Sábado, 6 de dezembro de 2025
APOIE
Menu

A vitória da legenda governista, Liberdade Avança, nas eleições legislativas da Argentina, celebrada como demonstração de força política do atual presidente Javier Milei, não dissipou as incertezas sobre o rumo da taxa de câmbio, que já pairava antes do pleito.

Apenas 48 horas após o resultado eleitoral, o dólar voltou a superar a marca de 1500 pesos, enquanto o câmbio no mercado atacadista encostou no teto da banda de flutuação acordada com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Na segunda-feira (27/10), o dólar saltou de 1320 para 1450 e chegou a 1505 pesos nesta terça (28/10), antes de recuar levemente.

Segundo reportagem da Página 12, a reação imediata dos mercados, de bancos de investimento e de poupadores indica que, para os agentes financeiros, a cotação atual permanece artificialmente baixa.

Relatórios do Morgan Stanley, JP Morgan, FMI e Tesouro dos EUA convergem na recomendação de que o câmbio do país seja ajustado. O Morgan chegou a estimar que, com o resultado eleitoral favorável ao governo, o “valor lógico” da moeda seria 1700 pesos, aponta o texto.

Em meio às flutuações cambiais, o ministro da Economia, Luis Caputo, partiu para o ataque contra as forças políticas do país. Ele publicou uma mensagem nas redes sociais insistindo na defesa de seu plano econômico e atacando o kirchnerismo, ao mencionar o chamado “Risco Kuka”.

“Mais do que nunca nesta eleição, o risco Kuka era evidente. Já estava claro em agosto de 2019, quando Macri perdeu as primárias por uma ampla margem. Mas se alguém tinha alguma dúvida, não há mais”, escreveu.

Tensão cambial continua na Argentina apesar da vitória governista
@GonzaRocaCBA

Ele afirmou ainda que os investimentos no país dependem da eliminação dessa possibilidade: “a alternativa política não pode mais ser o kirchnerismo/comunismo. Nenhum país sério oferece tamanha volatilidade política.”

Caputo também disse que abandonar o esquema de bandas cambiais significaria questionar todo o seu programa econômico. Conforme explica Página 12, o sistema de câmbio com piso e teto é a base da política que manteve a inflação em desaceleração nos últimos meses, porém, isso exige que o Estado evite acumular reservas.

Este é ponto de conflito entre o governo Milei e os Estados Unidos/FMI, que o pressionam a recomprar dólares para reduzir a vulnerabilidade cambial. O governo argentino, no entanto, recusa-se a acumular reservas para que os preços não disparem.

Segundo o jornal argentino, quando o Tesouro norte-americano completar a operação de conversão dos pesos adquiridos, poderá recuperar mais de US$ 2,1 bilhões, o que tende a adicionar ainda mais pressão na moeda.