Portugal reabre processo de visto de brasileira após reportagem de Opera Mundi
Lilian Kopke esperava legalização do seu status no país desde janeiro deste ano: ‘espero que isso possa ajudar outras pessoas na mesma situação’
A professora e pianista brasileira Lilian Kopke, que reside em Portugal há 38 anos, foi contactada por email pela Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) para renovar seus documentos.
A paulistana reside no país desde 1987 e estava com a autorização de residência vencida desde 15 de janeiro de 2025. Ela iniciou os trâmites para a atualização dos vistos dentro do prazo legal estipulado, mas sua solicitação só foi atendida após a repercussão da reportagem publicada por Opera Mundi em 29 de outubro, que revelou sua história.
Segundo a pianista, a mensagem da AIMA chegou a ela no último domingo (09/11). No dia seguinte, foram iniciados os procedimentos requeridos pela entidade para a renovação do seu visto no país europeu.
Na reportagem publicada há duas semanas, Kopke relatou que, devido aos problemas acumulados após mais de nove meses tentando renovar o seu visto, ela tinha decidido preparar sua “autodeportação” para o Brasil, temendo que a demora para tramitar os documentos fosse um indício de que as autoridades portuguesas negariam a residência e como forma de se antecipar a uma possível deportação de fato.
Procurada novamente pela reportagem de Opera Mundi, Kopke agradeceu pela divulgação do seu caso e disse esperar que outras pessoas em situação similar à sua possam regularizar sua situação.
“Além de possibilitar um avanço na regularização da minha situação, é possível ver através dos comentários nas redes sociais que há várias pessoas que se encontram na mesma situação, e espero que a exposição deste caso possa ajudar a todas elas”, disse a brasileira residente em Lisboa, em mensagem de agradecimento à jornalista Stefani Costa.
Relembre o caso
Vivendo em Portugal há 38 anos, período em que chegou a ocupar o cargo de diretora da Escola Artística de Música do Conservatório Nacional, a pianista tentava, desde o início deste ano, agendar a regularização de sua situação migratória.

Lilian Kopke vive em Portugal desde 1987 e é mãe de dois filhos portugueses
Arquivo pessoal
Semanas atrás, ao receber a resposta de que seus dados não constavam no cadastro, resolveu expor o caso à imprensa. “Todas as vezes que esperei os problemas resolverem-se sozinhos, me dei mal”, desabafou.
Lilian também ressaltou sua luta durante quase quatro décadas em Portugal, afirmando que estava decidida a deixar o país onde estudou e se tornou professora. “Sempre lutei pela minha família, pela minha escola, pelos meus alunos e não deixaria de fazer o mesmo para defender os meus direitos”, acrescentou, destacando ainda que “a chamada de atenção pode ajudar mais pessoas”.
Sua chegada, em 1987, foi marcada por obstáculos semelhantes aos que os imigrantes enfrentam hoje com a AIMA. O primeiro visto de estudante, pedido com um ano de antecedência no Consulado de São Paulo, não saiu a tempo. “Eu vim mesmo só com o passaporte, sem visto”, recordou.
Ao tentar regularizar-se, deparou-se com exigências que a fizeram recomeçar todo o processo mais de uma vez. “Só consegui ficar totalmente regular depois de dois anos e meio. O que me causa espanto é que essa situação é a mesma que muitos de nós vivemos agora”, frisou.
Kopke também contou que poderia ter solicitado a nacionalidade portuguesa, mas, durante décadas, achou que seria desnecessário fazê-lo, entre outras coisas, por causa do Tratado de Porto Seguro, assinado no ano 2000, que dava aos brasileiros que vivem em Portugal os direitos estabelecidos no Estatuto de Igualdade, que garante a cidadãos de ambos os países os mesmos direitos e deveres quando residem no território do outro, incluindo o acesso a trabalho, educação, saúde e também o direito de pedir o Cartão de Cidadão português.
A pianista também recordou do doloroso processo que seu filho, um atleta de alto rendimento, teve que enfrentar ao ser convocado para representar Portugal em uma competição. Apesar de ter nascido e crescido no país, ele era legalmente brasileiro, já que na época a nacionalidade não era atribuída de forma automática a quem nascia em território português. “Lembro que ele chorava e dizia ser português, repetindo que nunca havia morado no Brasil e que era daqui”, recorda a mãe.
Foi este conflito de identidade que a obrigou a tratar da nacionalidade dos filhos, enquanto adiava o seu próprio processo. “Cansei de ouvir que os brasileiros vêm para cá apenas para obter cidadania, além de insultos como ‘volta para a sua terra’, etc. Nunca pedi a nacionalidade. Eu só queria viver em paz, usufruindo dos direitos que o estatuto me garante. Sou brasileira e pronto”.























