Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O chefe da Agência de Transporte Aéreo da Rússia (Rosaviatsiya) disse nesta sexta-feira (27/12) que drones ucranianos atacavam Grozny, capital da Chechênia, no momento em que o avião da Azerbaijan Airlines que caiu no Cazaquistão tentava pousar na cidade, na última quarta-feira (25/12).

“Drones militares ucranianos estavam realizando ataques terroristas contra infraestruturas civis naquele momento”, declarou Dmitry Yadrov no Telegram. Segundo ele, o avião da Azerbaijan Airlines fez duas tentativas de aterrissagem em Grozny antes de mudar a rota para o Cazaquistão.

“Foram oferecidos aeroportos alternativos para o piloto, e ele tomou a decisão de ir até Aktau [no Cazaquistão]”, acrescentou Yadrov. Ainda de acordo com o dirigente russo, o aeroporto de Grozny suspendeu as operações por causa dos drones de Kiev, mas sem especificar exatamente quando isso aconteceu.

As declarações de Yadrov vêm após suposições de opositores ao governo do presidente Vladimir Putin de que o avião Embraer 190 poderia ter sido abatido por um míssil terra-ar das forças de Moscou, após o acionamento da defesa antiaérea para conter drones ucranianos na Chechênia.

Segundo o site Euronews, citando autoridades azeris, a aeronave teria sido atingida por estilhaços da explosão do míssil, o que explicaria as marcas de perfuração na parte traseira da fuselagem, mostradas por vídeos divulgados nas redes sociais. A mesma hipótese foi publicada pela agência de notícias Reuters, que cita quatro fontes que acompanham as investigações no Azerbaijão.

Após as declarações acusando Moscou, o governo da Rússia criticou as especulações. “Uma investigação está em curso no momento. Todo acidente aéreo deve ser investigado por autoridades especializadas”, declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, em coletiva de imprensa.

“Seria errado construir hipóteses antes de o painel de investigação apresentar as conclusões. Ninguém deveria fazer isso”, acrescentou. Peskov ainda expressou “os mais sentidos pêsames àqueles que perderam entes queridos nesse desastre aéreo”.

O Cazaquistão denunciou imediatamente as “especulações” sobre o acidente, sobre o qual não há uma hipótese oficial.

Possíveis causas

A aeronave da Azerbaijan Airlines voava entre Baku, capital do Azerbaijão, e Grozny, na Chechênia, e caiu em uma suposta tentativa de pouso de emergência. Segundo o site Flightradar24, que monitora voos em tempo real, o avião atravessou o Mar Cáspio, desviando-se da sua rota normal, antes de voar em círculos sobre a zona do acidente.

Já o aeroporto de Grozny afirmou que a aeronave havia sido desviada para Makhachkala, também na Rússia, devido à neblina na capital da Chechênia.

Segundo Subkhonkul Rakhimov, um sobrevivente do acidente aéreo, os passageiros perceberam que suas vidas estavam em risco, mas não houve pânico.

Sem mencionar nenhum tipo de míssil que poderia ter atingido o avião, de acordo com as especulações, a testemunha relatou que houve três tentativas de pousar o avião em Grozny. “Ele tentou fazer um pouso, falhou, então subiu, circulou Grozny novamente, fez uma curva, então tentou pousar novamente e falhou mais uma vez”.

Por sua vez, o ministro dos Transportes do Cazaquistão, Marat Karabayev, citado pela agência russa TASS, declarou que a tripulação da aeronave não conseguiu mantê-la no ar continuamente devido à falha de vários sistemas de controle.

“O primeiro sinal veio às 10h43 (7h43 no horário de Brasília). O avião estava voando da cidade de Grozny para um campo de aviação alternativo, e os sistemas de controle da aeronave falharam antes de entrar no espaço aéreo do Cazaquistão. A tripulação não conseguiu manter um curso e altitude estáveis”, disse ele.

Anna Zvereva/Wikicommons
Diante das possíveis causas que levaram à queda do avião, as autoridades do Cazaquistão anunciaram a abertura de uma investigação

O ministro observou que também foi recebida a informação de que “após fornecer dados sobre o clima em Makhachkala e Baku, a tripulação decidiu voar para Aktau”.

O presidente do Senado cazaque, a câmara alta do Parlamento, Maulen Ashimbayev, assegurou que “os verdadeiros especialistas estão investigando e chegarão às suas conclusões. Nem o Cazaquistão, nem a Rússia, nem o Azerbaijão têm qualquer interesse em ocultar informação. Elas serão divulgadas ao público em geral. Não pode haver dúvidas sobre isso”, declarou, citado pela agência oficial russa TASS.

“Essas especulações são infundadas. Fomentá-las é errado e antiético. Este é um indicador de que alguns desejam obter dividendos nesta situação”, completou ainda.

Já o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, interrompeu uma viagem oficial à Rússia e voltou a Baku após o desastre, instituindo um dia de luto nacional no país. O líder também recebeu um telefonema de condolências de Putin.

Investigação aberta

Diante das possíveis causas que levaram à queda do avião, as autoridades do Cazaquistão anunciaram, também nesta quinta-feira (26/12) a abertura de uma investigação.

Vários especialistas do Ministério de Transporte do Cazaquistão, assim como uma delegação da agência de aviação civil do Azerbaijão e representantes da Azerbaijan Airlines participam da investigação.

Autoridades da Embraer e do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) também deverão chegar ao Cazaquistão, segundo as autoridades cazaques.

A empresa brasileira também emitiu uma nota sobre o acidente. “É com tristeza que tomamos conhecimento do incidente de hoje perto de Aktau, no Cazaquistão. Mais atualizações serão fornecidas assim que mais informações forem confirmadas e a Embraer estiver autorizada a divulgar”, declarou a empresa em comunicado citado pela CNN Brasil.

“Nossas preocupações e compaixão vão para as famílias, amigos, colegas e entes queridos afetados pelo acidente”, ressalta a nota.

Das 67 pessoas a bordo, sendo 62 passageiros e cinco tripulantes, o desastre deixou 38 mortos e 29 feridos. Todos os sobreviventes estavam na parte de trás da aeronave, que se desprendeu antes que o restante da fuselagem pegasse fogo.

Até o momento, todos os corpos foram recuperados e dez vítimas fatais foram identificadas, incluindo três cidadãos russos, três cazaques e quatro cidadãos azerbaijanos, segundo a TASS.

Mesmo com a investigação em curso, a Azerbaijan Airlines suspendeu os voos para sete cidades da Rússia após o acidente. A empresa disse que a decisão levou em conta “resultados preliminares da investigação sobre o incidente” e os “riscos para a segurança dos voos”.

A companhia suspendeu os voos para Mineralnye Vody, Grozny, Sochi e Makhachkala, todas no Cáucaso, além de Volgograd, Oufa e Samara. No entanto, manteve ativas as rotas para Moscou, São Petersburgo, Yekaterinburg, Astrakhan, Kazan e Novosibirsk.

(*) Com Ansa, Brasil de Fato e TASS