Petro propõe força-tarefa da ONU para deter genocídio palestino

Na 80ª Sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, propôs uma força-tarefa da ONU para deter o genocídio palestino e fez contundentes críticas aos Estados Unidos, levando os representantes da Casa Branca a deixarem a sessão.

“Trump não só deixa que caiam mísseis contra os jovens no Caribe. Não só encarcera e acorrenta migrantes, mas permite que lancem mísseis contra crianças, jovens, mulheres e idosos em Gaza. Se faz cúmplice do genocídio, porque é genocídio e é preciso gritar isso uma e outra vez”, declarou.

“A ONU deve começar sua mudança interrompendo o genocídio em Gaza com a efetividade de um exército da salvação do mundo”, afirmou o presidente da Colômbia, ao propor uma força armada em defesa do povo palestino. “Unidos pela Palestina, devemos estabelecer uma força de manutenção da paz para proteger o que é necessário”, apontou.

“O que precisamos é de um exército poderoso de países que não aceitem o genocídio. É por isso que convido as nações do mundo e seus povos principalmente como parte da humanidade a unir exércitos e armas. A Palestina deve ser libertada. Convido os exércitos da Ásia, dos povos eslavos que derrotaram com tanto heroísmo a Hitler, aos exércitos latino-americanos de Bolívar, de Garibaldi, que também tinha um na Itália, de Martí, de Artigas, de Santa Cruz”, afirmou.

“Palavras são supérfluas. É a hora da espada da liberdade ou morte de Bolívar porque eles não vão apenas bombardear a Gaza, não só o Caribe como eles já fazem, mas a humanidade que clama por liberdade porque Washington e a Otan matam a democracia e fazem renascer a tirania e o totalitarismo em nível global. Os Estados Unidos não ensinam mais democracia, mas eles a matam em seus migrantes e sua ganância. Os Estados Unidos ensinam a tirania”, complementou.

Petro também condenou a passividade internacional frente ao massacre: “este recinto é testemunha muda e cúmplice de um genocídio no mundo de hoje, quando acreditávamos que era apenas propriedade de Hitler. Trump não fala de democracia, não fala de crise climática, não fala de vida, só ameaça, mata e deixa matar dezenas de milhares”.

Venezuela

Em seu discurso, Petro desmontou a narrativa norte-americana de combate às drogas, defendendo a abertura de um processo penal contra Donald Trump e os funcionários que autorizaram ataques a lanchas venezuelanas no Caribe. “A política antidrogas não é para deter a cocaína que chega aos Estados Unidos, a política antidrogas é para dominar os povos do sul em geral”, criticou.

Ele ressaltou ainda que as ações de Washington no Caribe violam o direito internacional e não têm relação com o combate real ao tráfico. “Não eram narcotraficantes, eram simples jovens pobres da América Latina que não têm outra opção. Os narcotraficantes vivem em outra parte e não é na América Latina”, frisou.

Em tom incisivo, ele acrescentou: “não sei se Trump sabe que sua política exterior para a Colômbia, Venezuela e Caribe é assessorada por colombianos que são aliados políticos da máfia da cocaína. Eu mesmo denunciei com nome próprio esses políticos do paramilitarismo narcotraficante.”

Petro propõe força-tarefa da ONU para deter genocídio palestino
@infopresidencia / UN

Combate ao narcotráfico

Apesar da “descertificação” de seu governo por Washington, Petro destacou avanços inéditos no combate ao narcotráfico no país. “Em 2023 e 2024 — sob meu mandato — foram os anos em que mais cocaína foi apreendida. A cocaína foi combatida pelo meu governo e não lançamos um só míssil, nem assassinamos nenhum jovem”, disse.

O presidente colombiano também frisou que mais de 700 chefes do narcotráfico foram extraditados para a Europa e os Estados Unidos, desmentindo a justificativa norte-americana dos ataques militares. “Os mísseis no Caribe eram para deter as drogas? É mentira”, cravou.

Petro reforçou que mudou o enfoque repressivo das administrações anteriores, apostando na substituição voluntária dos cultivos de coca. “Tenho mudado a fracassada e violenta guerra contra as drogas com a política anti-narcotráfico, que é diferente. A política antidrogas não é para a saúde pública da sociedade, mas para a política do poder”, denunciou.

Segundo ele, sua gestão reduziu em 40% o crescimento dos cultivos de folha de coca em comparação com o governo de Iván Duque, “a quem nunca retiraram a certificação porque tinha um financiador narcotraficante em sua campanha”.

O presidente alertou ainda que “o fentanil se produz no aparelho industrial dos Estados Unidos” e que “o autoconsumo norte-americano deriva o pior do que se pôde entender de drogas na história da humanidade.” Para Petro, enquanto cartéis fazem acordos com a DEA para traficar em África, Europa, Rússia ou China, o problema real é interno e não latino-americano.

Ele encerrou afirmando que “a América Latina não é só coca, terroristas ou narcotraficantes”, destacando as potencialidades naturais e industriais da região e agradecendo a países como Catar, Cuba, México, Vaticano, Noruega, Brasil e Venezuela pelo apoio aos processos de paz.

“Falo diante de vocês como um ‘presidente descertificado’ pelo próprio presidente Trump”, concluiu, acusando os Estados Unidos de tentar “forçar dezenas de milhares de camponeses” por meio de uma política que, segundo ele, serve para “impedir que a América Latina faça luz e chegue de novo a hora dos povos”.