Premiê francês enfrenta voto de confiança e pode ser destituído após nove meses de mandato
Decisão foi precipitada pelo próprio primeiro-ministro, François Bayrou, ao pedir apoio da Assembleia Nacional para implementação de plano de austeridade
O premiê francês, François Bayrou, enfrenta nesta segunda-feira (08/09) um voto de confiança que poderá resultar em sua queda, após apenas nove meses de governo. A decisão foi precipitada pelo próprio chefe de governo, que surpreendeu até aliados ao pedir o apoio da Assembleia Nacional para implementar um plano de austeridade de €44 bilhões.
A expectativa é de que os partidos da oposição, da esquerda à extrema direita, unam forças contra o governo minoritário colocando o presidente Emmanuel Macron diante do desafio de escolher seu terceiro premiê em apenas um ano e o quinto desde o início do segundo mandato, em 2022.
Com um Parlamento fragmentado entre esquerda, centro e extrema direita, a derrota é considerada quase certa, após Bayrou, do partido Movimento Democrata (MoDem), defender publicamente a necessidade de “mostrar a verdade aos franceses” sobre a dívida pública, mesmo ao custo de seu cargo. O plano inclui congelamento de benefícios sociais, fim de dois feriados e cortes generalizados de gastos. A iniciativa mobilizou contra ele todos os blocos políticos.
O presidente Macron é quem tem a prerrogativa constitucional de nomear o primeiro-ministro. No entanto, desde a dissolução da Assembleia Nacional, em 2024, a Câmara encontra-se travada em três blocos de forças. Isso pode levar qualquer novo chefe de governo a enfrentar rapidamente o mesmo destino de Bayrou ou de seu antecessor, Michel Barnier, derrubado após apenas três meses de mandato.
A votação desta tarde é vista como decisiva não apenas para o futuro imediato de Bayrou, mas também para o equilíbrio de forças na política francesa.

François Bayrou poderá cair nesta segunda-feira (08/09) após 9 meses de mandato
Flickr / Jacques Paquier
O que dizem os partidos
Macron sinalizou ser contra uma nova dissolução, mas a pressão aumenta. A esquerda denunciou o plano de austeridade como um programa “injusto e punitivo”, a extrema direita acusou o governo de submeter a França ao papel de “doente da Europa” e parte da direita tradicional, que sustentava Bayrou até aqui, anunciou que não daria mais apoio.
Socialistas e ecologistas afirmam que o presidente precisa reconhecer que, embora não haja maioria, o bloco progressista é o maior dentro da Assembleia e deve liderar o governo. Marine Tondelier, dirigente do Partido Verde, declarou à BFM TV que “Macron não pode ir contra os resultados das urnas uma terceira vez. A única saída é um primeiro-ministro de esquerda.”
Uma das vozes da direita moderada, Bruno Retailleau, ministro do Interior e dirigente dos Republicanos, descartou qualquer hipótese de ceder espaço à esquerda: “não aceitaremos um primeiro-ministro socialista.” Seu partido, que até então ajudava a sustentar Bayrou, passou a ver os cortes orçamentários como politicamente insustentáveis e preferiu se distanciar do governo.
Marine Le Pen, líder da extrema direita Reunião Nacional (RN) disse que a crise “foi provocada e alimentada por Emmanuel Macron e todos os que o serviram. Hoje, por causa deles, a França é o homem doente da Europa.” Mesmo sob condenação por desvio de fundos e proibida de concorrer por cinco anos, Le Pen pressiona por novas eleições e aposta no crescimento do RN em caso de dissolução da Assembleia.
Cenários possíveis
Segundo analistas ouvidos por The Guardian, Macron poderia indicar um primeiro-ministro progressista, o que daria legitimidade política diante da maior bancada no Parlamento, mas isso não resolveria a falta de maioria absoluta, deixando o novo governo vulnerável a outro voto de desconfiança.
O presidente também poderia convocar eleições legislativas antecipadas, contudo, isso poderia aumentar os riscos de um avanço ainda maior da extrema direita de Le Pen, que poderia sair com uma maioria absoluta, reduzindo drasticamente o espaço do centro.
Outra possibilidade é indicar outro aliado de perfil moderado, mas as experiências de Barnier e Bayrou, apontam os especialistas, mostram que sem uma articulação mais ampla, o governo poderia cair novamente em poucos meses.























