Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O Tribunal Penal Internacional (TPI) anunciou nesta segunda-feira (03/11) a abertura de uma nova investigação sobre supostos assassinatos em massa, estupros, desaparecimentos e crimes contra a humanidade cometidos em El Fasher, no Sudão, uma semana após as Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), grupo de paramilitares, capturarem o último reduto do Exército sudanês na cidade.

De acordo com o órgão judicial, já estão em curso a coleta de evidências e, em análise, os depoimentos fornecidos pelos sobreviventes. A corte também mencionou a obtenção de “relatos consistentes de atrocidades”. Além disso, a investigação coincide com informações recentemente divulgadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que denunciou que homens armados chegaram a matar pelo menos 460 pessoas em um hospital e sequestraram médicos e enfermeiras.

“A escala e a brutalidade dos ataques contra civis, especialmente em El-Fasher, exigem resposta imediata da comunidade internacional. O tribunal está mobilizando todos os mecanismos disponíveis para garantir que os responsáveis sejam levados à justiça”, declarou o procurador-chefe do TPI, Karim Khan, acrescentando que as atrocidades recentes “podem constituir uma das maiores campanhas de violência étnica desde o genocídio de 2003″ e crimes de guerra.

Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM) na noite de domingo (02/11), há um fenômeno de deslocamento em massa.: mais de 36 mil pessoas deixaram o estado de Kordofan do Norte, localizado a algumas centenas de quilômetros a leste do Darfur, após a tomada de El Fasher em 26 de outubro. De acordo com a agência de migração das Nações Unidas (ONU), os cidadãos se dirigiram à cidade de Tawila, que já contabiliza mais de 652 mil pessoas, em busca de abrigo.

Nas últimas semanas, o centro de Kordofan tem configurado uma zona de disputa na guerra que já dura mais de dois anos entre o exército regular e as RSF, já que a região é estratégica por conectar as províncias sudanesas de Darfur e a área ao redor da capital Cartum.

Nesta segunda-feira, em comunicado, a presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Mirjana Spoljaric, alertou que a “história está se repetindo” ao comparar o cenário recente com o genocídio ocorrido em Darfur há mais de 20 anos. Na ocasião, “as milícias árabes Janjaweed foram cooptadas pelo regime de Omar al-Bashir para ajudar a suprimir uma insurgência de grupos étnicos não árabes”, de acordo com o jornal britânico Guardian, que acrescenta que “o Janjaweed evoluiu para as RSF”.

Guerra no Sudão já dura mais de um ano
Conselho Norueguês para Refugiados

A principal autoridade internacional em crises de fome, a Classificação Integrada das Fases da Segurança Alimentar (IPC, na sigla em inglês), afirmou que a fome foi identificada em El Fasher e Kadugli, no Kordofan do Sul. Ainda de acordo com a organização, mais de 15 áreas em Darfur e no Cordofão também correm risco de fome.

Trata-se de uma das piores crises humanitárias do século 21, conforme a ONU, estimando que mais de 150 mil pessoas tenham sido assassinadas e mais de 14 milhões deslocadas desde o início da guerra. No domingo, durante o seu discurso semanal, o papa Leão chegou a fazer um apelo por um cessar-fogo imediato e pela abertura de corredores humanitários no Sudão ao denunciar um “sofrimento inaceitável” no país.