Segurança e tradição: por que Kim Jong Un só viaja em trem blindado?
Para atender ao desfile militar com Xi Jinping e Vladimir Putin, líder norte-coreano optou visita a Pequim por terra, seguindo tradicionalismo da família Kim
Embora o governo da Coreia do Norte tenha confirmado na semana passada a presença de seu líder no desfile militar na China, que celebra o 80º aniversário do Dia da Vitória, o cronograma da chegada de Kim Jong Un era incerto. Nesta quarta-feira (03/09), a chancelaria norte-coreana informou que o mandatário chegou na capital chinesa às 16h, pelo horário local, e foi recebido por altos funcionários na “Estação Ferroviária de Pequim”.
A falta de detalhamento na agenda e no meio de transporte usufruído pelo líder norte-coreano não é de hoje: faz parte da tradição da família. As viagens realizadas por Kim Jong Un para países como China, Rússia e Vietnã, desde que assumiu o mandato, em 2011, foram feitas apenas de trem no que especialistas concluem “motivos de segurança”. Em 2001, o seu pai, o antecessor Kim Jong Il, chegou a percorrer 20 mil quilômetros, por mais de dez dias, para chegar a Moscou. Já o seu avô, o fundador da República Popular Democrática da Coreia, Kim Il Sung, também tem um histórico de viagens via terra.
Kim realizou nesta quarta-feira sua primeira visita à China em seis anos desde seu encontro com o homólogo chinês Xi Jinping, em janeiro de 2019. Esta também é a primeira viagem ao exterior em dois anos, sendo que sua última aconteceu para uma cúpula com o homólogo russo Vladimir Putin, em setembro de 2023. Neste evento, os três ficaram juntos.
De acordo com a mídia sul-coreana, o trem particular que Kim costuma usar para visitas de Estado tem aparência semelhante ao de um trem comum pelo lado de fora, mas por dentro é “blindado, à prova de balas”, com “equipamentos de comunicação por satélite, uma sala de conferências, um quarto e um compartimento dedicado para atendentes, sendo muito mais pesado e seguro”.
Até o momento, não há detalhes sobre o trem específico usado por Kim para ir a Pequim. Contudo, no programa Chung Chi Signal (“Sinal da política”, na tradução em português), da rádio sul-coreana Channel A, o ex-chefe da embaixada norte-coreana no Reino Unido, Tae Young Ho, destacou “garantia de segurança” sobre a opção pelo trem, e que o veículo usado pelo líder “tem laptops e smartphones para trabalho”
“Por meio disso, Kim Jong Un quer mostrar que ele vai visitar um país estrangeiro, e que ele não para de trabalhar nem mesmo no trem”, disse. “Olhando para as fotos divulgadas hoje, os ministros das Relações Exteriores Choi Sun Hee e Kim Seong Nam estão no trem folheando documentos e reportando para Kim Jong Un”.
Sanções econômicas impostas pelas Nações Unidas (ONU), por conta de seus arsenais nucleares, também podem configurar como um dos fatores que justificam o uso do veículo terrestre no lugar de avião. Segundo Tae, o avião particular Chammae 1 que Kim usava quando assumiu o Executivo era um modelo produzido na Rússia na década de 1980. Com as sanções, dificultou-se a obtenção de peças de reparo.
“Não há companhia aérea que use esse modelo para passageiros. Atualmente, a companhia aérea que o está usando é a Belarusian Airlines, mas exclusivamente para carga”, disse, acrescentando: que “se Kim Jong Un for para o palco multilateral em um avião tão antigo, a mídia internacional noticiará que ‘a Coreia do Norte está presa na década de 1980′”.

O líder norte-coreano Kim Jong Un parte de Pyongyang para Hanói, no Vietnã, em 2019
Rodong Sinmun
Possível visita à Rússia
Às margens do desfile militar na China, Kim Jong Un foi convidado por Putin para visitar a Rússia, enquanto o líder de Pyongyang prometeu fazer “tudo o que puder para ajudar” Moscou. Ambos já compartilham de uma aliança militar, testemunhada no envio de armas e tropas norte-coreanas na região de Kursk para ajudar na luta contra a Ucrânia na guerra em curso.
Em meio às ameaças crescentes do Ocidente, sobretudo com o retorno do presidente norte-americano Donald Trump à Casa Branca, imagens históricas divulgadas pela imprensa internacional nesta quarta-feira mostram os dois mandatários ao lado de Xi na abertura da cerimônia. Os três conversam, caminham lado a lado no tapete vermelho da Praça da Paz Celestial.
Em um dos vídeos que circulam, Kim foi gravado dizendo a Putin um “até breve” e abraçando-o na despedida. Em seguida, o russo responde: “estamos esperando por você, venha nos visitar”.
Com relação às interações com a China, Kim foi visto tendo uma “longa conversa” com Xi, pelo que a imprensa sul-coreana analisou como “uma interação excepcionalmente próxima em comparação com aparições anteriores”. Segundo especialistas ouvidos pela emissora MBC, Kim “parecia estar mais próximo do líder da China do que seu avô”.
Foi a primeira vez em 66 anos que os líderes da Coreia do Norte, China e Rússia apareceram juntos, lado a lado. A última vez em que esse cenário foi desenhado foi em 1959, quando Kim Il Sung, fundador da Coreia do Norte, ficou ao lado de Mao Tse Tung, da China, e de Nikita Khrushchev, da União Soviética, em um desfile militar também em Pequim.























