Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou enviar tropas ou realizar ataques aéreos na Nigéria, caso o governo nigeriano não “aja rapidamente” para conter a violência contra cristãos que, segundo ele, estariam sofrendo uma “ameaça existencial”. A declaração, foi dada no sábado (01/11) e elevou a tensão diplomática entre os países, revela The New York Times.

A fala do republicano se apoia em episódios de violência cometidos por grupos armados e insurgentes islâmicos, especialmente no norte e no Cinturão do Meio. Mais de 8.000 civis — cristãos e muçulmanos — foram mortos neste ano. O número só é superado no continente africano pelos conflitos no Sudão e na Somália.

No entanto, não há nenhuma evidência de que ataques a cristãos ocorram com mais frequência do que as agressões promovidas contra outros grupos religiosos no país, aponta a reportagem.

O presidente nigeriano Bola Ahmed Tinubu disse que está disposto a se reunir com o presidente dos Estados Unidos e explicou que cidadãos de diversas crenças estão sendo vítimas dos ataques de milícias e grupos armados, motivados por disputas de terras.

No sábado (31/10), ele publicou nas redes sociais que “a Nigéria permanece firme como uma democracia governada por garantias constitucionais de liberdade religiosa”.

‘Cristianismo não está em perigo’

As autoridades nigerianas acusam Trump e seus aliados de promoverem uma leitura distorcida e polarizadora do conflito. “Não queremos ser a próxima Líbia, não queremos ser o próximo Sudão”, alertou o ministro das Relações Exteriores, Yusuf Tuggar.

“Não é do interesse do mundo que a Nigéria seja empurrada para o precipício”, acrescentou, ao pedir que Washington apoie a democracia nigeriana, em vez de “nos dividir e transformar em um Estado falido”.

Já o ministro da Informação, Mohammed Idris, classificou as acusações de perseguição religiosa como “falsas, infundadas, desprezíveis e divisivas”. Ele lembrou que a Nigéria abriga a maior população cristã da África, com mais de 90 milhões de fiéis, e uma das maiores comunidades cristãs do mundo.

“O cristianismo não está em perigo, nem marginalizado na Nigéria”, afirmou.

Sem provas, Trump acusa perseguição contra cristãos e ameaça intervir na Nigéria
White House / Abe McNatt

Ciclo de violência

NYT aponta que a violência no país é múltipla e fragmentada. Enquanto a organização jihadista fundamentalista Boko Haram continua atacando no nordeste, bandos armados atuam no noroeste, separatistas no sudeste e pistoleiros espalham o pavor em áreas rurais do Cinturão do Meio.

Em junho, cerca de 200 pessoas morreram na vila de Yelwata, no estado de Benue, após um ataque de homens armados — episódio que levou o Papa Leão a condenar o “terrível massacre”. A reportagem salienta que os ataques a muçulmanos “geralmente recebem muito menos atenção” na Nigéria e no mundo.

Grupos de direitos humanos e analistas afirmaram ao NYT que os conflitos estão levando muitos a abandonarem seus campos, o que representa uma ameaça ao crescimento do país, que se encontra mergulhado na pior crise econômica registrada em uma geração.