Protestos contra reeleição de presidente seguem em Camarões
Sob repressão policial, manifestantes recusam oitavo mandato de Paul Biya e exigem resultados transparentes
Os protestos contra a reeleição do presidente de Camarões, Paul Biya, continuam nesta quarta-feira (28/10), com manifestantes denunciando fraude no pleito que concedeu o oitavo mandato ao político mais longevo do mundo.
Segundo o portal de notícias Africanews, em Douala, a maior cidade do país, “barricadas queimaram e tiros ecoaram pelas ruas enquanto as forças de segurança entravam em confronto com manifestantes” que denunciavam fraude eleitoral.
De acordo com a imprensa local, pelo menos quatro pessoas foram mortas e mais de 100 foram presas pelas forças de segurança camaronesas.
Já o Journal du Cameroun relatou que na capital Yaoundé 13 pessoas foram condenadas a um mês de prisão devido a uma “disputa pré-eleitoral”, além de uma multa de 34.500 francos (cerca de R$87).
Segundo outro jornal local, o 237online.com, a repressão de Biya aos manifestantes após a eleição “reabre velhas feridas na memória política camaronesa”. O comentário refere-se a eleição de 1992, quando o então opositor John Fru Ndi venceu com 39,9% dos votos contra 35,9% de Biya.
“As manifestações que se seguiram, particularmente em Bamenda, foram violentamente reprimidas, marcando um dos episódios mais sombrios da democracia camaronesa. Trinta e três anos depois, a história parece estar se repetindo”, escreveu o jornal.
Organizações da sociedade civil pedem reconstrução
O periódico ainda relatou que mais de 300 organizações da sociedade civil camaronesa assinaram uma declaração conjunta saudando “a mobilização sem precedentes de jovens” e pedindo que o momento seja usado para a “reconstrução” do país.
“A sociedade civil camaronesa se recusa a permanecer como espectadora da deterioração da coesão social e da erosão da confiança nacional no contexto das tensões pós-eleitorais que prevalecem em Camarões”, disse o comunicado.
O documento apelou “a todas as partes interessadas nas eleições presidenciais de 12 de outubro de 2025 para que encontrem uma saída legítima, concertada e honrosa para a crise”.

Paul Biya foi reeleito, segundo resultados do país, para oitavo mandato em Camarões
CELLCOM PRC/X
Assim, sugeriu a “realização urgente” de uma assembleia geral sobre a refundação da política camaronesa. “Esta assembleia garantirá, por um lado, a reconciliação nacional através de um processo de transição consensual, pacífico e responsável e, por outro, lançará as bases para um novo pacto baseado na confiança, na justiça e na transparência”, acrescentou.
“O Camarões que queremos não nascerá nem da violência nem do silêncio, mas do compromisso corajoso”, declarou Guy Constantin Nzati, presidente do movimento cidadão Solidarité Jeune (Solij) e porta-voz da iniciativa.
Contexto
Incentivados pelo líder da oposição, Issa Tchiroma Bakary, os manifestantes exigem os resultados transparentes da eleição, contrariando os que foram divulgados pela Comissão Eleitoral Nacional na última terça-feira (27/10). De acordo com o órgão eleitoral, Biya obteve 53,7% dos votos, enquanto Tchiroma Bakary ficou em segundo lugar, com 35,19%.
Segundo noticiou o Brasil de Fato, Bakary, que foi ministro de Biya antes de romper com o governo, emergiu como alternativa de mudança, prometendo uma transição de três a cinco anos para reformar o país. Logo após o pleito realizado em 12 de outubro de 2025, ele declarou‐se vencedor da eleição, instando o presidente Biya, de 92 anos, a reconhecer a derrota e respeitar a vontade popular.
A oposição chegou a apresentar as atas comprovando uma vitória de Bakary com 54,8% dos votos, contra 31,3% de Byia. Contudo, o Conselho Constitucional, cujo presidente Clement Atangana é aliado do presidente camaronês, rejeitou a alegação.
A reeleição de Biya, rejeitada pelos manifestantes, foi rapidamente reconhecida pela União Europeia, bloco que mantém fortes interesses econômicos na região.
“Acolhemos a participação do povo camaronês e a proclamação dos resultados pelas instituições competentes. A nossa parceria com Camarões baseia-se em valores partilhados: democracia, direitos humanos e estabilidade”, enfatizou o comunicado europeu, citado pelo 237online.com.
Referindo-se aos protestos no país, a UE solicitou que “todas as partes devem exercer moderação e abster-se de qualquer ação que possa exacerbar as tensões”.
Há mais de 40 anos no poder, Biya é um aliado de Emmanuel Macron no continente africano. Contudo, o presidente da França, país responsável pela colonização de Camarões, ainda não se manifestou sobre o resultado.























