Sexta-feira, 12 de dezembro de 2025
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Adrian Salgado está desesperado. O gerente de um restaurante no centro da Cidade do México recebeu a notícia do surto de gripe suína com fatalismo. 

A situação econômica já não era muito animadora nas últimas semanas na zona Polanco, um dos bairros mais movimentados da cidade e onde o restaurante está localizado. Com o temor do contágio, os bares, restaurantes e lojas foram fechadas desde o sábado passado (25). “Não tem ninguém na rua” conta por telefone ao Opera Mundi. 

As pizzas, carpaccios e risotos que seu restaurante, chamado Santino, costuma oferecer estão sem clientes. Salgado não pode voltar a abrir as portas antes do dia 5 de maio a princípio, segundo foi proposto pelo governo. “Nem serviço de entrega está funcionando na cidade ultimamente”, acrescenta o gerente.

Salgado diz que sua situação financeira ainda não está crítica, mas logo precisará de ajuda do governo. “Como trabalhamos com o Amex (empresa de cartões de crédito), ainda não estamos passando aperto, pois ela nos dá sete dias para fazer os pagamentos. Se os restaurantes continuarem fechados depois disso, precisaremos de um aporte governamental”. 

No Santino, que funciona há dois anos e meio, trabalham 45 pessoas, Salgado diz que se a crise perdurar, ele terá que pensar em demitir uma boa parte deles.



Humor: livraria na Cidade do México oferece desconto na compra de um livro, ou “vacina contra a ignorância” – José Mendez/EFE 

“Maquiladoras” abandonadas

A economia mexicana já passava por momentos difíceis devido à crise mundial iniciada nos Estados Unidos. Com a assinatura em 1994 do tratado de livre-comércio com EUA e Canadá, o Nafta, o México passou a depender cada vez mais de seu vizinho do norte. Mais de 85 % das exportações mexicanas estão destinados ao mercado norte-americano. 

Na fronteira, as chamadas “maquiladoras” – empresas especializadas na montagem de componentes para a exportação – estão sendo abandonadas por falta de demanda. No mês passado a produção industrial do país registrou uma queda de 13 %, a maior desde 1996.

Outro efeito da crise nos Estados Unidos foi a queda brutal das remessas enviadas no país pelos milhões de imigrantes mexicanos. No ano passado foram recebidos cerca de 25 bilhões de dólares, a maior cifra entre os países latino-americanos. Foi a primeira fonte de renda do país, ultrapassando o petróleo e o turismo. Calcula-se que o número deve cair entre 8 e 10% esse ano.  

Empréstimo ao FMI

Antes mesmo do anúncio do surto de gripe, o governo mexicano previa uma recessão entre 1% e 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2009, mas dados recentes mostram números diferentes, espera-se que a queda seja entre -3,8% e -4,8%. Na semana passada, o México foi o primeiro país a se beneficiar da “linha flexível de crédito” do FMI (Fundo Monetário Internacional), um financiamento sem as tradicionais condições – como intromissão na política de juros ou metas de inflação que o organismo costumava ditar.

Este empréstimo, de 47 bilhões de dólares (cerca de 108 bilhões de reais) é o maior acordo financeiro já feito pelo órgão. É mais do que o dobro do que o FMI autorizou para o Brasil em agosto de 2002 – no final da gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – quando o país temia ser contagiado pela crise argentina.

Com o surto de gripe, é a vez do mercado interno – o país tem 100 milhões de habitantes – ficar paralisado. A experiência de Adrian Salgado se repete em toda a capital, tal como no estado de México. Além dos bares e restaurantes, a maioria dos estabelecimentos culturais, como teatros, museus, bibliotecas e casas de espetáculos, est com as portas fechadas, seguindo a recomendação das autoridades de saúde.

O tradicional jogo de futebol do final de semana também foi cancelado da agenda dos mexicanos. Os times se enfrentaram em estádios fechados, com direito a transmissão pela televisão.

Cancelamento de viagens

Mas a maior preocupação atual é o turismo. A segunda maior fonte de renda do México, já fragilizada pela crise econômica no final do ano passado, deverá ser muito afetada. Em 2007, as atividades turísticas geraram 8% do PIB do país. O México é o país mais visitado na América Latina.   



Grupo de turistas usa máscaras em Cancún, México – 28/04/2009 – Elizabeth Ruiz/EFE 

Das agências brasileiras consultadas pelo Opera Mundi, apenas uma teve um caso de cancelamento feito por temor à gripe. A operadora, porém, disse acreditar que esse número aumentará.

Essa também é a opinião de Scheila Falleiros, a atendente de uma outra agência brasileira especializada em viagens ao México, que até agora não registrou nenhum cancelamento de reserva. Apesar de receber com preocupação as notícias, Falleiros quer manter o otimismo: “se o surto não durar muito e se o alarme não subir, é capaz que o movimento volte ao normal”. 

A secretaria de Turismo da Cidade do México não quis se pronunciar a respeito e disse que até o momento não tinham nenhum dado confirmado a respeito de quedas no turismo da cidade.

Para Alberto Ramos, economista sênior para América Latina do banco de investimentos Goldman Sachs, o impacto final da doença sobre a economia do país vai depender da duração da crise sanitária. 

Se diminuir a contaminação, a recuperação irá acontecer eventualmente. No entanto, “se se passarem meses até a contenção do surto, teremos um cenário parecido com o da gripe aviária na Ásia”, acrescenta. Em 2005, o vírus causou danos importantes à economia da região.  

Surto de gripe suína prejudica economia mexicana

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