Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O Nepal enfrenta uma grave crise política após a renúncia do primeiro-ministro Khadga Prasad Sharma Oli, nesta terça-feira (09/09). A decisão ocorre após dias de protestos, seguida de forte repressão policial que resultou na morte de pelo menos 19 manifestantes, deixando centenas de feridos.

“Eu renunciei hoje ao cargo de Primeiro-Ministro (…) para que medidas possam ser tomadas em direção a uma solução política e à resolução de problemas”, escreveu Sharma Oli, em comunicado à imprensa. Afirmando-se “profundamente triste” com o “incidente trágico”, ele prometeu abrir uma comissão de inquérito “para garantir que acidentes como este não se repitam”.

Três ministros pediram demissão em meio às acusações de corrupção e o uso desproporcional da força contra os jovens que protestavam pacificamente em Katmandu e outras cidades do país. “Estávamos lá para um protesto pacífico. Eles começaram a lançar gás lacrimogêneo e, de repente, fui baleado”, contou o estudante de 22 anos, Pabit Tandukar, à Al Jazeera.

O ministro do Interior, Ramesh Lekhak, foi o primeiro a deixar o cargo na segunda-feira (08/09), alegando responsabilidade moral. No mesmo dia, o governo suspendeu a polêmica proibição das redes sociais que alimentou ainda mais os protestos.

Plataformas

Na quinta-feira (04/09), 26 plataformas de mídia social, incluindo Facebook, YouTube e X, foram fechadas no país após perderem o prazo estipulado pelo governo, em 3 de setembro, para se registrarem junto às autoridades. A medida atingiu a chamada “Gen-Z”, em referência à geração Z que cresceu conectada às redes sociais.

Segundo o ex-premiê indiano, “o governo não queria bloquear o uso das mídias sociais. Ele simplesmente quer proteger a estrutura para seu uso. Não havia sentido em protestar contra isso”, afirmou no comunicado.

Apesar do toque de recolher, milhares de manifestantes desafiaram as restrições, invadiram prédios do Parlamento e incendiaram residências de políticos. Muitos deles são estudantes do ensino médio e universitários que se identificam com o movimento “Gen-Z”.

Khadga Prasad Sharma Oli renuncia em meio a onda de protestos
Governo da Índia / Wikimedia Commons

Protestos

Entre as principais reivindicações dos jovens estão a dissolução do Parlamento, a renúncia em massa de parlamentares, novas eleições e a suspensão imediata dos responsáveis pela ordem de abrir fogo contra civis.

O prefeito de Katmandu, Balen Shah, manifestou apoio às mobilizações, afirmando que a juventude “não deve ser usada para interesses partidários, mas ouvida em suas demandas legítimas”.

Segundo o analista político Krishna Khanal, ouvido pela agência catari, os assassinatos dos jovens manifestantes foram resultado de “pura negligência” do governo. A Anistia Internacional e o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos condenaram o uso de força letal contra manifestantes e exigiram investigações transparentes.

O Aeroporto Internacional de Katmandu foi fechado pelo governo e há imposição de toque de recolher. Ainda assim, os protestos continuam. Para os organizadores, a mobilização deve se prolongar indefinidamente até que suas demandas sejam atendidas.