Presidente de Israel deveria agir como Lula após interferência de Trump, diz Haaretz
Para Yossi Verter, postura do líder brasileiro em ataques ao julgamento de Bolsonaro foi ‘soberana’, mas do israelense foi ‘submissa e humilhante’
O jornal Haaretz afirmou nesta quinta-feira (13/11) que o chefe de Governo de Israel, Isaac Herzog, “poderia aprender” com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, frente a pressão do mandatário dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o Judiciário israelense.
O texto de análise escrito pelo jornalista Yossi Verter faz referência à carta enviada pelo republicano a Herzog, na última quarta-feira (12/11). O documento pede que Herzog conceda perdão presidencial ao primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, acusado de corrupção em três casos distintos.
“Herzog poderia aprender uma lição com a maneira como o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva resistiu firmemente à pressão que Trump exerceu sobre ele e o Judiciário brasileiro para anular o julgamento de seu antecessor, Jair Bolsonaro”, escreveu Verter.
A publicação afirma que após o recebimento da carta, “em vez de defender o sistema judiciário, Herzog respondeu com a subserviência de um funcionário subalterno, e não como o presidente de um Estado soberano”.
Para Verter, “a postura de Lula expressou soberania”, enquanto a de Herzog “reflete uma postura judaica da diáspora”.
A resposta do presidente israelense ao pedido de Trump foi “estranha, submissa e humilhante”. “Em vez de rejeitar firmemente a difamação contra o judiciário israelense, que atualmente enfrenta um dos períodos mais desafiadores de sua história, Herzog se curvou ao “apoio e contribuição” de Trump”, lembrou.
Em resposta ao norte-americano, Herzog escreveu que “qualquer pessoa que busque um perdão presidencial deve apresentar um pedido formal de acordo com os procedimentos estabelecidos”.
“Essa não é a resposta do presidente de um Estado soberano, mas de um funcionário de baixo escalão do departamento de indultos do Ministério da Justiça”, criticou Verter no Haaretz.
O jornalista de um dos mais tradicionais veículos israelenses ainda classificou como “ironia” a forma que Trump disse respeitar “absolutamente a independência do sistema judiciário israelense e suas exigências”, mas acrescentar que “o caso contra Bibi [apelido de Netanyahu] é uma acusação política e injustificada”.
“Isso reflete, palavra por palavra, os argumentos de Netanyahu e seus aliados sobre os chamados casos fabricados e o que eles afirmam ser uma tentativa de remover um primeiro-ministro de direita do poder, analisou.
EUA assume decisões de segurança de Israel
Para a publicação, a interferência da “mão pesada de Trump”, no julgamento do judiciário israelense não é “uma ajuda externa”, como disse Herzog, mas sim “um apelo, até mesmo uma súplica, de Netanyahu, que sente o laço se apertando”.
Verter escreve que o envio da carta é uma ação “que mal finge ser uma questão de coordenação e cooperação”, e sim um governo norte-americano “efetivamente assumindo o controle das decisões de segurança de Israel”.

Trump enviou carta ao presidente de Israel pedindo perdão ao premiê, Benjamin Netanyhu, acusado de corrupção
Official White House Photo by Daniel Torok/X
“Enquanto antes as decisões de segurança eram tomadas no quartel-general da defesa em Tel Aviv, hoje elas são tomadas no Centro de Coordenação Civil-Militar estabelecido pelos Estados Unidos em Kiryat Gat. Além disso, uma base americana será construída em breve na fronteira de Israel com Gaza. Os Estados Unidos decidem quem fornece ajuda humanitária, quem tem permissão para enviar forças (Turquia e Catar, por exemplo), onde e quando as Forças de Defesa de Israel (IDF) se retirarão e o que podem ou não fazer dentro de Gaza”, escreveu ainda.
O jornalista também afirmou que o ex-ministro de Assuntos Estratégicos de Israel, Ron Dermer, uma das autoridades responsáveis pelas negociações na Faixa de Gaza e que renunciou na terça-feira (11/11), esteve envolvido no envio da carta de Trump a Herzog.
“É razoável inferir que uma das últimas ações de Dermer esteve relacionada à redação da carta. Afinal, o que poderia ser mais “estratégico” do que tentar resgatar o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de seu julgamento por corrupção, em um momento em que suas mentiras e declarações contraditórias estão sendo expostas no Tribunal Distrital de Tel Aviv?”, escreveu.
Para Verter, “as marcas israelenses na carta de Trump são inconfundíveis”, especialmente no trecho em que ele justifica a necessidade do perdão de Herzog a Netanyahu para que o premiê possa “unir Israel”. “Essa mensagem ecoa a conhecida retórica de “curar, reparar e unir corações” utilizada em Israel, afirmou.
Enquanto “Trump está tão ansioso para promover a unidade, infelizmente, Netanyahu está sendo acusado de suborno, fraude e quebra de confiança – e ficando cada vez mais envolvido”.
O analista lembra que “apesar de todos os atrasos, manobras e evasivas, o interrogatório está prosseguindo”, enquanto sua defesa “desmorona”.
Em última análise, afirma que o grande objetivo de Netanyahu é interromper o julgamento. Assim, o envio da carta por Trump funciona como uma distração “atraente”, que “cria caos e fornece material rico para sátira”, mas que, em última análise, é insignificante.
Diante da situação judiciária, Verter afirma que Netanyahu não tem muitas opções. Um “caminho paralelo” seria a divisão dos poderes da Procuradoria-Geral, para conseguir nomear uma espécie de promotor especial que reavaliasse seu caso .
Quanto ao perdão presidencial, o jornalista do Haaretz reconheceu ser uma opção, mas sob condições inéditas em Israel, que envolveriam Netanyahu não admitir culpa e não se afastar da vida política.
“Seria um perdão corrupto, permitindo-lhe declarar: “Sou inocente!” e lançar sua vingança contra todas as autoridades policiais e judiciais israelenses (ou, nas palavras de Trump, “unir Israel”)”, escreve.
Por fim, Verter ainda lembra da reforma judicial israelense, realizada em 2023, e afirma que caso um cenário similar ocorra “tudo o que foi testemunhado parecerá brincadeira de criança quando Netanyahu for libertado das consequências da lei e correr para outro mandato por meio de eleições manipuladas e viradas de cabeça para baixo em seus alicerces”.























