Presidente de Madagascar foge após protestos da Geração Z; manifestantes pedem renúncia
Andry Rajoelina teria partido em avião militar francês neste domingo (12); especialista afirma ser das maiores crises no país desde golpe de 2009
Autoridades de Madagascar anunciaram nesta segunda-feira (13/10) que o presidente Andry Rajoelina deixou o país no domingo (12/10), após militares rebeldes assumirem o controle das Forças Armadas. “Madagascar está enfrentando uma das crises mais graves desde o golpe de 2009 que levou Rajoelina ao poder”, explicou João Raphael, colunista sobre África de Opera Mundi.
Siteny Randrianasoloniaiko, líder da oposição no Parlamento, relatou à agência de notícias Reuters que o agora ex-presidente abandonou Madagascar depois que unidades do exército se uniram aos manifestantes da Geração Z, os quais vêm realizando protestos pelo país desde 25 de setembro. Uma fonte militar também informou que Rajoelina partiu em uma aeronave militar francesa. De acordo com a rádio francesa RFI, ele firmou um acordo com o presidente Emmanuel Macron. Paradeiro segue desconhecido.
A escalada mais recente ocorreu no fim de semana de 11 e 12 de outubro, quando diversos soldados de uma unidade de elite do corpo de intervenção das Forças Armadas – que “historicamente é ligada ao próprio, agora, ex-presidente Rajoelina, a qual auxiliou sua ascensão em 2009” – declararam apoio aos manifestantes. Eles recusaram ordens de reprimir os protestos e marcharam ao lado dos manifestantes na Praça 13 de Maio, “considerada um local simbólico de protestos em Madagascar”.
Segundo a ONU, os confrontos resultaram em pelo menos 22 mortes e mais de 100 feridos, devido à violência de forças policiais que utilizaram gás lacrimogêneo, granadas de atordoamento e balas de borracha para dispersar as multidões.
“Milhares se reuniram para homenagear um soldado morto supostamente pelas próprias forças do governo, com participação de opositores e até do ex-presidente Richard Ravalomanana [outubro a dezembro de 2023]. Alguns relatos mencionam um tiroteio entre forças leais ao governo e unidades militares dissidentes”, explicou Raphael, também conhecido como O Afroliterato.

Andry Rajoelina teria partido em avião militar francês após unidades do exército se unirem a protestos da Geração Z
Crozet – Pouteau – Albouy / ILO
“Revolta da juventude africana”
Os protestos, inicialmente liderados pela Geração Z, que eclodiram na capital e se espalharam por outras cidades, “refletem frustrações acumuladas e um contexto de desigualdade extrema e falhas de governança”, acrescentou. As mudanças climáticas também começaram a afetar o país na África Oriental, intensificando secas e causando inundações que, por consequência, impactaram a economia, dependente de exportações voláteis.
“Inicialmente, esses protestos foram motivados por queixas cotidianas, como cortes crônicos de água e eletricidade. A grande questão aqui é que esses cortes afetam a maioria pobre do país, que chega a 75% da população. As manifestações acabam evoluindo para demandas mais amplas, como o combate à corrupção, ao nepotismo, ao desemprego e pela renúncia do presidente”, detalhou o colunista.
João Raphael enxerga Madagascar como representante da “revolta da juventude africana”, possuindo um “potencial transformador muito forte, apesar do grande risco de repressão e manipulação”. Assim como as inspirações em “movimentos semelhantes” que ocorreram no Quênia e no Nepal, mas diferindo das revoltas no Sahel por “não enfrentar uma insurgência radicalista, por exemplo, em larga escala”.
“Mas Madagascar não é um pivô estratégico como o Saara, por exemplo. É mais do que uma revolução colorida fabricada. Geopoliticamente, você tem uma estabilidade prolongada que poderia atrair atores externos, como a China ou a própria França. Mas o foco deve ser em soluções internas para evitar qualquer vácuo de poder nesse momento”, concluiu.























