Premiê francês entrega carta de demissão; franceses preparam mobilização nacional nesta quarta-feira (10/09)
Após queda de François Bayrou, atos contra políticas de austeridade acontecem em diversas cidades do país; próximo primeiro-ministro deve ser anunciado nos próximos dias
O primeiro-ministro, François Bayrou, entregou na manhã desta terça-feira (09/09) a sua carta de demissão no Palácio Eliseu. Enquanto isso, uma forte mobilização nacional, batizada de “Bloqueiem Tudo”, é convocada pelos franceses para esta quarta-feira (10/09) em todo o território.
Na noite da segunda-feira (08/09), cerca de onze mil franceses se reuniram em frente a prefeituras de diversas cidades em uma série de atos apelidados de “Bye bye Bayrou”, em referência à queda do primeiro-ministro. O presidente Emmanuel Macron afirmou que nomeará um novo premiê nos próximos dias.
O Ministério do Interior prevê empregar 80 mil policiais para conter possíveis bloqueios de estradas e depósitos de combustível nesta quarta. O chefe da polícia de Paris, Laurent Nuñez, afirmou nesta terça-feira (09/09) à BFM-TV/RMC que as forças de segurança não permitirão “nenhum dano, nenhum bloqueio” e que “intervirão sistematicamente”.
Segundo ele, o chamado para a paralisação geral foi assumido por “grupos radicais”, levando as autoridades a anteciparem “ações bastante duras”. Analistas ouvidos por The Guardian preveem cenário semelhante às jornadas dos “coletes amarelos” que paralisaram o país em 2018 e 2019.
Queda do ministro
Bayrou pediu demissão após ter seu pedido de apoio negado pelos partidos no Parlamento francês na última segunda-feira (08/09). Ele tentou aprovar um pacote de austeridade de 43,8 bilhões de euros para reduzir o déficit público do país, que ultrapassa 5% do PIB, acima do limite de 3% estabelecido pela União Europeia.
As medidas incluíam cortes em áreas já fragilizadas, como saúde e educação, e a redução de feriados, o que provocou forte rejeição social e uniu a oposição.

François Bayrou entrega carta de demissão no Eliseu após 9 meses de mandato
Flickr / Jacques Paquier
Após nove meses no cargo, ele é o segundo premiê a ser derrubado em menos de um ano, sucedendo Michel Barnier, que resistiu apenas três meses no governo Macron. O próximo nome escolhido terá como desafio imediato negociar o orçamento em uma Assembleia Nacional profundamente dividida entre as forças políticas de esquerda, centro e extrema direita.
Segundo o jornal britânico, a dívida francesa supera 3 trilhões de euros, e a alta dos juros dos títulos do país já ultrapassa a de nações como a Grécia, pressionando ainda mais o governo diante do risco de rebaixamento pelas agências de crédito.
Impasse
Fontes próximas ao Palácio do Eliseu, aponta The Guardian, afirmam que ele tende a escolher um aliado de confiança, como o ministro da Justiça, Gérald Darmanin, ou o da Defesa, Sébastien Lecornu, ambos de perfil mais à direita. Outra possibilidade seria apostar em nomes de centro-esquerda, como o ex-premiê Bernard Cazeneuve ou o ministro das Finanças, Eric Lombard, ex-banqueiro e ex-membro do Partido Socialista.
Ao mesmo tempo, afirma o jornal, cresce a pressão da oposição: Marine Le Pen pede a dissolução do Parlamento e eleições antecipadas, enquanto Jean-Luc Mélenchon, da França Insubmissa, afirma que o país vive uma “crise de regime” e defende a criação de uma Sexta República.
“Emmanuel Macron perdeu a eleição. Dissolveu a Assembleia Nacional e ignorou os resultados das urnas. O país precisa de um momento de regeneração. Somente uma nova eleição presidencial pode fazer isso. Os franceses devem poder escolher entre a política de destruição dos serviços públicos e a de recuperação ecológica e social”, afirmou Mélechon na plataforma X.























