Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Nunca foi um presidente popular. Nem no seu país, nem no exterior. Muito menos no Iraque, onde foi recebido com uma impressionante sapatada. Essa, talvez, seja a imagem de George W. Bush que vai ficar na memória: um par de sapatos voando em sua direção, acompanhados dos nada simpáticos adjetivos “cão” e “assassino”.

Há analistas que pensam que a sua presidência não foi mais do que a continuação da de seu pai e a guerra no Iraque, um modo de concluir um negócio incompleto deixado pelo progenitor. Mas nem nisso, acrescentam, teve êxito. Os mais críticos acham que a melhor atitude de seus dois mandatos foi entregar as chaves da Casa Branca a Barack Obama.

Mas nem todos pensam assim. Opera Mundi ouviu analistas, escritores, jornalistas, diplomatas e professores para saber se algo se salvou nos últimos oito anos. Foi difícil, mas depois de algum esforço e uma busca profunda na memória, encontraram elogios para alguns temas, como imigração e a relação com o Brasil.

“O melhor de tudo foi que ele se manteve fiel às suas ideias de uma política migratória racional, que é humana para os imigrantes”, comentou Phil Peters, vice-presidente do Lexington Institute, um centro de análise de Arlington, Virgínia. “O partido republicano devia seguir o seu exemplo nisso”.

Desde que chegou à Casa Branca, Bush sempre defendeu uma reforma da imigração e a procura de alguma forma de legalizar os imigrantes ilegais nos Estados Unidos. Não foi longe. Os atentados de 11 de setembro de 2001 e a recusa da ala mais dura do seu partido em aprovar a reforma puseram tudo por água abaixo.

Mesmo assim, Bush ainda conseguiu fazer alguma coisa, que não dependia do Congresso. “Concedeu o TPS [estatuto de proteção temporal] aos imigrantes das Honduras, Nicarágua e El Salvador, afetados por desastres naturais”, lembra Ana Navarro, ex-embaixadora da Nicarágua nas Nações Unidas e amiga pessoal da família Bush.“O presidente empenhou todo o seu capital político, sem êxito, é verdade, na reforma migratória”.

Bush também foi o primeiro a introduzir os hispânicos no gabinete presidencial. Para cimentar o apoio e contentar os exilados cubanos no sul da Flórida, nomeou primeiro Mel Martinez como ministro da Habitação e Desenvolvimento Urbano e posteriormente, Carlos Gutiérrez como ministro do Comércio. Ambos passaram pelos postos sem grande destaque. Também levou para Washington o mexicano Alberto Gonzales, primeiro como seu advogado e depois, como ministro da Justiça, acrescenta a ex-embaixadora.

Para o escritor chileno Roberto Ampuero, “a única coisa boa que Bush fez foi dizer, logo no início do seu mandato, que os norte-americanos deviam olhar os mexicanos com respeito porque, apesar de serem ilegais, estão aqui trabalhando duro e não andam pedindo esmola nas ruas”.

Segundo o correspondente do diário italiano La Repubblica nos Estados Unidos, Omero Ciai, o trabalho de Bush com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é outro ponto positivo. “Os dois deram um impulso extraordinário em direção à questão dos biocombustíveis. Isso deu outro rosto ao Bush”.

Segurança

O fato de não ter havido outro atentado terrorista no território norte-americano depois do ataque às Torres Gêmeas é visto por alguns como um bom indício da presidência de Bush. “Não tivemos outro atentado aqui, não lhe parece bastante bom?”, pergunta o analista político cubano-americano Pablo Alfonso.

O mesmo pensa a poetisa norte-americana Rita Martin, que destaca também  o início de diálogo de paz no Oriente Médio que Bush impulsionou através da ex-secretária de Estado Condoleezza Rice. Diálogo que, diga-se de passagem, não foi muito frutífero, pelo que as tropas de Israel e os foguetes do Hamas mostraram às vésperas da posse de Obama.

Política externa é um aspecto no qual o banqueiro de origem russa Bernardo Benes acha que Bush se saiu bem. “As conversas com o líder líbio Muammar Kadhafi, o fato de ter conseguido trazê-lo de volta ao mundo civilizado, foram êxitos de Bush. Sem dúvidas”, disse Benes, ele próprio um negociador de acordos entre Estados Unidos e Cuba, no final da década de 1970, por conta do ex-presidente Jimmy Carter.

Um dos aspectos menos conhecidos da administração Bush foi o envio de dinheiro a países africanos para combater a aids. “Nunca houve uma administração que enviasse tanto dinheiro como esta: US$ 100 bilhões”, aponta o estrategista político republicano Carlos Curbelo.

Já o professor de literatura da Universidade de Houston Alfredo Fernández tem uma visão mais prática. “No verão do ano passado, ele [Bush] ordenou a devolução aos cidadãos do dinheiro dos impostos que tinham pago em excesso. Aumentou o outorgamento de nacionalidades e residências permamentes aos estrangeiros e conseguiu travar a importação de drogas”.

“Ah… e seguindo a tradição, perdoou a vida de oito perus de Ação de Graças* durante o seu mandato. Nisso foi generoso”, acrescentou Fernández.

* Tradicionalmente, todos os anos o presidente “perdoa”, ou salva da panela, um peru às vésperas do feriado de Ação de Graças, data em que os norte-americanos se reúnem para agradecer pelas graças conquistadas e para celebrar a história dos Estados Unidos. O prato em destaque nas mesas durante o feriado é o peru assado.

Sapatadas à parte, Bush teve lá seus méritos. É o que dizem...

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