Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Os militares sul-coreanos começaram a desmantelar os alto-falantes que transmitem propaganda anti-Coreia do Norte e estão instalados ao longo da zona fronteiriça que divide os dois países, marcando um dos primeiros gestos práticos do governo progressista de Lee Jae Myung, que tenta se reparar os desgastes políticos com Pyongyang.

A demolição iniciada nesta segunda-feira (04/08) é mais um passo simbólico após, em meados de junho, o governo sul-coreano ordenar a interrupção completa das transmissões de músicas de K-pop (gênero de música sul-coreana) e notícias críticas à gestão do líder norte-coreano Kim Jong Un.

De acordo com o Ministério da Defesa da Coreia do Sul, há cerca de 20 alto-falantes fixados na fronteira, e a expectativa é de que os aparelhos sejam demolidos dentro de dois a três dias. A operação não foi coordenada com a Coreia do Norte.

“Esta é uma medida prática destinada a aliviar as tensões entre as duas Coreias. Contudo, realizada dentro de um escopo que não afeta a postura de prontidão de nossos militares”, reiterou a pasta por meio de comunicado.

Durante uma coletiva, o vice-porta-voz do Ministério da Defesa, Lee Kyung Ho, entretanto, recusou-se a comentar se o desmantelamento de alto-falantes sinalizava que o uso do equipamento como resposta a possíveis “ameaças” da Coreia do Norte, como testes de mísseis ou lançamentos de balões de lixo, estava fora de cogitação.

“Não acho que seja apropriado fazer uma avaliação prematura nesta fase. O que posso dizer é que os militares estão sempre mantendo um alto nível de prontidão”, disse.

Já o ministro da Unificação, Chung Dong Young, descreveu a operação como um “passo militar certo” para melhorar as relações entre os países. 

“Em última análise, a questão-chave entre as duas Coreias agora é restaurar a confiança, que foi completamente rompida. Vejo isso como um passo para reconstruir essa confiança”, disse Chung a repórteres na segunda-feira.

A interrupção de transmissões de propaganda anti-Coreia do Norte foi uma das primeiras medidas anunciadas por Lee Jae Myung, em um mandato voltado à restauração da confiança intercoreana. As relações entre os dois países asiáticos foram deterioradas ao longo da gestão anterior, do ex-presidente Yoon Suk Yeol, de extrema direita, que foi deposto do cargo em abril deste ano após violar a Constituição ao decretar a lei marcial. Em junho de 2024, os militares sul-coreanos foram ordenados a retomar, depois de seis anos, a transmissão de materiais propagandistas críticos ao governo norte-coreano na fronteira.

O político conservador assumiu políticas hostis contra a Coreia do Norte e proferiu discursos provocativos ao longo de seu mandato, aprofundando a crise entre as Coreias, que atualmente vivem sob acordo de armistício.

Remoção de um alto-falante instalado na fronteira com a Coreia do Norte
Divulgação/Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul

Coreia do Norte rejeita reconciliação

A Coreia do Norte também suspendeu a operação de seus alto-falantes em junho, depois que o governo de Lee Jae Myung anunciou a interrupção dos mesmos. Entretanto, em 28 de julho, a irmã do líder norte-coreano Kim Jong Un rejeitou a possibilidade de “reconciliar ou cooperar” com a Coreia do Sul.

A vice-diretora do Partido dos Trabalhadores norte-coreana, Kim Yo Jong, afirmou que a tentativa sul-coreana de aliviar as tensões não “merecem avaliação” por parte de Pyongyang, uma vez que as ações provocativas, como a transmissão de propaganda, são “problemas que a Coreia do Sul trouxe para si mesma” e “estão apenas revertendo o que não deveriam ter feito há muito tempo”.

“Se a Coreia do Sul, que unilateralmente declarou nosso país como o principal inimigo e incentivou um clima de confronto extremo no passado, esperasse que agora pudesse reverter todos os resultados que trouxe para si com algumas palavras sentimentais, não haveria erro de cálculo maior do que esse”, declarou.

De acordo com ela, para a Coreia do Norte, independe que o país seja administrado por um governo “democrático” ou “conservador”, já que é historicamente apoiado pelos Estados Unidos.