Sábado, 6 de dezembro de 2025
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A entrega do Prêmio Nobel da Paz à líder opositora venezuelana María Corina Machado gerou uma reação crítica por parte do presidente da Colômbia, Gustavo Petro.

Através de uma carta aberta publicada neste sábado (11/10), o mandatário enfatizou principalmente a relação da política de extrema direita com o premiê israelense Benjamin Netanyahu, mais especificamente uma carta enviada por ela ao líder sionista em 2020, na qual pede uma intervenção estrangeira contra o governo de Nicolás Maduro na Venezuela.

O pedido mencionado por Petro também foi uma carta aberta, escrita e enviada por María Corina em dezembro de 2018 e endereçada a Netanyahu e ao então presidente da Argentina Mauricio Macri (2015-2019), e pede abertamente aos dois mandatários que “apliquem a força e influência para avançar no desmonte do criminoso regime venezuelano”.

A mensagem escrita por Petro, sete anos depois da carta original, recorda que “o genocídio em Gaza já produziu um saldo de 70 mil mortos, entre eles 20 mil crianças, e 200 mil feridos”, e acrescenta que até mesmo Donald Trump “conseguiu se separar alguns centímetros de Netanyahu”, devido aos crimes cometidos pelo governo israelense.

Em seguida, o presidente pergunta, fazendo referência a Netanyahu: “como um genocida poderia ajudar a fazer a paz na Venezuela?”.

“Você não acha que o povo venezuelano não deveria estar sob ameaça de invasão, mas sim alegre, livre de bloqueios, para desencadear o grande diálogo nacional com todos os venezuelanos, sem exceções?”, acrescentou Petro, em outra indagação.

Após a repercussão da mensagem inicial, Petro publicou uma segunda mensagem dizendo que não defende o governo de Maduro, e que está “apenas perguntando a María Corina Machado se ela consegue se distanciar de Netanyahu e seus amigos nazistas, e se ela é capaz de ajudar a impedir uma invasão ao seu país e promover o diálogo com todos”.

“Nenhum cidadão decente da Venezuela pode desejar uma invasão estrangeira à pátria de Bolívar. Se isso acontecer, toda a América Latina e o Caribe viverão mais cem anos de solidão. A Colômbia apoiará totalmente o diálogo entre os venezuelanos, jamais uma invasão à nossa grande pátria”, completou Petro.

Gustavo Petro publicou carta aberta questionando posicionamentos de María Corina Machado
Presidência da Colômbia

Leia abaixo a íntegra da mensagem de Gustavo Petro a María Corina Machado.

Sra. María Corina Machado, Prêmio Nobel da Paz:

Esta carta que apresento a seguir foi publicada com a sua assinatura e é endereçada a Benjamin Netanyahu e Mauricio Macri. A Macri, agradecendo por acolher parte do seu povo (a maioria dos migrantes venezuelanos foi acolhida na Colômbia, e lhe oferecemos o nosso carinho). No entanto, peço uma explicação, que você não precisa me dar; é um direito seu.

O ex-presidente colombiano Juan Manuel Santos recebeu o mesmo Prêmio Nobel da Paz que você e, apesar das nossas diferenças políticas, acredito que ele o mereceu.

Agora, estou tentando tornar realidade o acordo de paz entre as FARC, o grupo guerrilheiro insurgente colombiano, e o governo Santos, e acredito que, apesar da negação total e da paralisação de sua implementação por parte de um governo anterior, cheguei à metade do seu cumprimento.

É difícil para mim ir ao Conselho de Segurança das Nações Unidas em Nova York para demonstrar seus progressos e deficiências, porque, como você sabe, não sou bem-vindo pelo governo dos Estados Unidos.

A razão pela qual o governo dos Estados Unidos me desaprova é porque critiquei a falta de ação dos dois últimos governos norte-americanos para deter o genocídio em Gaza em tempo hábil, que já resultou em 70 mil mortes, incluindo 20 mil crianças, e 200 mil feridos.

Donald Trump conseguiu se distanciar alguns centímetros de Netanyahu agora, depois que a humanidade fez imensos progressos, inclusive na Colômbia e na Argentina, e isso tornou possível deter, por enquanto, o genocídio já em andamento.

O que eu não entendo, e quero que você me explique, é se você ainda está pedindo ajuda a um criminoso contra a humanidade, com um mandado de prisão internacional, para trazer a democracia à Venezuela.

O que significa você ter procurado apoiar o único presidente latino-americano que apoiou o genocídio e o genocida?

O que significa o povo da Noruega, que entrega este prêmio, incentivar esse tipo de aliança global que só poderia ser de barbárie e guerra, não de paz?

Nestes anos de genocídio contra os quais lutei, vi que os grupos políticos de extrema direita do mundo, aqueles em sintonia com Hitler, se tornaram os únicos aliados do genocídio e de Netanyahu.

Como um genocida poderia ajudar a fazer a paz na Venezuela?

Mesmo sob a desculpa do tráfico de cocaína, que, segundo todas as investigações internacionais sobre o mercado de drogas, passa apenas marginalmente por seu país e ainda não é produzida lá, eles usaram dados falsos sobre drogas, que ocultam a produção e o consumo de fentanil, para invadir militarmente o Caribe. Lançaram os mesmos mísseis que caíram sobre Gaza, mas agora mirando barcos com caribenhos dentro, talvez gananciosos, mas pobres, que assassinaram sem perguntar seus nomes ou o que transportavam. Entre os assassinados no Caribe estão vários venezuelanos e colombianos. Eu perguntaria se não seria melhor apoiar um acordo abrangente com o Caribe para interromper definitivamente o trânsito de drogas ilegais pelo Caribe, no marco do direito internacional, que proíbe o uso desproporcional da força, e garantindo a soberania nacional dos países da grande pátria de Bolívar e Martí, a pátria da grande cultura garifuna, composta por africanos que preferiram se lançar ao mar dos navios espanhóis, franceses e ingleses que os trouxeram à força para escravizá-los? Milhares e milhares se afogaram, mas se libertaram no mar.

Não seria melhor um Caribe pacífico, sem assassinatos e com uma forte política antidrogas e sem abuso de poder?

Você não acha que o povo venezuelano não deveria estar sob ameaça de invasão, mas sim alegre, livre de bloqueios, para desencadear o grande diálogo nacional com todos os venezuelanos, sem exceções?