Por uma ponte mais estável entre América Latina e EUA
Por uma ponte mais estável entre América Latina e EUA
A mudança está chegando à política latino-americana dos Estados Unidos. O presidente Barack Obama acaba de incorporar ao seu gabinete mais um antigo conselheiro de Bill Clinton (1993-2001), o acadêmico Arturo Valenzuela, nomeado secretário de Estado Adjunto para a América Latina, e conhecido por suas opiniões de abertura à região.
Valenzuela, de 67 anos e filho de pais chilenos, é conhecido em ambientes diplomáticos como um exemplo de equilíbrio e moderação. Também como defensor de um diálogo regional e possuidor de uma ampla lista de contatos, pelo que se apresenta como boa aposta para levar adiante a agenda latino-americana de Obama.
No mês passado, na Cúpula das Américas, o presidente levou a outro nível as relações com os seus pares no continente, defendendo um “novo começo” incluindo Cuba, e propondo uma colaboração permanente que “acabe com anos de silêncios e desentendimentos”.
Valenzuela, que foi sub-secretário de Estado para a América Latina durante o primeiro mandato de Bill Clinton e diretor de assuntos regionais no Conselho Nacional de Segurança no segundo, foi o principal arquiteto da política mexicana do ex-presidente democrata.
Ainda antes de tomar posse em janeiro, Obama deixou claro que as relações com o seu vizinho do sul seriam uma prioridade de sua administração.
Segundo Michael Shifter, vice-presidente do centro de estudos Diálogo Interamericano, Valenzuela tem um vasto conhecimento da América Latina e um visão construtiva que o levou, inclusive, a defender sempre “um diálogo e uma abertura em relação a Cuba”.
Nos últimos anos, Valenzuela foi um participante ativo nas reuniões e congressos acadêmicos sobre a América Latina, onde nunca perdeu uma oportunidade de criticar George W. Bush (2001-2009) por ter dado as costas à América Latina.
Numa entrevista recente ao diário conservador chileno El Mercúrio, Valenzuela afirmou que os Estados Unidos “devem escutar ainda mais [a América Latina]”, algo que obrigatoriamente deve ir acompanhado com “propostas” de trabalho comum. “Esta administração tem a obrigação de reconstruir uma relação com a América Latina, distanciada durante muito tempo pela administração Bush”, afirmou Valenzuela, antes de saber que Obama o tinha escolhido para sua administração.
Insulza gostou
A nomeação foi bem recebida pelo secretário geral da OEA (Organização de Estados Americanos), o socialista chileno José Miguel Insulza. “Ele conhece a América Latina de trás para a frente e de frente para trás, com uma visão muito moderna. Vai fazer um bom papel”, afirmou o também ex-ministro do Exterior de seu país.
De estatura baixa, vasta cabeleira branca e gestos parcimoniosos, Valenzuela também é conhecido pela energia com que defende os seus argumentos, um coquetel de opiniões onde a visão acadêmica se confunde com o realismo político. “É um homem de opiniões e não as esconde. Gosta que o ouçam mas também sabe escutar. E está sempre aberto a tudo”, afirmou um de seus colaboradores no Centro de Estudos Latinoamericanos da Universidade de Georgetown, em Washington, do qual é diretor.
“Não há dúvida de que o fato de Obama ter nomeado um acadêmico deu uma volta às relações dos Estados Unidos com a América Latina”, considerou o analista venezuelano Ricardo Guanipa.
Logo que o Senado confirme sua nomeação, Valenzuela vai substituir Thomas Shannon, um veterano diplomático norte-americano nomeado por Bush, conhecido por sua visão conservadora e que nunca conseguiu estabelecer uma relação fluida, nem sequer pessoal, com os diplomatas latino-americanos. Embora conte com a simpatia de setores do Itamaraty.
Na quarta-feira (13), aparentemente cumprindo ordens da secretaria de Estado, Hillary Clinton, Shannon surpreendeu muita gente ao adiantar o novo rumo que a administração pensa dar às relações com a região.
Se referindo a Venezuela, Bolívia e Equador, Shannon afirmou que “esses países mudaram significativa e historicamente, tem novas lideranças, setores novos da sociedade recuperaram a sua voz e todos devemos ter isso em mente. Todo diálogo deve respeitar essas transformações”.
“É uma declaração difícil de assimilar ao vir de uma pessoa como Shannon, que serviu uma política contrária desenhada pela administração anterior, e que assistiu à forma como esses países trataram os diplomatas norte-americanos”, afirmou Guanipa, quem pensa que se Shannon “vai embora, deveria ter ficado calado”.
Outra visão
A declaração de Shannon coincidiu com o anúncio da Casa Branca da nomeação de Valenzuela.
Para o analista venezuelano, o novo secretário de Estado adjunto, “tem uma visão totalmente diferente” do conservadorismo defendido por Shannon, pelo qual é de esperar uma mudança radical na política regional.
“Acho que devemos esperar dele um primeiro diagnóstico da situação política latino-americana, incluindo Cuba, se bem que penso que não se deve usar a palavra radicalismo para caracterizar toda mudança nessa política”, acrescentou Guanipa.
Para a presidente chilena, Michelle Bachelet, Valenzuela não só está qualificado para o cargo como “é um profundo conhecedor da evolução político-cultural da América Latina”.
Valenzuela possui um mestrado em Ciências Políticas outorgado pela Universidade de Columbia e licenciou-se em Ciências Políticas e Religião pela Universidade de Drew. Nasceu no Chile, mas se estabeleceu nos Estados Unidos aos 16 anos quando veio estudar. Toda sua carreira está dedicada a temas latino-americanos.
Mas Valenzuela também é um forte apoiador do partido democrata. Segundo dados oficiais e públicos, no último ciclo eleitoral o agora secretário de Estado Adjunto contribuiu com 4,3 mil dólares para a campanha de Obama; 2,3 mil para a de Hillary Clinton; 1,5 mil ao Comitê Nacional Democrata e 250 dólares à campanha de Joe Garcia, o cubano-americano que se candidatou, sem êxito, à Câmara de Deputados Federal e que desenhou a política para a ilha de Obama. Todas as doações foram as máximas permitidas pela lei.
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