Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O governo dos Estados Unidos anunciou nesta sexta-feira (24/10) que o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, foi incluído na lista de indivíduos sancionados pela Casa Branca.

A medida foi tomada pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC, na sigla em inglês), ligado ao Departamento do Tesouro, e abarca também a primeira-dama Verónica Alcocer, o filho de presidente, Nicolás Petro, e o ministro do Interior colombiano, Armando Benedetti.

O secretário do Tesouro, Scott Bessent, justificou a medida aludindo a um suposto informe no qual constaria a informação de que “a produção de cocaína na Colômbia disparou para a taxa mais alta em décadas desde a chegada de Petro ao poder (em agosto de 2022), o que inundou os Estados Unidos de drogas e envenenou a nossa população”.

“O presidente Petro permitiu que cartéis de drogas prosperassem e se recusou a interromper essa atividade. Hoje, o presidente (Donald) Trump está tomando medidas enérgicas para proteger nossa nação e deixar claro que não toleraremos o tráfico de drogas em nosso país”, acrescentou a autoridade norte-americana.

“Jamais me ajoelharei”

Poucos minutos após a divulgação das sanções, o presidente colombiano publicou sua primeira mensagem comentando a punição que sofreu por parte do governo dos Estados Unidos.

Em uma postagem divulgada em suas redes sociais, Petro começou mencionando o senador norte-americano Bernie Moreno, do Partido Republicano, um dos mais constantes defensores, dentro do Congresso estadunidense, de que fossem aplicadas sanções contra ele.

“Efetivamente, a ameaça de Bernie Moreno se cumpriu, eu e meus filhos, e também minha esposa, entramos para a lista da OFAC”, disse o mandatário, na introdução de sua mensagem.

Em seguida, ele afirmou que seu advogado nos Estados Unidos será Dany Kovalik e ironizou a justificativa usada por Bessent. “Minha luta contra o narcotráfico durante décadas e com eficácia me traz está medida tomada pelo governo da sociedade que nós tanto ajudamos ao deter seu consumo de cocaína”.

“Isso tudo é um paradoxo, mas não vou dar nenhum passo para trás, e jamais me ajoelharei”, concluiu Petro.

Por sua vez, o ministro do Interior colombiano, Armando Benedetti, disse que foi colocado na lista “por ter defendido a dignidade do país e do presidente Gustavo Petro, que não é um narcotraficante”.

“Isso mostra que todo império é injusto e que sua guerra antidrogas é uma farsa”, acrescentou.

Postura de Petro contra ações dos EUA no Caribe levou Trump a acusá-lo de “líder do tráfico ilegal de drogas”
RS/Fotos Públicas

Petro contra os EUA

A tensão entre Petro e o governo dos Estados Unidos vem escalando há alguns meses, especialmente por duas posturas adotadas pelo mandatário colombiano: sua defesa do reconhecimento do Estado da Palestina e suas críticas aos ataques feitos desde setembro pela Marinha norte-americana contra embarcações no Mar do Caribe.

Em setembro deste ano, durante seu discurso na 80ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, o mandatário colombiano disse que “a política antidrogas não é para deter a cocaína que chega aos Estados Unidos, a política antidrogas é para dominar os povos do sul em geral”.

Nas últimas semanas, em meio aos ataques constantes lançados pelos norte-americanos contra barcos que navegam pelo Mar do Caribe, Petro disse que Washington estaria cometendo “assassinato” e violando a soberania dos países da região.

Essa postura levou Trump a acusá-lo de “líder do tráfico ilegal de drogas” e a fazer sua primeira alusão a uma possível punição, em declaração dada no começo desta semana.

“Ele (Petro) é um bandido, um homem mau e está produzindo muita droga. Eles têm fábricas de cocaína”, alegou Trump, sem apresentar provas para comprovar tais afirmações.

Na ocasião, Petro respondeu dizendo que Trump “não é um rei na Colômbia, aqui nós não aceitamos reis” – o que, ademais, soou como uma alusão de apoio às multitudinárias manifestações contra o presidente estadunidense realizadas em diferentes cidades do país no último domingo (19/10).

EUA enviam porta-aviões para América do Sul

O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, anunciou também nesta sexta-feira (24/10) o envio do porta-aviões USS Gerald Ford para as águas da América do Sul, reforçando a presença militar norte-americana com embarcação, que é descrita pela Marinha dos EUA como “a plataforma de combate mais capaz, adaptável e letal do mundo”.

O anúncio ocorre no mesmo dia em que Hegseth confirmou o décimo ataque contra uma embarcação suspeita de tráfico de drogas. A ação acontece um dia após Washington divulgar exercícios militares conjuntos com Trinidad e Tobago, a poucos quilômetros da costa venezuelana, ampliando a tensão sobre uma eventual ação militar para derrubar o governo de Nicolás Maduro.

Segundo o porta-voz do Pentágono, Sean Parnell, “a presença reforçada das forças americanas na Área de Comando Sul dos Estados Unidos aumentará a capacidade dos EUA de detectar, monitorar e interromper atividades ilícitas que ameacem a segurança e a prosperidade do Hemisfério Ocidental”.

Além do navio, o contratorpedeiro USS Gravely deve chegar neste domingo (26/10) a Porto Espanha, capital de Trinidad e Tobago, onde permanecerá em exercícios até o fim do mês.

Com o envio do USS Gerald Ford e a intensificação das operações navais, cresce o temor de que a “guerra às drogas” de Donald Trump evolua para um confronto direto no hemisfério sul, o que poderia desestabilizar a região e provocar uma grave crise humanitária.

(*) Com Brasil247