do Exército afirmou a jornal que soldados treinados para combate e portando fuzis M-16 serão usados para funções domésticas. “Seja na imigração, no combate aos cartéis ou ao crime em Washington, está muito claro que este governo vê as Forças Armadas como uma solução única para suas prioridades políticas domésticas”, afirmou.

Para o senador Jack Reed, de Rhode Island, líder democrata no Comitê de Serviços Armados, “as Forças Armadas são treinadas para defender a nação de ameaças externas e ajudar comunidades em desastres, não para fazer policiamento cotidiano”.

A reportagem do NYT aponta que isso tem consequências. Integrantes da Guarda Nacional da Califórnia relataram ao jornal que a repressão aos manifestantes em Los Angeles abalou o moral da tropa que foi reprimir a mesma população que os recebeu calorosamente em janeiro em meio ao combate dos incêndios florestais.