Reino Unido demite embaixador em Washington após revelações sobre ligação com Epstein
Decisão decorreu da publicação de emails trocados entre autoridade britânica nos EUA, Peter Mandelson, e financista condenado por crimes sexuais contra menores
O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, anunciou nesta quinta-feira (11/09) a demissão de Peter Mandelson do cargo de embaixador britânico em Washington. A decisão ocorreu horas após o portal de notícias Bloomberg revelar mais de 100 emails inéditos entre o diplomata e Jeffrey Epstein, financista condenado por crimes sexuais contra menores.
Segundo a reportagem do portal norte-americano, os documentos expuseram a proximidade entre Mandelson e Epstein, incluindo uma mensagem enviada em junho de 2008, na véspera da prisão do financista na Flórida.
No registro, Mandelson escreveu: “I think the world of you”, expressão no inglês usada quando há alta estima por outra pessoa. O britânico ainda ofereceu ajuda política para tratar do caso com seus contatos.
O Ministério das Relações Exteriores britânico informou que o afastamento ocorreu após a constatação de que Mandelson teria sugerido que a primeira condenação de Epstein era injusta e deveria ser contestada.
“À luz disso, e em respeito às vítimas dos crimes de Epstein, Mandelson foi retirado do posto de embaixador com efeito imediato”, disse o órgão em comunicado. Essa foi a terceira vez em que o político foi removido do governo no Reino Unido, sendo as duas anteriores durante o governo do primeiro-ministro Tony Blair (1997-2007).
Na Câmara dos Comuns, câmara baixa do Parlamento do Reino Unido, o ministro britânico para a Europa e as Américas, Stephen Doughty, confirmou que a medida foi determinada pessoalmente pelo primeiro-ministro Starmer.
O porta-voz oficial do premiê, Tom Wells, reforçou que o conteúdo dos e-mails foi considerado “repreensível” e que o gesto foi interpretado pelo governo como um sinal de apoio a Epstein em um momento crítico.
Em entrevista ao jornal The Sun, Mandelson admitiu arrependimento: “Lamento muito, profundamente mesmo, ter mantido essa associação por muito mais tempo do que deveria e lamento que tenha acreditado nas mentiras dele”.

Embaixador britânico nos EUA foi demitido “em respeito às vítimas dos crimes de Epstein”, disse governo
International Monetary Fund/Flickr
Antes mesmo da publicação a situação de Mandelson vinha se deteriorando, desde o início da semana, quando veio a público que ele teria descrito Epstein como seu “melhor amigo” em um chamado “livro de aniversário” — documento obtido por parlamentares democratas nos Estados Unidos como parte das investigações sobre as conexões do financista.
Esse mesmo material também trouxe à tona uma polêmica envolvendo o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Entre os registros, há um recado de tom sexualmente sugestivo atribuído a Trump, escrito sobre o contorno de um corpo feminino. A Casa Branca negou a autenticidade da mensagem, alegando falsificação.
Crise diplomática?
A crise estoura a apenas uma semana da visita de Estado de Donald Trump ao Reino Unido, marcada para os dias 17 a 19 de setembro. O encontro, articulado por Starmer e pelo próprio Mandelson, incluiria um banquete de gala oferecido pelo rei Charles III.
Enquanto um substituto permanente não é nomeado, James Roscoe, encarregado de negócios em Washington, assumirá interinamente. Entre os possíveis sucessores, está a ex-embaixadora Karen Pierce, diplomata que manteve boas relações com o governo Trump em seu primeiro mandato.
Os arquivos revelados fazem parte de uma série de documentos apreendidos ou produzidos durante as investigações federais que se seguiram à prisão e morte de Epstein, ambas ocorridas em 2019.
Muitas dessas evidências estavam sob sigilo judicial, mas partes significativas começaram a vir a público recentemente, reacendendo o debate sobre os cúmplices e a rede de proteção que teria garantido impunidade ao bilionário por tantos anos.
Jeffrey Epstein, que morreu em 2019, foi um financista bilionário e figura influente no alto escalão social dos Estados Unidos, com conexões que iam de Wall Street à realeza britânica. Em 2008, ele foi condenado na Flórida por solicitação de prostituição envolvendo uma menor de idade, em um acordo judicial polêmico que o livrou de acusações mais severas. Já em 2019, foi novamente preso, desta vez por liderar um amplo esquema de tráfico sexual de meninas e adolescentes, muitas delas aliciadas por meio de promessas de dinheiro ou oportunidades de trabalho.
(*) Com Ansa e Brasil247























