Postura de Lula na ONU foi decisiva para afago de Trump, avalia especialista
Presidente dos EUA ‘atua como brigão de escola, que respeita se você mostrar força’, afirma professor de Relações Internacionais Bruno Lima Rocha
O discurso realizado pelo presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva nesta terça-feira (23/09), na abertura da 80ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), incluindo suas críticas aos Estados Unidos, pode ter sido decisivo para um possível encontro entre o mandatário brasileiro e seu homólogo norte-americano, Donald Trump.
Segundo o cientista político e professor de Relações Internacionais Bruno Lima Rocha, “Trump muitas vezes atua como um desses brigões de escola, que faz bullying nos garotos que considera mais fracos, como vimos no caso do Zelensky este ano, mas se você peita o brigão e mostra que não é tão fraco, que é mais altivo, ele recua, e foi isso que o Lula fez no discurso de hoje”.
O especialista enfatizou que “embora o Trump não seja um interlocutor confiável, que tem a credibilidade de um apostador em um cassino, essa a empatia gerada por Lula no discurso de hoje abre caminho para uma reunião que seja arquitetada sob condições mais sérias, sem as velhas bravatas da extrema direita”.
“Além disso, o Itamaraty é muito profissional e capaz de gestar uma reunião a partir de protocolos seguros, sabendo que há esse interesse por parte dos Estados Unidos”, analisou Lima Rocha.
Para o analista internacional, “o principal momento do discurso foi quando Lula defendeu o sistema internacional e o multilateralismo”.
“Ele enfatizou um tema essencial, que o mundo precisa de democracias fortes, e que as democracias não se sustentam sem uma política de distribuição de renda capaz de diminuir as desigualdades. Isso foi crucial para gerar uma empatia que deve marcar esta assembleia”, acrescentou o analista internacional.
De acordo com Lima Rocha, “Lula entendeu o que estava em jogo no dia de hoje, e seu discurso foi um contraste perfeito ao que foi dito em seguida pelo presidente dos Estados Unidos, que atacou o multilateralismo, disse que a ONU gasta demais, que deveria acabar, em uma fala que choca com os interesses da maioria dos representantes ali presentes”.

Discurso de Lula abriu a 80ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York
Ricardo Stuckert / Presidência da República
Transformar em ações
Por sua vez, o jurista e analista político Hugo Albuquerque afirmou que Lula fez um discurso “corajoso e sofisticado, mas precisará se transformar em atos, em um momento em que o perigo de uma conflagração mundial é extremo, com o estouro de várias guerras regionais de intensidades variadas”.
“O governo atual, muito mais moderado que os dois mandatos anteriores de Lula, busca se aliar às frentes entre socialistas e liberais contra a extrema direita ao estilo do mundo rico, enquanto defende a linha mais geral das aspirações do mundo pobre e em desenvolvimento”, comentou Albuquerque, que também é um dos coordenadores da editora Autonomia Literária.
O especialista destacou a defesa do multilateralismo e da democracia como os pontos fortes da fala de Lula. “Exatamente o oposto de que foi dito por Trump em seu discurso”, ressaltou.
“Mesmo que Donald Trump tenha tido a oportunidade de falar depois de Lula, isso só mostrou a enorme diferença entre os dois líderes e a vulgaridade imperial do atual líder norte-americano”, concluiu Albuquerque.























