Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O Supremo Tribunal Federal (STF) inicia nesta terça-feira (02/09), às 9h, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros sete aliados acusados de planejar um golpe de Estado após as eleições de 2022. A sessão envolve o chamado “núcleo central” da conspiração golpista e deve se estender por cinco dias de plenárias, até o próximo dia 12 de setembro.

Entre os réus, além de Bolsonaro, estão ex-ministros, militares de alta patente e seus antigos auxiliares. O tema ganhou destaque nos jornais internacionais.

Sob a manchete “Corte do Brasil começa a definir a sorte de Bolsonaro: poderá ser condenado a 40 anos“, o argentino La Nación destaca que o julgamento ocorre “em clima de máxima expectativa e sob um forte esquema de segurança”. Diz também que “aos 70 anos, o ex-presidente pode pegar até 40 anos de prisão por, segundo a acusação, ter conspirado para garantir sua ‘manutenção autoritária no poder’ apesar da vitória de Lula da Silva”. E acrescenta que, “segundo a acusação, o plano incluía até mesmo o assassinato de Lula antes de sua posse, assim como do juiz Moraes, com o ‘consentimento’ de Bolsonaro.”

The Guardian aponta que Bolsonaro, “um paraquedista que se tornou populista de extrema direita e governou de 2019 a 2023, é acusado de planejar uma tentativa frustrada de tomada de poder após perder a eleição de 2022” e que ele e seus sete supostos co-conspiradores, “incluindo três generais do exército e o ex-chefe da Marinha, podem pegar décadas de prisão se forem considerados culpados de serem a força motriz por trás do plano malsucedido”.

A reportagem lembra que o Brasil sofreu “mais de uma dúzia de tentativas de golpe de Estado e golpes de Estado desde 1889, quando se tornou uma república” e que a última tomada de poder bem-sucedida ocorreu em 1964, “quando generais apoiados pelos EUA depuseram o então presidente, João Goulart, supostamente para frustrar uma ameaça comunista, inaugurando 21 anos de um regime militar brutal”.

The Washington Post, sob o título “Julgamento de Bolsonaro será aberto com detalhes de suposta tentativa de golpe”, destaca que “é a primeira vez que um ex-presidente é acusado de tentar minar a democracia do país — e que [o julgamento] aprofunda uma crise nas relações entre o Brasil e os Estados Unidos”. O jornal estadunidense lembra que “o presidente Donald Trump, aliado de Bolsonaro, chamou o caso de “caça às bruxas” e ordenou sanções econômicas e diplomáticas ao Brasil e a algumas de suas autoridades”.

‘Corte extraordinariamente poderosa’

The New York Times, sob o título ‘O que saber sobre o julgamento do golpe de Jair Bolsonaro“, aponta que “para muitos no Brasil, que emergiu de uma ditadura militar brutal há apenas quatro décadas, um processo bem-sucedido contra o Sr. Bolsonaro representaria uma vitória para a democracia”. O jornal estadunidense afirma que “a maneira como o Brasil está tentando alcançar essa vitória — por meio de uma Suprema Corte extraordinariamente poderosa — também deixou o país às voltas com questões incômodas sobre a própria democracia que buscava proteger”.

O texto diz ainda que o caso “desencadeou uma crise diplomática entre as duas maiores nações do Hemisfério Ocidental, já que o presidente Trump usou tarifas e sanções para tentar forçar o judiciário brasileiro a retirar as acusações contra o ex-líder, que é um aliado político de Trump”.

Já na reportagem “Como Jair Bolsonaro tentou, e falhou, dar um golpe no Brasil”, NYT afirma ter revisado dezenas de horas de depoimentos e centenas de páginas de documentos policiais e da acusação e sintetiza os principais argumentos da acusação e da defesa do ex-presidente.

A britânica BBC aponta que Bolsonaro “pode enfrentar décadas de prisão se for considerado culpado” e que ele é “acusado de planejar uma tentativa de permanecer no poder após perder sua tentativa de reeleição em 2022, o que culminou com seus apoiadores invadindo e vandalizando prédios do governo na capital, Brasília”. A matéria destaca que “após uma extensa investigação, a polícia alegou que ele e outras autoridades estavam planejando atos para abolir o estado democrático de direito e mantê-lo no poder já em 2019.”

Lembra ainda que a causa do ex-presidente brasileiro foi “adotada pelo presidente dos EUA, Donald Trump”, “usando-a como justificativa para impor tarifas de 50% sobre alguns produtos brasileiros e sancionar o juiz da Suprema Corte que lidera o processo”.

Conspiração golpista: STF inicia julgamento de Bolsonaro e mais sete aliados
Lula Marques / Agência Brasil

‘Dia histórico’

O francês Le Monde, sob o título “No Brasil, recolhido em sua casa, o ex-presidente Jair Bolsonaro aguarda seu julgamento iminente”, destaca que o ex-presidente é julgado por cinco acusações distintas, incluindo “tentativa de golpe de Estado” e “pertencimento a uma organização criminosa armada”. O texto afirma que “chegou a hora da verdade para o Brasil” e que “nesta terça-feira, 2 de setembro, tem início um dia chamado a entrar para os livros de história”.

Diz também que “trata-se de um momento decisivo no longo processo de redemocratização do gigante latino-americano” e que “jamais, na história política conturbada do Brasil, um ex-chefe de Estado havia sido acusado por crimes de tamanha gravidade”, lembrando que a sentença pode ser de até 43 anos de prisão. “Uma sentença dessa magnitude encerraria definitivamente sua carreira política e teria consequências drásticas para o futuro pessoal do dirigente de 70 anos”, afirma o jornal francês.

Sob o título “Brasil contra Bolsonaro: chaves de um julgamento histórico por tentativa de golpe de Estado“, o espanhol El País detalha os cinco crimes pelos quais Bolsonaro é julgado: “tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado, pertencimento a organização criminosa armada, dano ao patrimônio público e deterioração de patrimônio protegido”. O jornal espanhol destaca que o complô culminou no ataque de milhares de bolsonaristas às sedes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, em 8 de janeiro de 2023. Também afirma que “os golpistas chegaram a cogitar envenenar o presidente Lula, assassinar o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro relator Alexandre de Moraes”.

‘Julgamento sem precedentes’

A cubana Prensa Latina destaca que o julgamento, “sem precedentes” no Brasil, tem previsão de durar cinco dias de sessões plenárias e que “julgará simultaneamente todos os réus do chamado núcleo crucial ou principal”. A reportagem aponta que “além do ex-presidente de extrema direita, ex-ministros e altos oficiais militares também estão no banco dos réus”.

O veículo cubano também traz os nomes dos sete acusados de conspiração golpista: Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência; almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;  Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal; general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional; o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante-de-ordens de Bolsonaro; o general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; e o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa e companheiro de chapa de Bolsonaro em 2022.

Na semana passada, a revista The Economist sob o título “O que o Brasil pode ensinar à América” descreveu o processo como prova de maturidade institucional, colocando o Brasil como exemplo mundial de resistência ao populismo autoritário.