Província de Buenos Aires realiza eleições regionais em meio a crise no governo Milei
Maior colégio eleitoral da Argentina escolherá representantes do congresso provincial, em pleito que pode ser termômetro da popularidade do presidente após escândalo
Cerca de 14 milhões de pessoas estão habilitadas para votar neste domingo (07/09) nas eleições legislativas da Província de Buenos Aires, disputa que escolherá os representantes do Congresso Provincial, o poder Legislativo da região que reúne as cidades que envolvem a capital federal argentina, e que configuram o maior colégio eleitoral do país – superando inclusive a cidade de Buenos Aires.
A disputa eleitoral na província costuma servir de prévia para as eleições legislativas, marcadas para o dia 26 de outubro, na qual serão renovadas as bancadas da Câmara e do Senado a nível nacional.
Porém, o escândalo de corrupção envolvendo a secretária geral da Presidência, Karina Milei, que ademais é irmã do presidente de extrema direita Javier Milei, aumentaram de forma significativa a atenção dada pela imprensa local ao pleito deste domingo.
A crise no governo surgiu há cerca de 10 dias, quando foi revelado pela imprensa um caso de corrupção no qual Karina Milei é acusada de cobrar propina de empresas provedoras de medicamentos para a Agência Nacional para a Deficiência (ANDIS). Segundo o advogado Diego Spagnuolo, um dos envolvidos na trama, a irmã do presidente chegava a receber cerca de 3% do valor total das verbas destinadas a essas compras.
O caso tem afetado a popularidade de Milei, e já rendeu a ele o primeiro revés eleitoral, no último domingo (31/08), quando o seu partido de extrema direita, A Liberdade Avança, foi apenas o quarto mais votado nas eleições legislativas da Província de Corrientes – ficando atrás da coalizão regionalista Vamos Corrientes, que elegeu a maior bancada, e da aliança Força Pátria, que reúne diferentes setores do peronismo e que ficou em segundo lugar.
O que está em jogo
As eleições legislativas na Província de Buenos Aires renovarão metade da Câmara e metade do Senado que compõem o Congresso Provincial.
Sendo assim, o pleito escolherá 46 deputados de um total de 92, e 23 senadores de um total de 46. Vale destacar que tanto os deputados quanto os senadores provinciais têm mandato de quatro anos – ou seja, os eleitos neste domingo ficarão no cargo até 2029.

Javier Milei enfrenta pior crise desde que iniciou seu governo, em dezembro de 2023
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Além do partido de extrema direita A Liberdade Avança, força política encabeçada pelo presidente Javier Milei, participarão do pleito a aliança Força Pátria, cujo principal líder local é justamente o governador da Província de Buenos Aires, Axel Kicillof, e que também conta com o apoio de ex-candidatos presidenciais peronistas, como Sergio Massa e Juan Grabois.
A ex-presidenta argentina Cristina Kirchner chegou a anunciar em maio deste ano sua candidatura a deputada provincial em Buenos Aires, mas acabou sendo proibida de concorrer devido a uma condenação na Justiça que a tem atualmente em prisão domiciliar.
Outras coalizões que participarão destas eleições são a Somos Buenos Aires (que reúne partidos da direita moderada, como a União Cívica Radical e a Coalizão Cívica, entre outros), a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (esquerda radical) e o Movimento de Integração e Desenvolvimento (dissidência da União Cívica Radical, e portanto também de centro direita, embora se apresente como “extremo centro” em algumas peças publicitárias).
‘Vitimização’
Na última quarta-feira (03/09), o presidente Javier Milei encabeçou o ato final da sua campanha do seu partido, realizado na cidade de Moreno, famoso reduto político da esquerda argentina, o que foi considerado pela aliança peronista Força Pátria como um ato de provocação.
Segundo o governador Kicillof, “a extrema direita tem todo o direito de fazer sua campanha, mas este evento demonstra alguns aspectos muito estranhos e suspeitos: primeiro, foi escolhido um local que não estava preparado para sediar um evento desta natureza; segundo, indivíduos com mais antecedentes criminais do que experiência política estavam envolvidos na organização; e terceiro, os líderes do partido de Milei estão mais preocupados em alertar sobre potenciais atos de violência do que em chamar seu público”.
Ao final, o evento ocorreu sem maiores incidentes, mas serviu para o presidente lançar um discurso de que estaria sendo “ameaçado de morte” pelo kirchnerismo (setor ligado à ex-presidenta Cristina Kirchner, considerado o mais à esquerda dentro do peronismo).
“Eles (kirchneristas) planejam um atentado para acabar com a minha vida. Este é um momento chave na história da Argentina e os kirchneristas estão dispostos a ir ao tudo ou nada”, alegou o mandatário, segundo o diário Página/12.
Kicillof respondeu a essas insinuações do presidente dizendo que os peronistas “devem estar atentos nestes últimos dias de campanha eleitoral, para evitar produzir a cena que Milei pretende criar, para fortalecer seu discurso de vitimização”.























